Temos que caminhar por outras trilhas, mas é bom consultar alguns mapas

Claudio Felisoni

Professor Titular da FEA/USP, presidente do Conselho do Labfin.Provar, da FIA, e presidente do Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos do Varejo e do Mercado de Consumo)

18/12/2020 04h00

Em um passado não muito distante, nas últimas duas décadas, a Selic chegou perto de 30% ao ano. Nesse cenário a situação de quem tinha dinheiro era relativamente simples: aplicações em renda fixa. Uma rentabilidade excelente e um risco baixo. Risco sempre há, mas, dadas as alternativas, poderia se dizer que o céu era de brigadeiro. Com horizonte sem nuvens, era só esperar que o dinheiro chegava limpinho na conta do que se chamava investidor.

De fato, os indivíduos eram sim investidores, pois separavam uma parte da renda corrente para gerar uma riqueza no futuro. Mas a palavra, apesar de aplicável nas circunstâncias específicas, era profundamente distorcida. Não se requeria do indivíduo quase nenhuma arte ou engenhosidade na escolha de onde aplicar o rico dinheirinho. Na verdade, para os mais abastados as instituições financeiras sempre tinham as melhores ofertas. Para os menos aquinhoados, havia outras alternativas não tão boas, mas ainda assim bastante compensadoras. Era só escolher com certa calma. Algumas poucas contas realizadas com aritmética simples eram suficientes para direcionar o dinheiro que sobrava.

Há ainda boas opções de renda fixa a serem exploradas, entretanto, agora com a Selic a 2% ao ano, o jogo ficou bem mais complexo. Muitas outras alternativas estão hoje colocadas e precisam ser analisadas comparativamente, de modo a melhorar a rentabilidade da carteira. Uma dessas alternativas é a Bolsa de Valores. Segundo a B3, desde o início da pandemia o número de CPF na Bolsa cresceu 52%, ultrapassando os 3 milhões de indivíduos.

Pode-se ganhar muito dinheiro na Bolsa com operações de curto prazo, entretanto, ao comprar uma ação o indivíduo se torna sócio daquela empresa. Ora, é importante então lembrar que se deve buscar aquelas empresas com maior potencial de crescimento. Isso depende não só da gestão da própria empresa, mas também do setor ou atividade em que a organização atua.

Pois bem, vamos apontar aqui setores bastante promissores. O primeiro deles é o agronegócio. Durante os últimos 50 anos vem se observando um aumento significativo da produção de grãos, apoiada no crescimento da produtividade. Em que pese a expansão da área plantada, o aumento tem sido devido, principalmente, a novas técnicas e processos aplicados nos mais diferentes segmentos do agronegócio.

Certamente algumas características peculiares como clima favorável, especialmente o regime de chuvas, que permite em várias regiões até duas safras por ano, potencializam a competitividade do país nesse setor da economia. Os relevos do território nacional são igualmente favoráveis, bem como a diversidade de solos.

Conectadas com o agronegócio, porém não limitadas a ele, encontram-se também como altamente recomendadas as empresas atuando na área de logística. O Brasil tem uma infraestrutura de distribuição extremamente precária. O aumento da produção interna e a crescente presença do Brasil no mercado internacional fazem da melhoria das operações logísticas uma necessidade absoluta.

Secundando o que se disse acima, deve-se ter em conta o próprio crescimento do varejo virtual. Ele em si mesmo constitui um setor muito promissor. Sua expansão evidentemente impõe fortes pressões sobre a estrutura logística. As vendas de varejo pela internet já vinham crescendo celeremente antes da pandemia. Com esse evento, os volumes comercializados por esse canal vêm se expandindo ainda mais rapidamente.

Todas essas atividades precisam de energia para seguir em frente. É aí que se destacam as fontes renováveis de energia e, portanto, as empresas que operam nesse segmento. O Brasil possui as principais fontes de energia, as hidrelétricas, que atendem mais da metade da geração de energia no país. Novas energias renováveis, como a energia solar e eólica, vêm ganhando reconhecimento, e seu uso cresce amplamente ano após ano. Estima-se que até 2050 a quantidade de energia gerada por painéis solares alcance entre 78 e 128 GW.

Novas trilhas vão exigir maior cuidado. Entretanto, ao não nos movermos, ficando parados, nosso patrimônio vai ser engolido pela inoperância. Essa situação pode até passar uma sensação de segurança, porém ela é falsa.

Este material é exclusivamente informativo, e não recomendação de investimento. Aplicações de risco estão sujeitas a perdas. Rentabilidade do passado não garante rentabilidade futura.

Fonte: https://economia.uol.com.br/mais/colunas/escola-de-financas/2020/12/18/investimentos-ultimas-decadas-bolsa-segmentos.htm