Compras bilionárias de processadores revelam como a China pretende crescer

Felipe Zmoginski

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Fundou a Associação Brasileira de Online to Offline, foi secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial e head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia.

07/05/2021 04h00

Obter uma fonte estável, abundante e econômica de petróleo foi a prioridade número um da política externa de quase todos os países industrializados nas últimas décadas. Só os Estados Unidos patrocinaram uma dúzia de guerras para assegurar seu acesso às fontes da commodity.

Para a China, detentora do maior parque industrial do mundo e da 2ª maior frota de carros do planeta, a importância do “ouro negro” é evidentemente elevada. Desde 2020, no entanto, o petróleo não figura mais do topo das prioridades comerciais do país, conforme revelam dados oficiais.

No último ano, a China gastou US$ 330 bilhões na importação de óleo cru e seus derivados. Embora elevado, o gasto é menor que o registrado nos anos anteriores e a queda no fluxo de importações deve-se ao fato de o país ser o maior gerador mundial de energias renováveis, como a eólica e solar, além de possui a maior frota do mundo de carros elétricos.

Em contrapartida, só com a importação de chips e semicondutores o país gastou o valor recorde de US$ 350 bilhões, revela relatório do MOFCOM, pasta responsável pelos dados do comércio internacional da China.

Assim como no caso do petróleo, a China não é autossuficiente na fabricação de processadores. Mais de 95% dos chips integrados nas indústrias de Shenzhen e Guangzhou, grandes polos de eletrônicos no país, são importados.

A importação de semicondutores pela China é um gargalo para seu desenvolvimento, já que o país ainda não detém tecnologia suficiente para produzir chips de diversas arquiteturas, como as usadas em 5G.

O “cartel do processador” é, em comparação com o petróleo, até mais restrito, já que poucos países no mundo são capazes de produzi-los. Os maiores produtores mundiais são Coreia do Sul, Taiwan e Estados Unidos, coincidentemente, os maiores exportadores destes produtos para a China.

Ao contrário da commodity mineral, no entanto, chips não são um recurso finito e, em tese, qualquer país pode desenvolver a capacidade de produzi-los.

Em 2020, fundos de capital de risco (venture capital) despejaram mais de US$ 40 bilhões em startups chinesas que se propõem a desenvolver processadores.

Sob pressão dos Estados Unidos, que se esforçam para “chutar a escada” da ascensão chinesa, limitando seu acesso internacional a semicondutores, a China faz um esforço inédito em sua história para desenvolver tecnologias proprietárias em semicondutores.

Para efeito de comparação, no Brasil, importa-se praticamente 100% dos semicondutores utilizados na indústria nacional. A única empresa do país a produzir semicondutores é a Ceitec, uma estatal com sede em Porto Alegre, criada em 2008. A empresa, no entanto, deve ser fechada ou privatizada ainda este ano por seu controlador, o governo federal, sob o argumento de que é deficitária.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Fonte: https://www.uol.com.br/tilt/colunas/felipe-zmoginski/2021/05/07/para-china-processadores-sao-mais-estrategicos-que-petroleo.htm