O Flamengo de Ceni, como o de Jorge Jesus. Quem disse que era impossível?

Renato Mauricio Prado

Renato Mauricio Prado é jornalista e trabalhou no Globo, Placar, Extra, Rádio Globo, CBN, Rede Globo, SporTV e Fox Sports. Assina atualmente uma coluna diária no Jornal do Brasil. A primeira Copa que cobriu in loco foi a da Argentina, em 1978.

01/04/2021 08h21

A primeira aparição dos titulares do vitória por 3 a 0 sobre o Bangu, adversário reconhecidamente fraco, mas pela forma como o time rubro-negro atuou, lembrando bastante o “modus operandi” dos gloriosos (e saudosos) tempos de Jorge Jesus.

Tal qual nas vitoriosas campanhas do Brasileiro e da Libertadores de 2019, a equipe de Ceni jogou sufocando a zaga e o meio-campo do rival ao executar forte pressão após perder a bola e avançar a sua própria linha de zagueiros até a intermediária adversária, atuando compactada, em um espaço de aproximadamente 30, no máximo 40 metros. Sempre no ataque.

E isso não foi tudo. Com intensa troca de posições de todos os jogadores do meio-campo para frente, o Flamengo voltou a desnortear seus marcadores com alta rotatividade, criando diversas oportunidades claras para marcar – a maioria delas desperdiçada. Foram cinco no primeiro tempo e mais cinco no segundo. Isso parece ser o principal ponto a ser corrigido agora.

A animadora estreia revelou até (aleluia!) uma jogada ensaiada em cobrança de falta – por pouco Filipe Luís não marcou de cabeça, após o cruzamento preciso de Arrascaeta, por cima de toda disputa na área. E os três gols foram bonitos e bem construídos, notadamente o segundo, de Arrascaeta, e o terceiro, de Gabigol.

Rogério Ceni, dessa vez, acertou até nas substituições, feitas claramente para poupar alguns titulares. Primeiro, entraram Bruno Viana (no lugar de Gustavo Henrique, que, registre-se, jogou bem) e João Gomes (na vaga de Diego, que teve atuação destacada). Gomes e Viana são fortes candidatos a brigar pela titularidade no futuro.

Depois, entraram Vitinho, Michael e Rodrigo Muniz (saíram Éverton Ribeiro, que não foi mal, Bruno Henrique, um dos destaques da partida, e Arrascaeta, outro que jogou muito). Rogério teve a sensibilidade de não tirar Gabigol, que ainda não marcara (até tinha balançado a rede, no primeiro tempo, mas o auxiliar, equivocadamente, assinalou impedimento). O artilheiro agradeceu a consideração com o golaço que fechou a vitória.

Ao que tudo indica, o período de férias e os 15 dias de pré-temporada fizeram bem à cabeça e ao trabalho de Rogério Ceni. Ele parece ter entendido, enfim, que o melhor esquema de jogo não é necessariamente o seu preferido, mas aquele no qual dá aos jogadores a liberdade para criar e explorar seus talentos. E talento é o que não falta, do goleiro ao ponta-esquerda do time bicampeão brasileiro de 2019/2020.

Com liberdade para trocar de posições e tabelar por todos os setores do campo, Gerson, Diego, Arrascaeta, Bruno Henrique, Gabigol e Éverton Ribeiro (que ensaia recuperar a forma perdida após a ida à seleção brasileira) são capazes de enlouquecer qualquer adversário no Brasil e, por que não dizer, na América do Sul.

Cabe a Ceni deixá-los confortáveis, sem comprometer o sistema defensivo, contra adversários mais fortes. O primeiro teste para valer será na final da futebol ainda for permitido nesta data na capital federal.

O técnico rubro-negro queixou-se, em recente entrevista a Mauro Cezar Pereira, que gostaria de receber mais elogios que críticas. Em sua estreia no Carioquinha, deu o primeiro passo para que isto se torne realidade. O time que tem nas mãos é espetacular. Basta fazê-lo jogar um futebol à altura da qualidade de seus jogadores e a maior torcida do país o venerará como um ídolo. Como foi Jorge Jesus.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Fonte: https://www.uol.com.br/esporte/futebol/colunas/renato-mauricio-prado/2021/04/01/o-flamengo-de-ceni-como-o-de-jorge-jesus-quem-disse-que-era-impossivel.htm