Reação dos pregões à decisão de Fachin reafirma rejeição do mercado a Lula

José Paulo Kupfer

Jornalista profissional desde 1967, foi repórter, redator e exerceu cargos de chefia, ao longo de uma carreira de mais de 50 anos, nas principais publicações de São Paulo e Rio de Janeiro. Eleito “Jornalista Econômico de 2015” pelo Conselho Regional de Economia de São Paulo/Ordem dos Economistas do Brasil, é graduado em economia pela FEA-USP e integra o Grupo de Conjuntura da Fipe-USP. É colunista de economia desde 1999, com passagens pelos jornais Gazeta Mercantil, Estado de S. Paulo e O Globo e sites NoMinimo, iG e Poder 360.

08/03/2021 18h43

Às 15h30 desta segunda-feira (8), o ministro Edson Fachin, do Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, passava dos 114 mil pontos. Em menos de meia hora, recuou 2,6%, para 111 mil pontos. No fechamento, a perda do dia chegava quase a 4%, com o Ibovespa a 110 mil pontos.

No mercado cambial, não foi diferente. Na primeira meia depois do anúncio da decisão de Fachin, a cotação do dólar avançou 1%, de R$ 5,72 para R$ 5,78. Num dia de oscilações, a moeda americana avançou 1,66% às 17hs, cotada a R$ 5,77, depois de subir até R$ 5,78, entre meio e fim da tarde.

Não houve alteração no quadro da economia, seja no plano interno, seja no internacional, do meio até o fim da tarde, que justificasse a derrubada do mercado acionário e a escalada do mercado cambial. Era simplesmente o “mercado” reagindo à possibilidade de Lula se apresentar como candidato às eleições presidenciais de 2022.

É uma história que se repete, no caso atual, talvez de forma afoita. Para começar, não é certo que Lula permaneça juridicamente livre para se candidatar em 2022. A PGR (Procuradoria Geral da República), por exemplo, pretende recorrer da decisão de Fachin. Também em 2002, a Bolsa derreteu e a cotação do dólar foi às nuvens quando ficou mais claro que Lula poderia vencer o pleito então.

Pode-se alegar que, se nada, com base nos fundamentos econômicos, justificava as oscilações acentuadas ocorridas, as expectativas, elemento também chave na formação das cotações, haviam sofrido um forte impacto. Isso é verdade, mas também é verdade que muita água ainda vai rolar até que a cédula eleitoral esteja formada.

Desdobramentos da decisão de Fachin podem beneficiar o presidente Jair Bolsonaro, presumível antagonista de Lula numa eventual disputa eleitoral. O apoio do mercado financeiro ao governo vinha apresentando fissuras cada vez mais evidentes, com o desenrolar da desastrosa administração da pandemia da covid-19 por Bolsonaro. Agora, o espectro de uma volta de Lula pode reatar laços que estavam esgarçando. A derrubada dos ativos nesta segunda-feira, e as previsíveis instabilidades nos pregões, para os próximos dias, podem ser interpretadas como um ensaio desse movimento.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Fonte: https://economia.uol.com.br/colunas/jose-paulo-kupfer/2021/03/08/reacao-dos-pregoes-a-decisao-de-fachin-reafirma-rejeicao-do-mercado-a-lula.htm

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