Por que trabalho em qualquer local e movido a dados é inevitável

Alessandra Montini

Apaixonada por dados e pela arte de lecionar, a professora doutora Alessandra Montini tem muito orgulho de ter criado na FIA cinco laboratórios para as aulas de Big Data e Inteligência Artificial. Mestre em estatística aplicada pelo IME-USP e doutora pela FEA-USP, já ganhou mais de 60 prêmios de excelência acadêmica e possui mais de 20 anos de trajetória nas áreas de Data Mining, Big Data, IA e Analytics. Hoje é diretora do LABDATA-FIA, orienta alunos de mestrado e doutorado na FEA-USP, coordena grupos de pesquisa no CNPq e é parecerista da FAPESP.

25/04/2021 04h00

O ano de 2020 mudou a vida de todo mundo. Tivemos que aprender e reaprender várias coisas, dentre elas, como continuar trabalhando, consumindo e estudando em isolamento social. O mundo mudou totalmente a sua dinâmica. De uma hora para outra, o home office foi implementado de maneira forçada, ferramentas tecnológicas foram adaptadas às pressas e até o conceito de telemedicina foi autorizado de forma provisória no país.

É aí que entra a transformação digital. Ela chegou antes do planejado à maioria das organizações, traçando novos rumos e direções. Uma realidade que ajudou nas exigências da sociedade e fez com que as pessoas tivessem interações simples e rápidas com empresas, governos, lojas, consultas médicas tudo de forma online.

Hoje nosso mundo está “on”. Os inovação e digitalização. Não há dúvidas de que na economia pós-pandemia, os dados serão ainda mais cruciais.

Podemos dizer que o coronavírus foi um acelerador desse movimento, e as empresas precisaram sentir na prática como a tecnologia pode ser um trunfo para salvar os negócios.

Agora, é praticamente um caminho sem volta. O mundo pós-pandemia vai trazer uma nova realidade em todos os aspectos, principalmente nos negócios —que se tornarão mais digitais e, certamente, usarão dados para sobreviverem.

Bem-vindo ao “anywhere working”

O conceito “trabalhar de qualquer lugar” nunca fez tanto sentido quanto o momento em que o mundo passa por uma digitalização. O início do isolamento social mostrou que muitas empresas não sabiam e não estavam preparadas para lidar com o mundo digital.

Os colaboradores precisaram trabalhar remotamente, mas todos os insumos e dados necessários para manter o negócio rodando estavam presos ao escritório. Foi preciso rever conceitos e se reinventar rapidamente para não perder mais espaço.

Segundo pesquisa realizada pela Fundação FIA em abril de 2020, 46% das empresas entrevistadas adotaram o home office permanente para manterem suas atividades ativas. Um ano depois, muitas empresas já consideram esse novo modelo eficaz, incluindo na rotina de seus colaboradores e tratando como um diferencial na hora da contratação.

Com muitas empresas adotando esse novo formato e a alta taxa de aceitação do modelo de trabalho remoto no mundo corporativo, os nômades digitais se tornaram mais comuns nas salas de reuniões. Chamamos de nômade digital aqueles que escolheram trabalhar longe dos escritórios, muitas vezes como motivação a qualidade de vida, economizando horas preso no trânsito e evitando a correria dos grandes centros urbanos.

Aqui no Brasil, o conceito é relativamente novo, mas vou explicá-lo de forma simples. É uma vida não convencional, em que você trabalha de qualquer lugar: na praia, na montanha, no café ou em casa, desde que haja conexão à internet. Alguns exemplos mais comuns de nômades são redatores, fotógrafos e designers.

Para atender a essa alta demanda de trabalhadores digitais, as empresas precisaram mudar a forma com que conduzem todo o processo de contratação, gestão do time, processo tributários e principalmente na gestão da informação.

Agora, os dados precisam ser acessíveis de qualquer local do planeta e precisam ser processados rapidamente para manter a competitividade em um cenário cheio de incertezas.

Mais do que nunca, torna-se imprescindível o uso de ferramentas em cloud computing, ou computação em nuvem, que são ferramentas utilizadas para processar informações em tempo real e permitem a todos acompanharem as atualizações à medida que acontecem.

A computação em nuvem é um recurso que nem chega a ser novidade no setor de TI, mas que sempre foi deixado em segundo plano. Não à toa que as corporações que melhor se adaptaram a este novo momento são aquelas que já utilizavam essas soluções anteriormente.

Seguindo nessa linha, o maior desafio das empresas, no geral, é fornecer recursos necessários para que não haja necessidade de deslocamento por parte dos funcionários e que consigam executar sua rotina de trabalho de qualquer lugar e de qualquer hora, e seja possível medir a qualidade das entregas. E como benefício, as empresas reduzem o custo com espaço físico e ganham em produtividade por ter funcionários mais motivados.

Tenha uma cultura data driven

A cultura data driven (ou DDD, Data-Driven Decision) prioriza a tomada de decisão baseada em dados sob o argumento de que quanto mais informações estiverem acessíveis ao decisor e quanto mais detalhadas forem essas informações, mais eficiente e assertivo será o processo decisório.

Não é exagero dizer que os dados podem impactar a vida de todas as pessoas. Em tempos de covid-19, o uso adequado deles pode frear a pandemia.

No início da quarentena, por exemplo, foi possível perceber uma queda de 33% no deslocamento das pessoas para os locais de trabalho no Paraná, segundo pesquisa do smartphones. Ou seja, informações digitais.

Uma enorme quantidade de dados é gerada e compartilhada diariamente em todo o mundo. No caso da pandemia, por exemplo, há diversos conteúdos e análises que podem ser feitas, como a eficácia do isolamento social e até a evolução de disseminação da covid-19. São informações que precisam ser capturadas, armazenadas e processadas para gerar inteligência.

Trabalhar com dados é, enfim, uma questão de sobrevivência.

Dessa forma, o cenário atual traz uma reflexão importante para o mundo corporativo: dados certos são diferenciais importantes para a tomada de decisão. Seja para identificar o avanço da doença provocada pelo novo coronavírus ou para identificar tendências em um segmento, é preciso ter essas informações em mãos para obter inteligência competitiva.

Em suma: é preciso adotar uma cultura data driven, com decisões baseadas em dados.

Evidentemente há desafios importantes neste novo momento. As empresas precisam lidar com uma grande quantidade de dados não estruturados —e é neste ponto que entra as soluções de big data analytics.

É necessário apostar na contratação de profissionais que conseguem extrair valor dessas informações.

Por fim, reconhecer que a crise provocada pelo novo coronavírus exige a transformação e até a criação de muitos modelos de negócios —o que só é possível a partir dos dados.

Se atentar a essas informações para tomar decisões estratégicas, lançar novos serviços e produtos e manter uma comunicação com os consumidores são tópicos que devem estar em pauta nos próximos meses.

Os dados serão os grandes responsáveis pelo sucesso de qualquer negócio.

O mundo pós-pandemia será bem diferente de tudo o que já vivemos e, mais do que nunca, a tecnologia vai desempenhar um papel central nas relações sociais.

As empresas de todos os portes deverão passar por uma mudança cultural e estarão mais atentas a momentos de crise. Sem dúvida, vão dar mais atenção a seus dados e onde ficarão armazenados. Usarão informações lapidadas para a tomada de decisão e estarão em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

Vamos agora andar duas casas para frente. Os dados já nos mostraram o caminho.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Fonte: https://www.uol.com.br/tilt/colunas/alessandra-montini/2021/04/25/os-dados-nos-mostram-o-mundo-no-pos-pandemia.htm