Retrospectiva 2020: dez fatos que marcaram o ano das motos

Arthur Caldeira

Arthur Caldeira, jornalista e motociclista (necessariamente nessa ordem) fundador da Agência INFOMOTO. Mesmo cansado de ouvir que é “louco”, anda de moto todos os dias no caótico trânsito de São Paulo.

Colunista do UOL

26/12/2020 04h00

O fato mais importante de 2020 é, sem dúvida, a pandemia de covid-19. Afinal, o surgimento do novo coronavírus fez com que todo o planeta fosse obrigado a mudar sua rotina e se adaptar: fronteiras foram fechadas, quarentenas decretadas, comércios, serviços e indústrias pararam e grande parte da população ficou em casa para evitar a propagação do SARS-CoV-2.

Além da questão de saúde, com mais de 78 milhões de casos e mais de 1,7 milhão de mortes (quase 200 mil delas só no Brasil), a pandemia afetou em cheio a mobilidade das pessoas. Quem pôde, ficou em casa trabalhando de home office, quem tinha de sair, procurou formas mais seguras de se locomover e os negócios obrigados a fechar as portas ao público teve de se reinventar, acelerando o crescimento do comércio eletrônico e as entregas a domicílio.

É justamente aí que entram as motocicletas. Durante algum tempo, os entregadores e motoboys eram os poucos na rua, acelerando para entregar de tudo, de refeições a produtos e serviços. A procura por um meio de transporte individual, seguro e econômico, também contribuiu para que a crise não fosse tão grave na indústria de motos – no Brasil e em todo o mundo.

Mas o ano das motos não se limitou à pandemia, embora tenha sido marcado por ela. Como nunca, o setor de duas rodas se reinventou: acelerou sua digitalização, diminuiu o ritmo, mas não interrompeu o lançamento de novos modelos e o surgimento de tecnologias mais modernas e seguras, enfim… confira nessa retrospectiva de 2020 dez fatos que marcaram o ano das motos.

Covid paralisa produção de motos

O primeiro caso de covid-19 no Brasil foi diagnosticado no final de fevereiro, mas foi em meados de março que a pandemia chegou forte por aqui. Com o aumento do número de casos nas grandes cidades, principalmente em Manaus, capital do Amazonas, onde estão instaladas as fábricas de moto, a produção foi suspensa. Em abril, 96% das plantas não produziram motos.

A paralisação necessária para evitar a disseminação do novo coronavírus entre os colaboradores foi retomada cerca de dois meses depois. E, mesmo com a retomada, a produção não tem sido suficiente para atender à demanda do mercado. Por um lado, devido ao aumento da procura por motos e scooters e, por outro, em função dos protocolos de saúde, que limitam o número de funcionários nas linhas de montagem das fábricas.

Delivery mantém negócios funcionando

Como consequência da quarentena, que isolou milhões de pessoas em casa devido à pandemia do novo coronavírus, restaurantes e outros negócios tiveram de recorrer ao delivery para manter os negócios funcionando e minimizar os prejuízos. Graças aos entregadores e motoboys o país não parou. Estava andando sobre duas rodas.

Aplicativos de entrega, como o iFood, registraram aumento de mais de 30% no número de motoboys já em março, chegando a 170 mil entregadores inscritos na plataforma. Entregadores ajudaram restaurantes, comércios e serviços não essenciais a minimizar os prejuízos durante a quarentena. Vale ressaltar também o trabalho dos entregadores de bicicletas.

Entretanto, infelizmente, a grande maioria desses trabalhadores são informais e não têm direitos. Muitas vezes, são obrigados a fazer longas jornadas diariamente para conseguir tirar seu sustento, devido à baixa remuneração do frete. A insatisfação com os apps de entrega gerou até uma mobilização por mais direitos e melhores tarifas em julho. De lá para cá, pouca coisa mudou, mas os motoboys e entregadores continuam aí, levando e trazendo refeições e outros produtos para o país não parar.

Pandemia cancelou os principais salões de moto

Também em função da pandemia, que atingiu a Europa, os principais salões de moto de 2020, que seriam realizados no final deste ano, foram cancelados já no primeiro semestre. Primeiramente, foram os organizadores do Salão de Motos de Milão, também decidiu cancelar o evento, previsto para novembro, em uma Itália arrasada pela covid-19.

Lançamentos e vendas online

O cancelamento dos salões, uma das principais plataformas para a apresentação de novas motos, obrigou as marcas a se reinventar. O ano foi recheado de lançamentos por streaming, para que os fãs das duas rodas pudessem ver de perto as novidades do setor.

A moda de lives também chegou ao Brasil e grandes lançamentos deste ano, como a nova online.

Assim como fizeram com os lançamentos de motos, as marcas tiveram de acelerar a digitalização para atender seus consumidores, mesmo que a distância. Além de agendar revisões e vender peças e equipamentos, as fábricas criaram canais online para a comercialização de motocicletas.

As concessionárias também tiveram de se adaptar ao “novo normal”. Limitação de horário e do fluxo de pessoas, além da medição de temperatura e a adoção de máscaras passaram a fazer parte da rotina das revendas autorizadas. Mais uma maneira de minimizar as perdas causadas pela pandemia.

Aumento na demanda

Além do aumento das entregas com motocicletas, a procura por um meio de transporte mais seguro e que evitasse a aglomeração no transporte público, fez com que a procura por motos aumentasse durante a pandemia. Um fenômeno que se repetiu em todo o mundo.

Com a reabertura do comércio e a retomada das atividades, a venda demonstrou recuperação e só não foi melhor por falta de motos. A procura por veículos de duas rodas, seja para trabalhar, seja para se locomover, surpreendeu a todos.

Tanto que ainda há falta de alguns modelos e demora na entrega. Segundo as fábricas, ainda há um descompasso entre a demanda e a produção. Isso fez com que a queda nas vendas fosse menor do que o previsto, quando a quarentena começou. A projeção dos fabricantes é fechar o ano com redução de 17%.

Scooters vieram para ficar

Antes da pandemia, o ano começou com o lançamento de um novo modelo que elevou o patamar das scooters. Mostrada no Salão Duas Rodas 2019, a Yamaha XMax 250 trouxe design moderno, com desempenho e novas tecnologias, como o controle de tração, para o segmento.

Mas havia a expectativa também da chegada da nova NMax 160 para tentar incomodar a PCX.

O fato é que as scooter caíram no gosto do brasileiro e o aumento nas vendas desse tipo de moto nos últimos anos demonstra isso. Além da covid-19 que fez muitas pessoas buscarem outro tipo de transporte individual, o alto preço da gasolina (que já subiu mais de 15% neste fatídico 2020) levou muitos motoristas de carros para o guidão de uma scooter.

Motos de super-heróis

E, por falar em lançamentos, vale destacar a concretização da parceria entre os estúdios Marvel e a Yamaha. Anunciada em 2019, a colaboração entre as empresas tomou forma em outubro, com o lançamento da série limitada Star Wars do NMax 160. As duas versões, da Aliança Rebelde e do Império, foram praticamente todas vendidas online, como não poderia deixar de ser nesse ano de pandemia.

Já em novembro chegaram as séries especiais de modelos consagrados da marca inspiradas nos heróis de “Os Vingadores”. Lander 250 Capitão América, Fazer 250 Pantera Negra e Fazer 250 Capitã Marvel selaram a parceria e agradaram aos fãs de quadrinhos e de motos.

Câmbio DCT

Na onda de novidades de final de ano, a Honda confirmou o que a Africa Twin, que entre outras novidades tem motor de 1.100 cc, também será vendida com a opção da inovadora transmissão de dupla embreagem.

O objetivo é repetir o sucesso que o DCT fez em outros mercados, como a Europa. Além de atrair novos consumidores para as motocicletas, com uma tecnologia que promete mais conforto, praticidade e segurança para os menos experientes.

Moto com radar

No campo das inovações, vale destacar o lançamento das primeiras motos com radar. A tecnologia permite a adoção de novos sistemas de segurança, como o controle adaptativo de velocidade e a detecção do ponto cego. O sistema é o mesmo utilizado em carros de luxo e está a um passo da direção autônoma.

Em parceria com a Bosch, Multistrada V4 seria a primeira moto produzida com a tecnologia, enquanto a fábrica alemã introduziu o sistema na nova BMW R 1250 RT, mas no exterior.

Motos elétricas ganham espaço

Em meio à pandemia, aumento de vendas de motos e a procura por outras formas de locomoção que não o transporte público, as motos elétricas aproveitaram esse momento de se reinventar para conquistar espaço. Empresas criaram lojas online para vender motos e scooter elétricas, que não poluem e ainda economizam combustível.

A startup brasileira Voltz Motors viu as vendas de sua primeira scooter elétrica, a EVS, que já está à venda.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Fonte: https://www.uol.com.br/carros/colunas/infomoto/2020/12/26/retrospectiva-2020-dez-fatos-que-marcaram-o-ano-das-motos.htm