Como o seu patrimônio te ajuda (ou não) a ter cada vez mais patrimônio?

Valter Police

Planejador Financeiro CFP(R), é o Head da Academia Fiduc, além de administrador de carteiras registrado na CVM.

08/02/2021 04h00

Acumular patrimônio é bom —na verdade é ótimo!—, mas na maior parte dos casos apenas o ato de acumular por seu próprio esforço não é suficiente para te levar ao padrão de vida e liberdade que você deseja.

Para que isso aconteça, além dos seus próprios esforços em acumular patrimônio com o sacrifício mensal de gastar menos do que ganha, o seu patrimônio acumulado também precisa te ajudar a acumular, crescendo organicamente em um ritmo adequado. Infelizmente, a maior parte das pessoas não sabe disso, não percebe isso ou não sabe o que fazer sobre isso.

Para te ajudar a saber como está a sua distribuição patrimonial e, mais do que isso, poder acompanhar a evolução dessa distribuição, vou te apresentar dois indicadores muito interessantes e fáceis de calcular: o Índice de Riqueza Relativa (IRR) e o Índice de Valorização de Ativos (IVA). Antes disso, no entanto, vale a pena conhecer os três fatores que mais costumam atrapalhar o crescimento orgânico do patrimônio.

1) Excesso de patrimônio de uso: muitas pessoas concentram seu patrimônio no imóvel em que residem, nos veículos que utilizam ou mesmo em imóveis de veraneio. Os imóveis, quando utilizados para o próprio uso, têm uma valorização minúscula, na média praticamente acompanhando a inflação (sem contar a manutenção), enquanto os veículos tendem a se desvalorizar ao longo do tempo, o que compromete o crescimento adequado do patrimônio.

2) Uso excessivo de financiamentos: o uso de crédito gera o pagamento de juros, o que reduz o patrimônio ao invés de aumentá-lo. Mesmo nos casos de financiamento imobiliário, no qual as taxas são, em geral, mais baixas do que os demais tipos de empréstimos, elas ainda são bastante representativas, diferentemente do que ocorre em países mais desenvolvidos.

3) Investimentos com baixo retorno: o brasileiro se habituou com dois tipos de investimento cujos retornos tendem a ser baixos, quando observamos prazos mais longos. São eles: a renda fixa tradicional, como a caderneta de poupança e os CDBs atrelados ao CDI, e o investimento em imóveis. A renda fixa já foi sinônimo de bons rendimentos com segurança e previsibilidade, mas essa época já passou. Com o nível dos juros atuais no país, esses instrumentos servem apenas para a reserva de liquidez, na qual a rentabilidade é uma questão secundária, mas não com vistas ao longo prazo e ao crescimento do patrimônio. Quanto aos imóveis, também bastante tradicionais, as valorizações históricas se mostram baixas, em linha com o que acontece na maior parte do mundo, enquanto apresentam baixíssima liquidez e elevada volatilidade. Caso o patrimônio tenha grandes participações nesses tipos de investimento, as perspectivas de crescimento tenderão a ser baixas.

Se você prestar atenção nessas três questões e não “exagerar” nelas, seu patrimônio tenderá a apresentar um crescimento superior, o que poderá fazer uma enorme diferença em prazos mais longos.

Agora que você já sabe com o que precisa tomar cuidado, vamos aos indicadores:

Índice de Riqueza Relativa (IRR). Fórmula: Patrimônio líquido/ patrimônio de uso.

Para se chegar ao patrimônio líquido, some todos os seus bens a valor de mercado e subtraia todas as dívidas, medidas por seus saldos devedores. Para se chegar ao patrimônio de uso, basta somar os valores de mercado dos imóveis e veículos que utiliza. Ao fazer a conta, dividindo um pelo outro, você encontrará o IRR.

Um IRR abaixo de 100% mostra que o patrimônio líquido ainda não atingiu o ponto em que cobre o seu estilo de vida e também indica a existência de dívidas.

Com um IRR acima de 100%, uma parte cada vez mais substancial do seu patrimônio estará investida em ativos que se valorizam mais, melhorando a velocidade de crescimento do patrimônio.

Na maioria dos casos, é mais fácil aumentar o IRR por meio da venda de ativos que não são necessários ou que não contribuem para a sua felicidade, além de evitar o uso do crédito.

Índice de valorização dos ativos (IVA): Fórmula: Valor esperado dos ativos em um ano/ valor atual dos ativos.

Para se calcular o valor dos ativos, basta somar o valor de mercado de seus bens. Para se calcular o valor esperado dos ativos em um ano, utilize alguma expectativa de rentabilidade (ou de depreciação no caso de ativos que se desvalorizam, como os veículos) e estime quanto eles valerão daqui a 12 meses.

O IVA irá mostrar a expectativa de crescimento anual do patrimônio e, assim, quanto maior ele for, mais o seu próprio patrimônio te ajudará a fazê-lo crescer.

A forma de melhorar o IVA é maximizar a alocação em ativos que tenham maiores expectativas de retorno, ao mesmo tempo em que se deve minimizar a alocação em ativos que se desvalorizem como veículos (ou se valorizem muito pouco como os imóveis, em geral). Um carro zero km, de R$ 100 mil, irá se depreciar muito mais do que um carro usado de R$ 80 mil. Além disso, nesse caso seria possível colocar mais R$ 20 mil em ativos com maior probabilidade de valorização, como investimentos financeiros, conjugando dois fatores para aumentar o patrimônio mais rapidamente.

Calcule e monitores periodicamente esses indicadores para ver como anda o perfil do seu patrimônio. Será que ele tem se mostrado um aliado no crescimento ou tem deixado todo o trabalho duro para você? Suas escolhas podem alterar esses índices e deixar o trabalho de construção do patrimônio mais leve. Boas escolhas!

Este material é exclusivamente informativo, e não recomendação de investimento. Aplicações de risco estão sujeitas a perdas. Rentabilidade do passado não garante rentabilidade futura.

Fonte: https://economia.uol.com.br/mais/colunas/2021/02/08/patrimonio-acumulado-evolucao-indicadores.htm