-
Brasileiro usa robô como amigo de trabalho: ‘Tamagotchi com inteligência’ - 14/04/2024
-
Regras da CNH provisória: limite de pontos, como trocar e uso no app - 14/04/2024
-
Confira quais são os 10 carros que ainda serão lançados em 2024 - 14/04/2024
-
Diferentes verões e diferentes carros - 14/04/2024
-
Qual celular escolher: Galaxy S23 Ultra ou S24 Ultra? - 20/03/2024
-
Qual notebook escolher: básico, para estudar, gamer, 2 em 1 ou topo de linha? - 20/03/2024
-
Sem hélices e silenciosas: novas turbinas eólicas são ‘amigas’ das aves - 20/03/2024
-
Galaxy Fit3: por menos de R$ 500, pulseira da Samsung é quase um smartwatch - 20/03/2024
-
Otimismo marcou balanço da indústria automotiva em fevereiro - 20/03/2024
-
Montadoras chinesas com pé fincado no Brasil - 20/03/2024
Projeto da USP usa WhatsApp contra discurso antivacina
Tem cara de corrente de WhatsApp – e é para funcionar assim mesmo. A mensagem chega cheia de emojis, traz um título provocativo e apresenta um arquivo de áudio. “Será que as vacinas da covid-19 irão alterar nosso DNA?”, diz a chamada de uma delas. “Será que as vacinas causam autismo?”, pergunta outra.
O disparo de dois áudios por semana foi a maneira que a iniciativa União Pró-Vacina encontrou para responder às fake news antivacinação disseminadas principalmente por meio do aplicativo de mensagens instantâneas. O projeto, criado pelo polo de Ribeirão Preto do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP), já congrega outras oito entidades e soma esforços de professores, pesquisadores, funcionários e alunos universitários.
De acordo com o estudante de farmácia Wasim Syed, um dos participantes da iniciativa, a opção pelos áudios de WhatsApp foi a tática encontrada para “furar a bolha acadêmica, romper a bolha dos que já sabem da importância da vacinação”. “Queremos chegar até aqueles que têm dúvidas”, comenta ele.
Conforme conta o analista de comunicação João Rafael, assistente de coordenação do IEA/USP, os áudios são pensados com o objetivo de combater e desmistificar os conteúdos falsos recebidos – e que são devidamente analisados e monitorados pelo projeto.
“Procuramos selecionar aqueles que mais viralizaram e criamos respostas verdadeiras, porém com uma linguagem mais acessível, evitando jargões e procurando trazer exemplos e comparações”, explica.
Queda da vacinação
A União Pró-Vacina foi criada em outubro de 2019. Os fundadores estavam preocupados com a queda gradual, ano a ano, da cobertura vacinal no Brasil. Na mesma época, a Sociedade Brasileira de Imunizações divulgou uma pesquisa indicando que 67% dos brasileiros acreditavam em pelo menos uma informação falsa a respeito do funcionamento ou da eficácia das vacinas.
O projeto passou a atuar em duas frentes. De um lado a produção de conteúdo sobre o tema para disseminação em plataformas digitais; de outro, o monitoramento de discursos que divulgam conteúdo antivacina. Quando veio a pandemia, contudo, a prioridade se tornou rebater teorias da conspiração atreladas ao desenvolvimento do imunizante anti-covid.
E então os integrantes do projeto perceberam que não iriam conseguir responder à altura se ficassem publicando informação científica de modo tradicional. E que não bastaria estar presente nas Facebook, Twitter e Instagram. Era preciso conquistar o WhatsApp.
“A maioria das fake news circula em grupos de WhatsApp”, comenta Syed. “Sabemos que a influência é grande no Brasil, a ponto de alterar a opinião pública e influenciar como as pessoas respondem à pandemia.”
“Como nada viraliza tanto quanto um áudio de WhatsApp, decidimos analisar a estrutura do discurso e produzir conteúdo no mesmo formato. Tudo para conseguirmos persuadir pessoas com informação correta, e não com discurso conspiracionista”, completa o estudante. “Estamos tentando usar a mesma arma do inimigo, mas com muita responsabilidade.”
Responsabilidade social
Para o biofísico Antonio da Costa Filho, professor da USP de Ribeirão Preto e coordenador do polo ribeirão-pretense do IEA, “o WhatsApp é o caminho” porque a ferramenta se tornou o mais popular meio de comunicação do Brasil atual.
“Esse tipo de projeto envolve várias áreas do conhecimento e implica oferecer um serviço de informação comprometido em um momento delicado de negacionismo científico, de contestação de evidências, cloroquinas da vida e um comportamento que não condiz com aquilo que seria necessário para combater uma pandemia de forma eficiente”, afirma.
Vice-coordenadora do polo do IEA e diretora do centro colaborador brasileiro da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, a professora Carla Arena Ventura avalia que o estado pandêmico torna urgente a “implementação de meios assertivos e claros de disseminação de informações baseadas em evidências científicas”.
Ela ressalta que, diante do fato de que “dependemos da vacinação para garantir a proteção coletiva da população brasileira contra a covid-19”, a ideia de usar mensagens de áudio para propagar informações verdadeiras demonstra a “responsabilidade social” da universidade.
O poder das fake news
Na análise das fake news propagadas, os integrantes da iniciativa não só aprendem o estilo que pode funcionar para fisgar o público como se debruçam sobre o fato de que as inverdades parecem ter muito mais apelo.
“Mentiras, fofocas e rumores se disseminam muito mais rapidamente, porque a informação correta muitas vezes é o que as pessoas não querem ouvir”, acredita Syed. “Fake news é aquilo que as pessoas querem ouvir, querem acreditar. Servem de muleta para as pessoas se apoiarem.”
O analista Rafael pontua também que as artimanhas das fake news incluem apelo às emoções, sensacionalismo e, não raras vezes, ataques e insinuações enganosas. “Esses elementos causam reações extremas nos usuários da rede, gerando mais interações e, consequentemente, melhor desempenho perante os algoritmos das plataformas digitais”, argumenta.
Fonte: https://www.uol.com.br/tilt/ultimas-noticias/deutschewelle/2021/01/08/projeto-da-usp-usa-whatsapp-contra-discurso-antivacina.htm