Por que Papa Bouba Diop simboliza uma das últimas grandes zebras em Copas

Rafael Oliveira

Comentarista de futebol com passagens por Esporte Interativo e ESPN. Atualmente no Dazn. Sempre interessado em informações e análises do jogo em qualquer parte do planeta.

Colunista do Uol

29/11/2020 21h16

O senegalês Papa Bouba Diop morreu neste domingo. Ele já sofria com uma doença degenerativa e foi classificado pela Fifa como um herói de Copa do Mundo.

Em 2002, Senegal protagonizava uma zebraça no jogo de abertura da Copa. Venceu a forte e temida França por 1×0 em uma partida que ficou na memória de muitos.

Era a estreia do país em mundiais. Logo de cara, enfrentava a seleção mais dominante do período. Os franceses tinham vencido a Copa de 98 e a Euro 2000. Chegavam como favoritos ao torneio no Japão e na Coreia do Sul. Acabaram eliminados na primeira fase.

Mas quem deu o primeiro golpe foi Senegal. Até então, uma seleção bastante fora do radar. Pelo menos em relação aos nomes nas principais equipes do planeta (já que, coletivamente, havia sido vice-campeã africana naquele mesmo 2002).

Talvez o mais interessante daquele episódio seja justamente o recorte da transição no fluxo de informação. 2002 foi, possivelmente, a última Copa do Mundo vista com o caráter de “descobrir” jogadores ou times. Aquele encontro a cada quatro anos que apresentava novidades e ditava tendências.

Hoje, a ideia de enfrentar o desconhecido já é completamente ultrapassada. É inconcebível chegar a uma Copa do Mundo sem ter informações ou a possibilidade de acompanhar cada um dos jogadores nos mais diversos campeonatos, a cada semana, em qualquer parte do planeta.

Não que isso impossibilite a zebra. A Costa Rica de 2014 que o diga.

Senegal de 2002 teve aquele brilho da surpresa que empolga. E foi além daquela marcante vitória na abertura do torneio. Afinal, o país só caiu nas quartas, na prorrogação, diante da Turquia.

Aquela seleção era formada quase totalmente por jogadores que atuavam na França. As principais estrelas jogavam no Lens e no Auxerre. Não tinham grandes holofotes, mas vinham de boa temporada.

Tanto que a Copa do Mundo gerou uma expectativa jamais correspondida por alguns dos destaques, como El Hadji Diouf ou Salif Diao (ambos negociados com o Liverpool antes mesmo do mundial).

Papa Bouba Diop certamente não era o mais talentoso ou quem mais chamava atenção naquele time. Mas foi quem marcou o gol que eternizou aquele França 0x1 Senegal de Seul.

Um tipo de surpresa que tende a ser cada vez menos comum no futebol. Não que o jogo esteja mais previsível. E sim porque, com tanta informação ao longo do ciclo de quatro anos, é cada vez mais difícil “descobrir” uma seleção que choque o mundo positivamente.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Fonte: https://www.uol.com.br/esporte/colunas/rafael-oliveira/2020/11/29/por-que-papa-bouba-diop-simboliza-uma-das-ultimas-grandes-zebras-em-copas.htm