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“O gringo mais carioca”: as histórias de Loco Doval, ídolo da dupla Fla-Flu
Tales Torraga
Jornalista e escritor, Tales Torraga nasceu em Mogi das Cruzes (SP), mas é, segundo os colegas, “mais argentino que os próprios argentinos”. Morou em Buenos Aires e Montevidéu, girou pela imprensa brasileira e portenha e escreveu 15 livros ? o último deles, Copa Loca, é sobre a…Argentina nos Mundiais.
Flamengo e Fluminense jogam amanhã (14) às 18h no Maracanã, e quem viu, não esquece. Hora de relembrar (e contar aos jovens) quem foi Horacio Narciso Doval, atacante argentino de fúria e paixão pela dupla nos anos 1970.
* ”Doval é para o Rio o que Pelé é para o restante do Brasil”, publicou o jornal ”Clarín”, o maior da Argentina, para explicar sua idolatria em solo carioca.
* Os primeiros dias de Doval no Rio em 1969 foram vividos no apartamento de outro argentino famoso no Brasil dos anos 70: o goleiro Andrada, do Vasco.
* Teve problemas no Flamengo em 1970 com o autoritário técnico Yustrich que queria cortar seus cabelos e ditar suas roupas.
* Os conflitos resultaram em sua volta à Argentina, mesmo a contragosto. Jogou em 1971 no Huracán e foi treinado pelo histórico César Luis Menotti.
* Sob o comando de outro histórico, Zagallo, retornou ao Flamengo em 1972 para fazer a inesquecível dupla com Zico.
* Foi sondado para jogar no Racing da França. ”Que França? O Rio é muito melhor. Nem louco vou morar no frio”. Ipanema era seu lugar ao sol.
* Mudou para o Fluminense em 1975 e passou a ouvir a torcida do Flamengo o chamar de “chincheiro” – “maconheiro”.
* Gozava com sua fama de maconheiro. Costuma responder ‘sou mesmo, e daí?’ só para encerrar o assunto. Dizia se cuidar. E usava suas atuações para comprovar.
* Brincava que não aceitaria jogar no Vasco ”porque ficava longe da praia”.
* Dizia que usava a praia para treinar o físico jogando vôlei, futevôlei e fazer caminhadas. Era fanático por tênis.
* Tão ídolo, virou até música, de Marcos Valle: ”Parece que finalmente resolvemos o dilema, Dario e Doval jogando juntos sem problemas?”.
* Poucos sabem, mas Doval se naturalizou brasileiro em 1976. Dava entrevistas dizendo ”Nós, brasileiros?”.
* No Flamengo, cavava faltas para Zico cobrar. No Fluminense, fazia o mesmo para Rivellino. Brigava, xingava, provocava. Enlouquecia a torcida.
* Fez um dos gols mais celebrados do Maracanã (127.052 pagantes), dando o Carioca de 1976 ao Fluminense aos 13 minutos da prorrogação ante o Vasco.
* A média de público daquele quadrangular final: 91.140 pessoas por jogo.
* Não se intimidava com as patadas que levava dos zagueiros do Rio. Chegava perto deles e dizia: ”Hoje vou dar a primeira”. E metia o pontapé sem dó.
* Cotado pelo técnico Menotti para jogar a Copa de 1978, quando estava ainda no Fluminense, mas a pecha de indisciplinado tirou suas chances.
* A pinta de galã lhe rendeu vários convites para atuar em novelas. Dizia não ter tempo. Preferia curtir as praias de Ipanema.
* Viajou à Espanha na Copa de 1982 para torcer – na arquibancada – pela seleção brasileira, algo hoje impensado, ainda mais para um naturalizado.
* Era um notório mão de vaca. Tomava café e comia na rua e saía sem pagar nada: ”Ídolo não mexe no bolso”, brincava.
* Zico conheceu Sandra, sua esposa há 45 anos, porque ela era fã de Doval e ia aos treinos do Flamengo para suspirar pelo argentino.
* Doval era grande amigo do argentino Héctor Veira, que foi jogar no Corinthians como pretexto para visitar Doval no Rio sempre que podia.
* Em 2001, ficou em terceiro em votação da revista Placar como melhor gringo a jogar no Campeonato Brasileiro. Ficou atrás de Figueroa e Pedro Rocha.
* Morreu em 12 de outubro de 1991, aos 47 anos, na saída de boate de Buenos Aires depois de ganhar pelo time sênior do Flamengo: parada cardíaca, como seu pai.
Com informações publicadas em 2016 pelo blog do UOL Patadas y Gambetas
Fonte: https://www.uol.com.br/esporte/colunas/tales-torraga/2021/03/13/o-gringo-mais-carioca-as-historias-de-loco-doval-idolo-da-dupla-fla-flu.htm