Sem o auxílio emergencial, o que fazer quando as contas não fecham?

Gabriela Chaves

Gabriela Chaves é economista e fundadora da NoFront – Empoderamento Financeiro, plataforma que ensina educação financeira a partir de músicas de RAP. Também é mestranda em Economia Política Mundial pela UFABC e pesquisadora do NEPAFRO – Núcleo de Estudos Afro-Americanos, nas áreas de gênero, raça e trabalho. Em 2020, pela Editora Senac São Paulo, lançou o livro “Economia do Setor Público”.

04/02/2021 04h00

Você tem ideia do desespero de uma mãe com dificuldade de alimentar seus filhos? Essa é a realidade de milhões de mulheres chefes de família nesse momento, com o fim do auxílio emergencial.

No meu último texto, escrevi sobre a incompetência e irresponsabilidade do atual governo para com as famílias mais pobres. Pela primeira vez, sofri ataques virtuais daqueles que insistem em apoiar o governo genocida de Jair Bolsonaro. Extremamente violento, esse episódio foi importante, porque me fez refletir profundamente sobre a minha missão.

“”Essa porr* é um campo minado
Quantas vezes eu pensei em me jogar daqui?
Mas aí, minha área é tudo o que eu tenho
A minha vida é aqui, eu não consigo sair
É muito fácil fugir, mas eu não vou
Não vou trair quem eu fui, quem eu sou”

Considero que “Fórmula Mágica da Paz”, dos Racionais Mc’s, é um retrato desse momento que vivemos. E foi ouvindo essa música que eu novamente tive a certeza de seguir no meu compromisso: fortalecer a base, compartilhando conhecimento.

Como cantou Mano Brown em “Jesus Chorou”, “eu sei e você sabe o que é frustração: máquina de fazer vilão”. Eu quero que você saiba que você não está só nessa dificuldade. Milhões de pessoas no Brasil estão, neste momento, vendendo o almoço para pagar a janta. Não se culpe e também não aceite essa condição. O sistema quer que você acredite que a sua situação econômica é sua culpa, mas não é.

Enquanto os 1.000 bilionários mais ricos do mundo recuperaram suas fortunas em nove meses, a estimativa da OXFAM é de que as pessoas mais pobres podem levar até dez anos para voltar ao patamar econômico pré-crise. Percebe como é perverso?

Se o desespero bater e suas contas não fecharem, preste bastante atenção: priorize o sustento básico da sua família. Alimentação, saúde e moradia são as prioridades nesse momento. O pagamento das dívidas deve acontecer depois que você consegue garantir o mínimo para a sua família.

Caso falte dinheiro para quitar todas as suas dívidas, não é o fim do mundo. O governo tem dívidas, as empresas têm dívidas e as famílias também. Em primeiro lugar, priorize o pagamento dos pequenos fornecedores e trabalhadores informais, eles dependem muito desse dinheiro para sobreviver. Em segundo lugar, realize o pagamento das dívidas de juros maiores, porque essas dívidas são as que crescem numa velocidade maior. Além disso, SEMPRE negocie o pagamento de dívidas em atraso.

Não perca o seu sono por causa de dívidas com o banco. Eles não só vão sobreviver, como continuarão expandindo seus lucros, como fizeram durante a pandemia.

Mantenha-se sã e viva. A sua família precisa de você. A educação financeira não muda a desigualdade estrutural do sistema capitalista. Mas vai nos dar ferramentas para conquistar dignidade e qualidade de vida.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Fonte: https://economia.uol.com.br/colunas/gabriela-chaves/2021/02/04/o-que-fazer-quando-as-contas-nao-fecham.htm