Renault inovou com turbo e foi 12 vezes campeã antes de virar Alpine na F-1

Rodrigo Mora

O blog Mora nos Clássicos contará as grandes histórias sobre as pessoas e os carros do universo antigomobilista. Nesse percurso, visitará museus, eventos e encontros de automóveis antigos – com um pouco de sorte, dirigirá alguns deles também.

Colunista do UOL

14/01/2021 10h13

(SÃO PAULO)Quando a Renault estreou na Fórmula 1, em 16 de julho de 1977, sua história nos esportes a motor já era relevante e longeva, pois os irmãos Louis, Fernand e Marcel logo sacaram que corridas de carros eram um eficaz instrumento de publicidade para a empresa fundada por eles em 1899. Em pouco tempo veio a primeira vitória, durante uma prova entre Paris e Viena, com um Type K pilotado por Marcel, em 1902

Outras marcas importantes no automobilismo foram o triunfo do 40CV no Monte Carlo Rally de 1925, a criação da categoria monomarca Renault 8 Gordini Cup nos anos 1960, o primeiro World Rally Championship vencido por um Alpine A110 (1973) e a vitória em Le Mans com um Alpine A442B em 1978.

Na F-1, a Renault tem uma carreira igualmente bem-sucedida com 12 títulos mundiais: dez como fornecedora de motores e dois como equipe. Hoje a marca, que passa a se chamar Alpine na Fórmula 1, apresentou o carro da temporada 2021.

1977 – Quase dois anos após o início aos testes dos motores 32T e 33T (ambos V6, de 1,5 litro, com diferentes tamanhos e cursos dos pistões), a Équipe Renault Elf apresenta oficialmente o RS 01 no dia 10 de maio.

Coube a Jean-Pierre Jabouille – campeão europeu da F-2 no ano anterior com um Renault – estrear o RS 01, quando a temporada já estava na décima etapa. Depois daquele GP de Silverstone, o primeiro carro de Fórmula 1 empurrado por um motor turbo correu em Zandvoort (Holanda), Monza (Itália), Watkins Glen (EUA) e Mosport Park Mosport (Canadá).

1978 – Os primeiros três pontos da Équipe Renault Elf são conquistados no GP de Watkins Glen (EUA), penúltima etapa da temporada. Depois de nove abandonos, Jean-Pierre Jabouille chega em quarto lugar naquele 1º de outubro. À sua frente terminaram Carlos Reutemann (Ferrari), Alan Jones (Williams) e Jody Scheckter (Wolf).

1979 – A primeira vitória – tanto da equipe quanto de um motor turbo – vem na primeira temporada que a Renault disputa inteiramente e com dois pilotos. Em alguma medida, a conquista de Jean-Pierre Jabouille foi ofuscada pela lendária disputa entre seu par René Arnoux (outro campeão europeu de F2 oriundo da própria Renault) e o ferrarista Gilles Villeneuve, que no fim leva a melhor e acaba em segundo lugar. O palco não poderia ser mais apropriado: o circuito de Dijon-Prenois, na França.

1980 – Com duas vitórias de René Arnoux (Brasil e África do Sul) e uma de Jean-Pierre Jabouille (Áustria), a Renault termina o campeonato de construtores em quarto lugar, apenas três anos depois de iniciar sua aventura na categoria mais importante do automobilismo. Curiosidade: nas duas provas vencidas por Arnoux, Jabouille fora o pole-position; quando este venceu, Arnoux havia largado na frente.

1981 – Alain Prost chega ao time francês após um ano de McLaren, equipe pela qual estreou na F-1. Novamente o circuito de Dijon-Prenois é um palco importante para a Renault: é lá que Prost conquista sua primeira vitória na categoria. Mais duas viriam em Zandvoort (Holanda) e Monza (Itália). O futuro tetracampeão termina o campeonato em quinto, quatro posições à frente do companheiro Arnoux. Embora some um considerável número de abandonos (nove de Prost e seis de Arnoux), a dupla conduz a Renault à terceira posição do campeonato de construtores.

1982 – Novamente a Renault termina a temporada na terceira colocação, com duas vitórias de Prost e duas de Arnoux – que fecham o ano em quarto e sexto, respectivamente. Novas tecnologias são experimentadas pela equipe, como injeção de gasolina por comando eletrônico, caixa de câmbio transversal e suspensões com correção da distância do solo.

1983 – Ano que marca a partida de René Arnoux (para a Ferrari), a chegada do americano Eddie Cheever, o vice-campeonato de Prost (que ficou atrás de Nelson Piquet por apenas dois pontos), o vice-campeonato da Renault e o primeiro título vencido por um motor turbo (introduzido seis anos atrás pela equipe francesa). Nessa temporada a Renault também passa a atuar como fornecedora de motores para as Lotus de Nigel Mansell e Elio de Angelis.

1984 – Depois de quatro temporadas prolíficas, a Renault atravessa um ano ruim: substitutos de Alain Prost e Eddie Cheever, o britânico Derek Warwick e o francês Patrick Tambay não vencem, terminam o campeonato apenas na sétima e décima primeira posições respectivamente e levam a Renault à quinta colocação na disputa dos construtores. Contudo, amplia o fornecimento de motores para a Ligier de Andrea de Cesaris e François Hesnault.

1985 – No segundo ano de Fórmula 1, Ayrton Senna conhece os motores da Renault ao assumir o cockpit da Lotus e anota suas primeiras vitórias na categoria: Estoril, em Portugal, e Spa-Francorchamps, na Bélgica. O brasileiro, inclusive, é quem leva o nome da fabricante francesa à melhor posição naquele campeonato, terminando o ano na quarta posição. Lotus e Ligier fecham como quarta e sexta, enquanto a Renault encerra na sétima posição sua última temporada como equipe.

1986 – Numa temporada dominada por McLaren e Williams, a Lotus de Senna leva o nome Renault – agora somente produtora de motores – ao topo do pódio em Jerez (Espanha) e Detroit (EUA). O brasileiro termina o campeonato na quarta posição, atrás de Alain Prost, Nigel Mansell e Nelson Piquet; enquanto a equipe inglesa é a terceira. A francesa Ligier e a inglesa Tyrrell, também dotadas de propulsores Renault, são quinta e sétima colocadas em 1986.

1987 – Primeira temporada de ausência completa da Renault na Fórmula 1 desde sua estreia, em 1977. Ao menos nas pistas, pois a empresa trabalha em novos motores aspirados – entre eles um 3,5 litros V10, chamado de RS1 – para atender o regulamento, que em 1989 baniria o turbo.

1989 – Após um ano de testes, o RS1 estreia na Williams. Que termina o campeonato na segunda colocação, atrás somente da imbatível McLaren de Senna e Prost – o francês se torna tricampeão naquele ano. O retorno bem-sucedido à categoria como fornecedora de motores vem da terceira posição do italiano Riccardo Patrese e do quinto lugar do belga Thierry Boutsen no campeonato. A parceria Williams-Renault será um dos casamentos mais vitoriosos e emblemáticos da Fórmula 1.

1990 – Estreia do motor RS2, agora montado no chassi FW13B. Com o domínio da McLaren e a ascensão de Ferrari e Benetton, a Williams-Renault – vitoriosa com Patrese em Ímola (San Marino) e Boutsen em Hungaroring (Hungria) – encerra o ano na quarta posição.

1991 – Ao volante do FW14, de 700 cv, Nigel Mansell volta à Williams como substituto de Thierry Boutsen e termina o ano na segunda colocação, mesma posição da equipe no Campeonato de Construtores.

1992 – Desenvolvido por Adrian Newey e o engenheiro Patrick Head, o FW14 teve a transmissão semiautomática e o controle de tração aprimorados, além de receber a revolucionária (e polêmica) suspensão ativa – tecnologias que lhe renderam a fama de “carro de outro planeta”. Mansell garante o título já na décima primeira prova, faltando ainda cinco para o fim da temporada. Com dez tentos no total (nove do inglês e uma de Patrese), a Williams-Renault vence também o Campeonato de Construtores.

1993 – Outra temporada brilhante para a Williams-Renault, coroada pelo tetracampeonato de Alain Prost (que voltara à escuderia naquele que seria seu último ano na F-1) e o bicampeonato de construtores. Destaque para o motor RS5, de 770 cv, também destinado às Ligier de Martin Brundle e Mark Blundell.

1994 – Ayrton Senna volta a pilotar um bólido equipado com motor Renault, mas o reencontro rende apenas três pole positions: Brasil, Japão e San Marino – este para sempre lembrado como o último GP disputado pelo brasileiro, morto após bater na curva Tamburello. Senna foi substituído por David Coulthard e depois Nigel Mansell, que vence uma última vez com a Williams-Renault na Austrália. Seu companheiro Damon Hill fica a um ponto de conquistar o campeonato, vencido pelo alemão Michael Schumacher, de Benetton. Sem clima de comemoração, a equipe anota mais um título.

1995 – Reelaborado, o regulamento para aquela temporada limitava a cilindrada dos motores em 3 litros. A Renault foi a fabricante mais competente na afinação do novo propulsor, o RS7 V10, pois das 17 provas da temporada venceu 16: cinco com um carro da Williams e 11 com a Benetton, que naquele ano abandonara a Ford. Schumacher é bicampeão, Hill vice, a Benetton conquista seu primeiro campeonato e a Williams-Renault fica em segundo.

1996 – A marca francesa apresenta o RS8, de 760 cavalos a 14.500 rpm, que empurra tanto o Williams FW18 quanto o Benetton B196. Com oito vitórias de Damon Hill (campeão daquele ano) e quatro do estreante Jacques Villeneuve (vice), a equipe inglesa outra vez domina e é campeã. A italiana, que passa a ter Jean Alesi e Gerhard Berger, fecha a temporada no terceiro posto.

1997 – Agora titular após a saída de Hill, Jacques Villeneuve soma sete vitórias e é campeão pela Williams-Renault, somando quase o dobro de pontos em relação ao vice, Heinz-Harald Frentzen, seu companheiro de equipe. Entre 1980 e 1997, a Williams foi campeã nove vezes: duas com motor Ford, duas de Honda e cinco de Renault – que novamente anuncia sua retirada da Fórmula 1.

1998 – Com a Renault novamente fora da categoria, quem assume a paternidade do motor RS9 é a Mecachrome, que desde 1983 monta os propulsores da marca francesa destinados a outras equipes. Rebatizado como GC37-01, equipa as também renomeadas Williams-Mecachrome e Benetton Playlife. Ainda forte na F-1, a equipe inglesa encerra a temporada na terceira colocação, enquanto a italiana é a quinta.

2000 – Dura pouco o distanciamento da Renault da Fórmula 1: em meados do ano, a fabricante compra a Benetton, sua antiga cliente.

2001 – Equipada com o RS21, um 3.0 V10 de 800 cv a 17.200 rpm, a Benetton-Renault é conduzida por Giancarlo Fisichella e Jenson Button à sétima colocação no mundial de construtores no ano de despedida da escuderia italiana, que em 260 GPs alcançou 27 vitórias, 102 pódios, dois títulos de pilotos e um de construtor.

2002 – Agora chamada Renault F1 Team, tem como pilotos o inglês (e futuro campeão) Jenson Button e o italiano Jarno Trulli, empurrados por um motor de 825 cv a 17.500 rpm. Com 221 pontos acumulados em 17 provas, a Ferrari de Michael Schumacher e Rubens Barrichello é campeã; atrás dela vêm Williams-BMW (92), McLaren-Mercedes (65) e Renault, com 23 tentos – e nenhum pódio.

2003 – Com a ida de Button para a BAR-Honda, Fernando Alonso assume seu cockpit. E já no ano de estreia como titular da equipe o espanhol sobe ao pódio três vezes: é terceiro colocado na Malásia e no Brasil e vencedor na Hungria. A Renault é novamente quarta colocada entre os construtores.

2004 – Sem vitórias, mas com resultados consistentes, Alonso fecha o ano em quarto, enquanto a Renault fica atrás apenas da campeã Ferrari e da vice BAR-Honda. Trulli vence uma prova (Mônaco) em seu último ano na equipe.

2005 – Enquanto provedora de motores, a Renault já acumulava seis títulos mundiais, cinco com a Williams e um com a Benetton. Mas o primeiro como equipe veio quando entregou o motor RS25 em sintonia com o chassi R25 para a dupla Giancarlo Fisichella e Fernando Alonso, que somou oito vitórias na temporada. Sete delas do espanhol, também campeão naquele ano.

2006 – Parecia um repeteco do ano anterior: sete tentos de Alonso, um de Fisichella e título mundial tanto para o espanhol quanto para a equipe, que estreara um V8 de 2,4 litros e 800 cv e um câmbio de sete marchas.

2007 – Depois do bicampeonato, Alonso segue para a McLaren, onde encontra o novato Lewis Hamilton. Com apenas um pódio na temporada e a desclassificação da McLaren, a Renault acaba a temporada no terceiro posto. Contudo, ao retomar a função de fornecedora de motores, planta a semente para outro casamento próspero. Desta vez com a Red Bull.

2008 – Após um ano turbulento na McLaren, Alonso retorna à Renault, onde é levado a protagonista de um escândalo durante o GP de Cingapura: seu par, Nelson Piquet Jr., bate propositalmente na décima quarta volta para beneficiar o piloto principal da equipe, que havia feito um pitstop antecipado para, durante o período de bandeira amarela, saltar à frente dos pilotos em rumo aos boxes e vencer a corrida. A prova seguinte, no Japão, também teve Alonso no lugar mais alto do pódio. A Renault foi quarta colocada ao fim da temporada.

2009 – Uma das campanhas mais malsucedidas da Renault. Além de ser apenas a oitava no campeonato, vê o chefe da equipe, Flavio Briatore, e o engenheiro Pat Symonds deixarem o time após Piquet Jr. denunciar o “Crashgate” – a manobra antidesportiva de Cingapura. Por outro lado, a Red Bull-Renault começa a decolar com os vice-campeonatos de Sebastian Vettel – e da própria equipe austríaca, o que prova a competência do motor RS27.

2010 – Fernando Alonso deixa novamente a equipe francesa, partindo agora para a Ferrari. A Renault confia seus carros ao polonês Robert Kubica e ao russo Vitaly Petrov, que contam com o chassi R30 e o motor RS27, ainda em desenvolvimento. O mesmo motor empurra o Red Bull RB6 de Sebastian Vettel e Mark Webber, dupla que conquista cinco e quatro vitórias, respectivamente. Se bateram na trave em 2009, Vettel e Red Bull descobrem neste ano como se sente um campeão mundial.

2011 – Outra temporada sem a Renault como equipe, apenas como provedora de motores. Além da Red Bull, novamente campeã com o bi de Vettel, o RS27 está sob o casco das equipes Lotus-Renault GP (que teve Bruno Senna substituindo o alemão Nick Heidfeld nas sete etapas finais) e a Team Lotus – uma “coincidência” de nomes que obviamente causou confusões ao longo do ano. Vitórias do motor Renault com a Red Bull na Austrália, na Malásia, na Turquia, na Espanha, em Mônaco, na Europa, na Bélgica, na Itália, em Cingapura, na Coreia do Sul, na Índia e no Brasil.

2012 – A Renault amplia sua cartela de clientes: além da agora tricampeã Red Bull, abastece a Lotus, a Caterham e novamente a Williams. O motor RS27 leva um piloto ao topo do pódio por nove vezes.

2013 – Os tetracampeonatos da Red Bull e de Sebastian Vettel marcam a último ano em que um motor Renault foi campeão. O piloto alemão, aliás, foi avassalador: venceu trezes vezes, sendo nove consecutivas. O motor francês foi vitorioso 14 vezes (uma com Kimi Räikkönen, de Lotus-Renault).

2014 – O ano marca a chegada dos complexos motores híbridos, batizados de Energy F1 na Renault e que abastecem quatro escuderias: Red Bull, Lotus, Toro Rosso e Caterham. O australiano Daniel Ricciardo é o único a quebrar a hegemonia da Mercedes, levando seu Red Bull-Renault ao primeiro lugar três vezes. A equipe alemã vence as outras 16 provas, ora com Nico Rosberg, ora com Lewis Hamilton, o campeão de 2014. Ricciardo finaliza a temporada em terceiro, enquanto a Red Bull é vice.

2015 – Sem vitórias, a Red Bull-Renault e a Toro Rosso-Renault terminam o ano na quarta e sétima posições, respectivamente. Porém, mais uma vez a Renault prepara seu retorno à categoria como equipe.

2016 – Renault Sport Formula One Team é o novo nome da equipe, que tem como pilotos o dinamarquês Kevin Magnussen e o inglês Jolyon Palmer (a dupla soma apenas oito pontos). Exceto por uma vitória de Max Verstappen na Espanha e uma de Daniel Ricciardo na Malásia, o motor R.E.16 – presente tanto na Renault quanto na Red Bull – não tem chances contra o Mercedes, que vence 19 vezes e leva Nico Rosberg ao título.

2017 – No ano em que comemora 40 anos de F-1, a Renault apresenta o motor R.E.17 e o chassi R.S.17. Termina o campeonato em sexto, mas vê sua unidade híbrida levar a Red Bull à terceira colocação no Mundial de Construtores.

2018 – A escuderia mantém a dupla do ano anterior, Nico Hülkenberg e Carlos Sainz, e entrega o propulsor R.E.18 para a Red Bull e agora também à McLaren. A temporada mostra uma evolução da equipe, de volta ao quarto posto ao fim do campeonato.

2019 – O bem-sucedido casamento de 12 anos entre Red Bull e Renault chega ao fim quando a escuderia troca a fabricante francesa pela Honda. A McLaren-Renault termina em quarto entre os construtores, com 145 pontos; com 91 acumulados por Daniel Ricciardo e Nico Hülkenberg, a Renault fica em quinto.

2020 – Daniel Ricciardo e Esteban Ocon levam a equipe ao quinto posto. Contudo, novamente os motores Renault se mostram competentes, já que o E-Tech 20 põe a McLaren na terceira posição no campeonato. E é para a escuderia inglesa que Ricciardo seguirá no próximo ano. No seu lugar estará Fernando Alonso, que havia se retirado da categoria no final de 2018 e fará sua terceira passagem pelo time, agora Alpine F1 Team.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Fonte: https://www.uol.com.br/carros/colunas/mora-nos-classicos/2021/01/14/renault-foi-pioneira-e-campea-antes-de-virar-alpine-na-formula-1-relembre.htm