Por que o Chevrolet Onix RS bate na trave para ser futuro clássico

Rodrigo Mora

O blog Mora nos Clássicos contará as grandes histórias sobre as pessoas e os carros do universo antigomobilista. Nesse percurso, visitará museus, eventos e encontros de automóveis antigos – com um pouco de sorte, dirigirá alguns deles também.

Colunista do UOL

24/04/2021 04h00

(SÃO PAULO)Que o Onix RS corresponde a premissas visuais de esportividade, não se discute. Para-choques mais protuberantes na base abrigam uma grade preta, cor que se repete nas lentes dos faróis, na gravatinha da marca e nas rodas. O tom escurecido tem sido receita (manjada, mas infalível) adotada por muitos esportivos de corpo e alma. No lado esquerdo, o logotipo da versão é puro charme. E quem vê o hatch por trás e se depara com o saliente aerofólio prevê um frio na barriga.

Ao se repetir, porém, a receita mecânica é o anticlímax. Nada no RS se diferencia dos demais Onix. Ideal seria o motor 1.2 turbo (133 cv e 21,4 kgfm de torque) do Tracker casado com a transmissão manual de seis velocidades – o que nem é sonhar assim tão alto, pois está tudo ali na prateleira da marca.

Mas já nos contentaríamos apenas com um câmbio manual no lugar do automático (ambos de seis marchas). Seria mais condizente com a proposta esportiva e nem contradiria o conceito da estirpe RS, lançada com a primeira geração do Camaro em setembro de 1966 (como linha 1967). O cliente primeiro escolhia os motores – um 3.8 seis-cilindros em linha de 140 cv ou um 5.4 V8, de 210 cv ou 275 cv – e então encomendava pacote visual Rally Sport.

Curioso é que um Onix RS que abrisse mão apenas do câmbio automático divertiria tanto quanto um Corsa GSi, último hatch compacto da Chevrolet realmente esportivo, destacado do restante da gama pelo motor mais bravo (108 cv). Se ganhasse suspensão mais firme e direção mais acurada, então…

Não que o Onix RS seja moroso. Mas é uma questão de “mindset”. Guiando um Onix LTZ, o motorista se satisfaz com o que o motor 1.0 turbo (116 cv / 16,8 kgfm) e o câmbio automático entregam. Leve (1.085 kg), o carrinho arranca na frente nos semáforos e se garante nas ultrapassagens na estrada. E ainda consome pouco combustível. Tanto no uso urbano quanto no rodoviário, é o tipo de carro com quem você logo se entende e se dá bem.

Contudo, quando o mesmo carro troca o sobrenome LTZ pelo RS a percepção muda e o motorista não tira da cabeça que o Onix é até um bom carro para dirigir, mas que por pouco perde a chance de divertir mais e de ser levado a sério como esportivo – e incomodar o Renault Sandero R.S., mais digno da sigla que o acompanha e que hoje sai por R$ 87.690, algo não muito distante dos R$ 81.430 do Onix RS.

Exceto pelo plástico que circunda a alavanca do freio de estacionamento, de aspecto tosco, a cabine é um ambiente agradável aos olhos e ao toque, além de suficientemente espaçosa, confortável e ergonômica. E aqui nessa versão as costuras do volante e dos bancos são pintadas em vermelho, cor universal da esportividade que está também no painel e nas molduras das saídas de ar.

Mais uma vez você se lembra do potencial do Onix – e da chance que ele perde de ser um futuro clássico tivesse um quê além do visual.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Fonte: https://www.uol.com.br/carros/colunas/mora-nos-classicos/2021/04/24/por-que-o-chevrolet-onix-rs-bate-na-trave-para-ser-futuro-classico.htm