Primeiros passos do Botafogo em 2021 deixam boa sensação

Rodrigo Coutinho

Rodrigo Coutinho é jornalista e analista de desempenho. Acredita que é possível abordar o futebol de forma aprofundada e com linguagem acessível a todos.

Colunista do UOL

01/03/2021 04h00

Saber se adaptar a uma nova realidade após tropeços e grandes decepções é um dos segredos para recomeçar. A julgar pelas primeiras ações visando a nova temporada, o Botafogo vem buscando isso. Não vai empolgar o torcedor mais exigente, mas começa a ter uma cara condizente com o desafio que vem pela frente.

Não adianta querer arrumar a casa tendo ações irresponsáveis. O alvinegro não tem a menor possibilidade de contratar jogadores de ponta ou técnicos caros. A nova diretoria do clube ainda tateia a situação financeira e sabe que a receita será muito mais baixa em relação a uma temporada na Série A. Então precisa definir um padrão de investimento palpável e montar um time competitivo.

Técnico experiente em acessos

Impossível pensar em algo que não seja o retorno a elite do futebol brasileiro. E o Botafogo foi atrás de um dos treinadores disponíveis mais acostumados com acessos. Marcelo Chamusca é técnico desde 2012, e acumula, direta e indiretamente, quatro subidas de divisão, duas delas da Série B para a Série A, exatamente o caminho que o Glorioso precisa percorrer.

Marcelo era auxiliar de seu irmão, Péricles Chamusca, e logo em seu primeiro trabalho já conseguiu levar o Salgueiro, de Pernambuco, da Série D para a Série C. Em 2014 fez um bom trabalho no Fortaleza, liderando a 1ª fase da Série C, mas caindo para o Macaé nas quartas de final. No ano seguinte o filme se repetiria. Melhor campanha com o Leão do Pici, mas queda nas quartas para o Brasil de Pelotas, novamente não chegando ao acesso.

O objetivo só viria em 2016, quando repetiu a melhor campanha da Série C, desta vez com o Guarani, e subiu para a Série B com o vice-campeonato do Bugre. Em 2017, outro acesso. Da ”B” para a ”A”, com o Ceará. Assumiu o Vozão na 12ª posição e terminou a competição em 3º lugar.

O histórico de sucesso seria novamente preenchido na última temporada. Comandou o Cuiabá durante 20 rodadas da Série B, liderou o campeonato e deixou o clube nas quartas de final da Copa do Brasil, antes de rumar de novo para o Fortaleza. Substituindo Rogério Ceni acabou não conseguindo ter sucesso e foi demitido após nove rodadas e apenas uma vitória na Série A.

Vitória, Ponte Preta, CRB, Vila Nova e Paysandu foram outros times que Chamusca passou sem tanto sucesso, mas provou na maioria das vezes que conhece a realidade das divisões inferiores no Brasil. Monta quase sempre equipes competitivas e está acostumado a trabalhar com atletas de um nível intermediário.

Ideias

O modelo de jogo variou bastante ao longo da carreira. Recentemente, porém, vem montando suas equipes com a proposta de ficar mais tempo com a bola. Tentando trabalhar e encontrar espaços no campo rival com trocas de passe curto e aproximação entre as peças. Traz um volante para se alinhar aos zagueiros e fazer a ”saída de três”, solta os laterais em amplitude no campo de ataque e promove e flutuação dos pontas para o centro, preenchendo o espaço entre o meio-campo e a defesa do adversário.

Geralmente a bola é circulada pela faixa central do gramado e ele costuma utilizar um meia central, um ”camisa 10”, mais lento e cerebral, como total liberdade de movimentação. A resolução final dos ataques é quase sempre feita pelos laterais atacando a linha de fundo e cruzando. Trabalha também com pressões pós-perda no campo de ataque, visando inibir os contra-ataques adversários e sufocando o rival se a bola for perdida.

Já jogou com centroavante mais fixo na área e homens de maior mobilidade como ”9”, mas cobra uma chegada em massa no terço final do campo para finalizar as jogadas preparadas pelos flancos. São ideias que combinam com um caráter de imposição que o Botafogo precisa ter numa Série B. No momento defensivo seus times costumam marcar por encaixes e perseguições apenas dentro do setor, quando o atleta não se afasta tanto de sua região de origem. Vem utilizando bastante o 4-2-3-1.

Formação do elenco

Mesmo com o Campeonato Carioca prestes a começar na loucura que é o calendário brasileiro, não é possível fazer uma análise mais exata e profunda do plantel alvinegro para 2021. Muitos jogadores seguem com suas situações indefinidas. Há propostas por destaques oriundos da base e o clube está garimpando o mercado acessível.

Até aqui, o volante Pedro Castro e o atacante Ronald foram anunciados. Gilvan, Felipe Ferreira, Matheus Frizzo, Jonathan, Robson e Joel Carli são outros nomes pretendidos. Mesmo que alguns deles possam ter dificuldades para render dentro das ideias que Chamusca costuma implementar em seus times, são atletas, em sua grande maioria, que se destacaram recentemente na Série B, possuem ”estofo” para a missão, e conseguiram acessos também.

Foco na missão

Esperar que o Botafogo faça uma campanha de destaque no Estadual ou chegue longe na Copa do Brasil é algo que só atrapalhará o torcedor alvinegro. Por mais que isso pareça muito pequeno para a história do clube, ser o 4º colocado ao final da Série B de 2021 precisa ser a meta. Sem histerias e rupturas desnecessárias no meio do caminho. A salvação da instituição passa por isso.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Fonte: https://www.uol.com.br/esporte/colunas/rodrigo-coutinho/2021/03/01/primeiros-passos-do-botafogo-em-2021-deixam-boa-sensacao.htm