Cuca encontra espaço para um Hulk em franco crescimento no Galo

Rodrigo Coutinho

Rodrigo Coutinho é jornalista e analista de desempenho. Acredita que é possível abordar o futebol de forma aprofundada e com linguagem acessível a todos.

Colunista do UOL

10/05/2021 09h36

Depois da tempestade, a calmaria em forma de solução. É desta forma que o Atlético Mineiro passa a sensação de superar o pequeno entrevero público envolvendo o técnico Cuca e o atacante Hulk há duas semanas. Desde então o camisa 7 vem sendo escalado no centro do ataque e muita coisa começou a fluir no Galo.

Não que o posicionamento seja exatamente uma novidade para Hulk. Ele chegou a atuar assim em momentos esporádicos da carreira, mas jamais de forma sequencial, como parece que vai acontecer no alvinegro nesta temporada. Aberto pela direita e precisando lidar com uma demanda que não parece suportar neste momento, não vinha rendendo.

A troca de farpas entre técnico e jogador não se deu necessariamente pela escolha da função desempenhada em campo, mas estava indiretamente ligada a isso, já que Cuca não dava os minutos que Hulk julgava merecer, e justificava, corretamente, ao pedir um desempenho melhor do atleta. Algo que mudou com a mexida tática.

Assim que o ex-jogador da Seleção foi contratado, abordei aqui no blog como ele poderia ser mais útil ao Atlético: acrescentando gols e melhores finalizações. Nada mais justo que aproximá-lo ainda mais da meta rival. O efeito positivo não demorou a aparecer. Hulk fez 12 jogos desde que estreou pelo Galo, oito como titular, e marcou cinco de seus seis tentos na nova função. São quatro partidas atuando assim.

Hulk não é exatamente um centroavante. Por mais que se coloque na área e gere presença lá nas jogadas de linha de fundo, sai da referência para trabalhar na intermediária, tenta atrair a atenção de um dos zagueiros ou da linha defensiva rival para si, e desta forma liberar espaço de infiltração para pontas, meias e volantes, ou até mesmo laterais. Guga e Arana têm tido essa liberdade.

Como em tudo no futebol, é necessário avaliar o contexto geral. Com Sampaoli, o Galo obedecia a uma estrutura mais posicional, com os atletas se mexendo em regiões específicas do campo, sem tantas trocas de posição. Cuca prega um outro estilo, gosta das flutuações dos pontas dos lados para o meio, por exemplo, atacando a área muitas vezes, não por acaso o espaço que Hulk acaba gerando nas costas da defesa rival com seu movimento de atração mostrado acima.

Quando os pontas ficam mais abertos, os laterais acabam infiltrando por dentro e atacando tal espaço. Nacho, Tchê Tchê, ou quem quer que esteja atuando no meio-campo, também fazem esse movimento. Logicamente ainda falta uma coordenação maior nisso. Ensaiar o tempo certo para causar o ”efeito surpresa” necessário nas retaguardas rivais é necessário. Por hora o Galo tem volume e agressividade, pontos que permearam vários dos trabalhos de Cuca.

Hulk não é exatamente um ”atacante cerebral”. Daqueles que servem os companheiros com frequência e maestria em assistências, mas se impõe com a hierarquia de quase 50 jogos com a camisa da Seleção e a carreira de sucesso no futebol europeu. No Brasil, pode fazer a diferença.

Um outro efeito colateral positivo foi a volta de Savarino ao time titular. Mesmo ainda se adaptando o estilo de Cuca, o venezuelano deu mostras que segue como um dos pontas mais ”desequilibrantes” do futebol brasileiro. Tem o drible, a velocidade, a intensidade e a consciência tática que se casam bem ao estilo do treinador.

Se Hulk será de fato o ”9” do Atlético durante toda a temporada é impossível saber, mas o momento é de aposta nisso. Com a atual média de gols na função, disputaria a artilharia de todos os campeonatos de 2021 e faria o Galo mais letal, algo que faltou em 2020.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Fonte: https://www.uol.com.br/esporte/colunas/rodrigo-coutinho/2021/05/10/cuca-encontra-espaco-para-um-hulk-em-franco-crescimento-no-galo.htm