Porsche Taycan: dá para ser um carro elétrico e também esportivo?

Rafaela Borges

Rafaela Borges é jornalista automotiva desde 2003, com passagens por Carsale e Estadão. Escreve sobre o mercado de veículos, supercarros, viagens sobre rodas e tecnologia.

Colunista do UOL

07/12/2020 04h00

O barulho faz falta. Ele até existe, mas é estranho para quem está acostumado ao som dos motores a combustão. O que se escuta nas acelerações fortes é um ruído que parece meio eletrônico. Não instiga, e não é por causa dele que você vai comprar um Porsche Taycan.

Mas, ao assumir o volante do sedã esportivo 100% elétrico, você, fã de carros rápidos, impetuosos e prontos para enfrentarem uma pista, vai mudar de ideia sobre os modelos que abandonaram os motores a combustão. O poder de acelerar, a brutalidade nas saídas de curva e o equilíbrio são de arrepiar e disparar o coração.

Com o Porsche Taycan, não estamos falando de um 911 Turbo S, o suprassumo da esportividade para os fãs puristas da marca alemã. Nem de um 911 GT3, que guiei no autódromo Velo Città, no interior de São Paulo, no mesmo dia em que conheci o carro elétrico.

O GT3 é quase um carro de corrida, e traz motor aspirado cujo som, não abafado pelas cada vez mais comuns turbinas, remetem a um tempo que competição e sustentabilidade corriam em linhas paralelas. Mas o mundo mudou. A Porsche, como outras fabricantes de esportivos, e preparadoras de marcas de luxo, tem de se adequar a eles.

O carro elétrico foi a resposta escolhida pela maior parte das montadoras para as restrições às emissões de poluentes diretas causadas pelo veículo a combustão, especialmente na Europa. Em alguns anos, boa parte dos países do continente vai restringir bastante, ou até proibir, em grandes centros, a circulação de modelos a gasolina e a diesel.

A Porsche produz carros com aptidão para as pistas, mas a base dos negócios da montadora é composta por modelos que são usados no dia a dia, mesmo que apenas aos finais de semana, em vias públicas. Para a marca, não há alternativa: é preciso investir na eletrificação.

E isso é mesmo um grande desafio para uma marca especializada em esportividade. Não é só a ausência do som: há um preconceito contra outros atributos do carro elétrico. Quem não conhece profundamente o conceito tende a acreditar que são veículos meramente racionais, que não trazem nenhum prazer ao dirigir e são lentos.

Já há muitos carros no mercado que derrubam esses preconceitos. O Taycan vai além: mostra que o elétrico pode ser esportivo também. E que pode, inclusive, conquistar o cliente mais purista, talvez até aquele do 911 Turbo S – com a turma do GT3, essa missão é mais complicada, mas este nem é o objetivo da marca.

Taycan tem aceleração de 911 Turbo S

A nova geração do 911 Turbo S é um dos carros mais rápidos do mundo para acelerar de 0 a 100 km/h, missão que cumpre 2,7 segundos. O Taycan Turbo S, versão topo de linha, cumpre essa missão em 2,8 segundos, apenas um décimo de segundo a menos.

Em uma competição, essa diferença pode significar um abismo. Mas, no caso dos dois carros, a missão não é competir, e sim se divertir ao volante. O Taycan Turbo S tem entre 625 e 761 cv. Tanto quanto a potência, a capacidade de aceleração é determinada pelo torque de mais de 100 mkgf.

Essa força é entregue de maneira instantânea, a partir do momento em que se aciona o pedal do acelerador. Em motores a combustão, é preciso atingir uma determinada faixa de rotação para o torque máximo entrar em ação.

Com isso, a sensação é de que, na hora de acelerar, o carro vai decolar, tamanha é a capacidade de ganhar velocidade. Esse comportamento nenhum carro a combustão oferece. Nas saídas de curva, apesar do extremo equilíbrio (leia abaixo), é bem comum levar um susto nas primeiras voltas, por causa do ímpeto do torque entregue às rodas.

Equilíbrio

Quando o assunto é equilíbrio, o Taycan também não fica muito atrás do 911 Turbo S. A bateria sob o assoalho deixa o centro de gravidade mais baixo e os motores elétricos formam um sistema de tração 4×4.

A distribuição de peso é perfeita, com 49% na frente e 50% atrás. Há ainda muitos apêndices aerodinâmicos, que ajudam a reduzir o arrasto, além de deixar o carro bem grudadinho no chão.

Com toda essa construção, o Taycan parece ter sido feito para contornar perfeitamente as curvas de uma pista. Mas se engana quem pensa que ele não é capaz de oferecer ainda mais diversão. Em uma volta rápida com o piloto de testes da Porsche, o elétrico fez até drift. O segredo é saber tocar muito bem.

O que não é tão legal

Ruído do motor é questão de gosto. Eu gosto. Então, admito que, com todo o ímpeto, a velocidade e a diversão proporcionados pelo Taycan, a sensação é de que estava faltando alguma coisa.

E, para quem gosta de trocar marchas, isso não dá para fazer. As hastes atrás do volante são para regeneração da bateria. O Taycan tem três marchas, mas elas são usadas de acordo com o modo de condução escolhido e do motor utilizado (dianteiro ou traseiro). Não há uma troca de marchas manual convencional.

Mas, ressalvas à parte, dá para dizer que o Taycan é um esportivo nato. E, quando o carro elétrico dominar o mundo, se isso de fato vier a ocorrer, modelos como ele vão garantir que, independente do tipo de motor usado, a diversão ao volante sempre vai existir. Dá para ser elétrico e esportivo. Mas, por enquanto, eu ainda fico com o 911 Turbo S. Quem sabe, no futuro eu mude de opinião.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Fonte: https://www.uol.com.br/carros/colunas/primeira-classe/2020/12/07/porsche-taycan-da-para-ser-um-carro-eletrico-e-tambem-esportivo.htm