Rival do TikTok, app de vídeos quer emplacar streaming e comércio ao vivo

Felipe Zmoginski

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Fundou a Associação Brasileira de Online to Offline, foi secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial e head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia.doras e compreender a ascensão da nação pobre que se tornou potência mundial em menos de três décadas.

17/02/2021 04h00

O mundo não foi gentil com os negócios ao longo do último ano. Além das falências, desemprego e retração do PIB anotados em quase todo o globo, Brasil incluso, ficou especialmente difícil para jovens empresas captarem investimentos. Boas ideias e projetos aparentemente disruptivos ficaram à míngua no novo normal, já que o dinheiro, sabemos, tem aversão a riscos. Mas há exceções.

O Kwai, da empresa Kuaishou Technology, realizou, em pleno fevereiro pandêmico, um IPO (oferta pública inicial para a abertura de capital da empresa) que lhe confere, agora, valor de mercado de US$ 5,4 bilhões.

O Kwai rivaliza no mercado de vídeos curtos com o TikTok, outro titã chinês. Ambos marcam uma quebra de paradigma: a de que software e aplicativos chineses nunca cairiam no gosto popular do Ocidente.

O raciocínio era mais ou menos assim: as marcas chinesas podem fabricar carros, eletrônicos, turbinas de avião e tudo o que for físico —ou seja, hardware— e terão mercado consumidor, já que sua indústria é a mais competitiva do mundo. Já com os softwares (que envolvem design, interface, usabilidade), eles nunca serão bem-sucedidos mundialmente porque a cultura chinesa é tão distante do gosto dos países ocidentais…

Mas foram. No mundo, o Kwai tem 300 milhões de usuários, a maior parte, é verdade, em seu país de origem.

Ao que tudo indica, países emergentes (como o Brasil, o México e a Indonésia) são uma fronteira prioritária para estes apps, que enfrentam dificuldade para crescer no mercado doméstico (na China, a taxa de crescimento vai se saturando) e nos países de maior população do mundo, como Índia e Estados Unidos. Nesses dois casos, por razões geopolíticas, há temor de restrições aos apps chineses.

Segundo Tony Qiu, diretor internacional do Kuaishou, a fortaleza do Kwai é ser “inclusivo e positivo”. De fato, na contramão do que faz o Facebook, por exemplo, o algoritmo do Kwai, mostra para os usuários muito conteúdo de novos usuários, não necessariamente relacionado a seus hábitos mais comuns. É uma aposta “fura bolha” que, ao menos para os influenciadores digitais, é uma benção, já que lhes permite um alcance de usuários que não seria possível em outras plataformas.

A fabricante do Kwai afirma que “em breve” liberará para usuários no Brasil duas features que são um fenômeno na Ásia, a possibilidade de fazer streaming ao vivo e, claro, a de realizar vendas online, o live commerce. Em particular o comércio ao vivo é uma tendência que 10 entre 10 analistas afirmam ser irreversível.

O bem-sucedido IPO da Kuaishou, que projetou valor de mercado acima das expectativas de especialistas, mostra a confiança que investidores têm em novas soluções digitais. E reafirma o que já se desenha como regra: no difícil mundo da pandemia, as startups da China seguem criando unicórnios em um ritmo que nos faz lembrar aquela época de ouro, em que o mundo era normal.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Fonte: https://www.uol.com.br/tilt/colunas/felipe-zmoginski/2021/02/17/rival-da-tiktok-quer-conquistar-o-brasil-com-streaming-e-comercio-ao-vivo.htm