Seria cômico se não fosse marketing

João Branco

João Branco tem mais 20 anos de experiência em grandes marcas e trabalha desde 2014 no McDonald’s, onde é o Diretor de Marketing e lidera o talentoso time que está batendo todos os recordes de vendas da história do Big Mac. João estudou em algumas das melhores universidades do mundo mas aprendeu no “Méqui” o que nenhuma aula teórica foi capaz de ensinar: que o resultado sempre vem quando o consumidor ama muito tudo isso.

Colunista do UOL

18/11/2020 04h00

Uma candidata a vereadora fez toda a sua campanha eleitoral divulgando o número errado e descobriu isso apenas quando foi votar. Uma empresa de telefonia encheu a cidade de outdoors pedindo para as pessoas visitarem o site errado. Uma padaria lançou um “sorvete de uva sabor limão”. E uma marca de lingerie deixou uma modelo sem umbigo quando foi dar um trato no Photoshop.

Seria cômico. Se não fosse marketing.

Dizem que metade de tudo que investimos em publicidade é desperdício e que o problema é que não sabemos qual metade é essa. Mas há casos em que não fica dúvida alguma.

Outro dia cliquei sem querer em uma propaganda de viagem. Fiquei meses sendo perseguido por anúncios de pacotes turísticos. Agora navego nas redes morrendo de medo de clicar por engano um anúncio de sex shop.

Quando minha filha era uma bebezinha, algumas vezes precisei ajudá-la a tirar uma soneca no carro. Usava alguma playlist no YouTube com músicas de ninar, daquelas bem tranquilinhas, que acalmam a respiração. Mas bem no meio das músicas sempre aparecia uma propaganda de uma marca “X”, usando um rock pesado e gritando uma promoção imperdível. Ei, marca “X”, essa vergonha você passa no crédito, no débito ou no Pix? (meme atualizado com as novidades recentes do mercado financeiro).

Se é errando que se aprende, está fácil fazer um MBA em Marketing analisando as escorregadas por aí. Um dos erros mais comuns é o de mirar no público-alvo errado. Observe com cuidado os anúncios em uma revista de moda, um canal de esportes ou um site sobre maternidade. Sempre há alguma coisa completamente “nada a ver com o contexto” ali no meio. Falar com o consumidor errado é tão absurdo quanto anunciar roupa para neve no intervalo da novela no Brasil. Dinheiro rasgado.

Outro deslize que me tira do sério é distribuir amostras grátis de um produto de baixa qualidade. Mandar aquele resto de brownie que está prestes a estragar como um brinde para os clientes do seu restaurante no delivery vai destruir mais do que construir, mesmo sendo um presente.

Há ainda os que vendem “benefícios irrelevantes”. Imagine um xampu que se apresente como a melhor opção porque vem com o “poder da água”. Ou um relógio que se gaba por ser “perfeito para destros ou canhotos”. Nós, marketeiros, adoramos fazer isso. Repare bem quantas coisas assim vemos por aí.

Definitivamente, marketing não é coisa para amadores. Ainda que seu sobrinho, sua cunhada, aquele vizinho ou a amiga de infância mostrem ter alguma habilidade para fazer vídeos legais ou editar fotos, tome muito cuidado ao entregar um investimento e expectativas de resultados para pessoas sem experiência. Fazer marketing bem feito é mais difícil do que você imagina. Não é apenas bom senso. Nem apenas sobre ser criativo.

Veja o orçamento de marketing como um investimento que vai deixá-lo feliz pelo seu retorno, e não pela piada. Mas se você quer dar risada com alguns desses casos, recomendo um perfil que se dedica apenas a homenagear essas pérolas: Twitter. Dar risada dos deslizes dos outros, isso sim, não custa nada.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Fonte: https://economia.uol.com.br/colunas/joao-branco/2020/11/18/marketing-digital-comedia-humor-investimento.htm