Sem alarde, Gabriel Sara é peça-chave no líder São Paulo

Rodrigo Coutinho

Rodrigo Coutinho é jornalista e analista de desempenho. Acredita que é possível abordar o futebol de forma aprofundada e com linguagem acessível a todos.

Colunista do UOL

02/01/2021 04h00

Projeção é uma palavra muito usada no universo dos scouts e analistas de desempenho. Ela versa sobre o potencial de evolução, o nível que um atleta jovem pode alcançar, e a partir daí sabe-se se o jogador terá um bom rendimento em determinada realidade ou servirá a um contexto específico. Gabriel Sara, em sua primeira temporada estabelecida nos profissionais do São Paulo, mostrou que pode chegar longe.

Gabriel nunca foi um atleta muito badalado nas divisões de base. Por mais que sempre tenha tido destaque na ótima formação tricolor, não chegou a disputar competições importantes em nenhuma das seleções inferiores. Sempre despertou interesse dos mais atentos por sua facilidade de adaptação a diferentes funções e a qualidade técnica, bem como uma boa ”tomada de decisão” para a idade.

Ele chegou ao profissional e aprimorou essas questões. Aos 21 anos fez seu primeiro ano ”cheio” no time principal do São Paulo. Apareceu pela primeira vez na categoria em 2017, quando foi relacionado para dois jogos por Dorival Junior. Estreou no final da partida contra o Bahia, pela última rodada do Brasileirão daquele ano. Atuou apenas seis minutos.

Só foi voltar a receber oportunidades nos profissionais com Fernando Diniz, já em 2019. Entrou em seis jogos no Campeonato Brasileiro e foi titular contra o CSA na 38ª rodada, quando inclusive deu uma assistência para gol. Após uma lesão no quinto metatarso do pé esquerdo num treinamento em janeiro, voltou a ser aproveitado depois da parada em função da pandemia e não saiu mais do time.

Sara se enquadra muito bem naquilo que Diniz gosta. É um meio-campista com capacidade de tabelar e triangular com os companheiros em espaços curtos. Acelerar ou cadenciar o ritmo. Raciocina rápido. Possui mobilidade para sempre aparecer no setor em que a bola está, algo que o treinador cobra de seus meias. Parte da direita, mas roda o campo todo. ”Desce” pra auxiliar na saída de bola, flutua pro meio, pra esquerda, e infiltra.

A capacidade de atacar espaços nas costas da defesa rival é outro traço interessante de seu jogo. É daqueles meias que podem servir os companheiros com passes precisos e boa visão, ou chegar nos metros finais para finalizar. Precisa ter um pouco mais de concentração em algumas partidas e lidar melhor quando é pressionado de costas para o gol rival. Detalhes que o farão ainda melhor.

– O Sara chegou no clube para ”alojar” com 14 anos. Mas vinha regularmente desde os 13. Seu desempenho sempre foi destaque, e seu empenho nos treinos e jogos chamava a atenção de todos. Sua evolução aconteceu naturalmente, por estar disposto a aprender e ouvir os profissionais. Dedicado e inteligente. É um atleta tímido, mas observador e atento a detalhes. Uma pessoa maravilhosa de estar ao lado, além de muito disciplinado – conta Pedro Smania, coordenador de futebol de base do São Paulo.

Atualmente jogando como meia-direita em um 4-4-2, o atleta já foi escalado como um ”falso ponta’ em um 4-2-3-1, sempre saindo dos lados para o centro. Como meia-central por trás do centroavante. E como meia-esquerda em um 4-3-3. Recentemente foi improvisado como segundo homem de meio-campo em determinados momentos das partidas por Diniz.

Outro fator bastante cobrado no futebol atualmente é a participação dos homens mais ofensivos quando o adversário está atacando. Sara mostra dedicação e força física para cumprir a função. Recentemente aprimorou o tempo de reação para as transições defensivas e reage mais rápido e intensamente quando o Tricolor perde a bola.

O bom posicionamento corporal para receber entre as linhas de meio e defesa do time rival também chama a atenção, assim como as finalizações precisas de média distância e a capacidade para cobrar faltas colocadas. Sara ainda mostra uma boa frequência com a perna direita, principalmente por se tratar de um canhoto.

Cravar onde um atleta de 21 anos chegará é impossível. Diversas coisas podem influenciar no desempenho e atrapalhar o prosseguimento da carreira. Desde questões pessoais a escolhas erradas. O fato, porém, é que Gabriel Sara mostra-se maduro para voos ainda maiores.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Fonte: https://www.uol.com.br/esporte/colunas/rodrigo-coutinho/2021/01/02/sem-alarde-gabriel-sara-e-peca-chave-no-lider-sao-paulo.htm