Decisão de Fachin irrita Bolsonaro, mas auxiliares minimizam força de Lula

Carla Araújo

Jornalista formada em 2003 pela FIAM, com pós-graduação na Fundação Cásper Líbero e MBA em finanças, começou a carreira repórter de agronegócio e colaborou com revistas segmentadas. Na Agência Estado/Broadcast foi repórter de tempo real por dez anos em São Paulo e também em Brasília, desde 2015. Foi pelo grupo Estado que cobriu o impeachment da presidente Dilma Rousseff. No Valor Econômico, acompanhou como setorista do Palácio do Planalto o fim do governo Michel Temer e a chegada de Jair Bolsonaro à Presidência.

Do UOL, em Brasília

08/03/2021 17h01Atualizada em 08/03/2021 19h57

Assim que a decisão do ministro Edson Fachin de anular as condenações do ex-presidente Lula na Lava Jato foi divulgada, nesta segunda-feira (8), o assunto dominou as conversas em Brasília.

Em uma semana que começava com o foco na comercialização de vacinas e também na retomada do disse que o ministro Fachin “sempre teve uma forte ligação com o PT”.

“Qualquer decisão dos 11 ministros é possível prever o que eles pensam e botam no papel. Fachin tinha uma forte ligação com o PT, então não nos estranha uma decisão nesse sentido. Obviamente é uma decisão monocrática, mas obviamente precisa passar pela turma ou pelo plenário para que tenha a devida eficácia”, disse o presidente.

Segundo auxiliares do presidente, a primeira ordem dada no Planalto foi evitar comentários a respeito. Internamente, muitos destacavam que a decisão de Fachin era aguardada e que o Supremo já vinha dando sinais de uma possível derrota ao juiz Sérgio Moro. Apesar disso, todos destacaram que a decisão final será do Plenário do STF.

Bolsonaro disse que “todo mundo foi surpreendido” com a decisão. “Afinal de contas as bandalheiras que esse governo fez estão claras perante toda sociedade. Você pode até supor, a questão do sítio, a questão do apartamento, mas você tem coisa no BNDES que o desvio chegou na casa do meio trilhão de reais com obras fora do Brasil”, afirmou.

De acordo com um ministro, o futuro de Lula e a possibilidade de um enfrentamento com Bolsonaro, no entanto, não deve ser foco de atenção neste momento. “Nós precisamos nos preocupar com as vacinas e com a economia”, disse.

Mercado virou parâmetro?

Com Bolsonaro em crise com o mercado financeiro depois do episódio de mudanças no comando da Petrobras, ministros observaram o fato de que a notícia de Lula voltar a ser elegível também derrubou a Bolsa de Valores.

O próprio presidente, na entrevista feita pela CNN, disse que a decisão tinha mexido com o mercado. “Você pode ver, a bolsa já foi lá para baixo e o dólar lá em cima. Agora espero que a turma do STF reestabeleça o julgado”, disse.

Cenário 2022

Alguns auxiliares que despacham no Palácio do Planalto afirmaram que Lula ainda possui uma rejeição alta e que isso pode ser positivo para o presidente. Com a volta do petista ao jogo, um segundo turno entre Lula e Bolsonaro passa a ser o cenário mais provável. A diferença agora é que Bolsonaro tem – até o momento – o apoio do chamado Centrão. E Lula terá que refazer as pontes com a oposição.

Alguns generais ouvidos pela coluna, que também despacham no Planalto, minimizaram a mudança no xadrez político. Segundo um militar de alta patente, a volta de Lula mexe com o jogo “mas não altera os dados de hoje”. A orientação dada pela ala militar é acompanhar e “verificar a verdadeira dimensão dos fatos”.

Pesquisa divulgada neste final de semana pelo jornal O Estado de S.Paulo mostra que, de dez possíveis candidatos nas eleições presidenciais de 2022, apenas o ex-presidente Lula demonstra ter mais capital político que o atual ocupante do Palácio do Planalto.

No levantamento, feito pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), novo instituto de pesquisas da estatística Márcia Cavallari (ex-Ibope), 50% dos entrevistados disseram que votariam com certeza ou poderiam votar em Lula se ele se candidatasse novamente à Presidência, e 44% afirmaram que não o escolheriam de jeito nenhum. Bolsonaro aparece com 12 pontos porcentuais a menos no potencial de voto (38%), e 12 a mais na rejeição (56%).

Fonte: https://economia.uol.com.br/colunas/carla-araujo/2021/03/08/no-planalto-alem-do-silencio-e-irritacao-forca-de-lula-e-minimizada.htm