Peugeot 208: por que um dos principais carros de 2020 ainda sofre em vendas

Benê Gomes

Jornalista, produtor e roteirista, atua no setor automotivo desde 2001. É idealizador e diretor do programa Auto+, exibido pela RedeTV. Também dirige e apresenta o programa Momento Vox, no ar pela Band, e é colunista da rádio Transcontinental FM de São Paulo

Colunista do UOL

12/12/2020 04h00

Passado alguns meses do lançamento oficial, já dá para conferir se a estratégia da Peugeot para o novo 208 no Brasil foi acertada. Você deve lembrar dos argumentos da marca, enaltecendo o pacote tecnológico e o visual arrojado. Como se trata de um dos grandes lançamentos deste 2020 absolutamente atípico, marca e o próprio mercado criaram uma boa expectativa em cima da nova geração.

Construído sobre uma nova plataforma modular, começou bem sua história, com direito a prêmio de design na Europa. Mas, por aqui, neste momento, com pouco mais de três meses de vendas, ainda não dá para dizer que a Peugeot tem motivos para comemoração. Nos dois primeiros meses de comercialização, setembro e outubro, o 208 contabilizou apenas 906 unidades vendidas. Número indiscutivelmente modesto para um carro com essa proposta e com tanta novidade.

Para ver esse jogo virar fácil, nosso impulso natural é perguntar: mas por que a Peugeot não apostou logo em um preço agressivo? Esse é um fator decisivo para qualquer modelo, verdade, mas no caso do 208, é um ponto que já pode gerar discussão. Isso porque envolve diretamente um dos seus pontos positivos: a oferta de equipamentos de ponta e muitos itens de série. Ou seja, difícil falar em valor baixo para um carro muito requintado.

Pois foi assim que o novo 208 chegou por aqui, explorando um diferencial de respeito, o bom pacote de itens de apoio a condução. Na versão topo de linha, a Griffe, traz sistema de manutenção em faixa – que corrige o volante em caso de distração do motorista – leitor de placas de trânsito, controle automático do facho de luz alta e ainda a frenagem autônoma de emergência.

A situação só não é completa porque não tem o controlador de velocidade adaptativo, aquele que você pode determinar a velocidade e a distância do carro a frente. Mas ainda assim, esse conjunto é sim motivo para que o 208 seja visto em outro patamar.

Painel 3D

Pois se o pacote com recursos de condução já não fosse o bastante, o 208 tem esse atrativo que também empolga bastante quem o vê pela primeira vez. O painel de instrumentos com efeito visual em 3D, outro item diferente e que se junta ao também diferentão “i-cockpit”, proposta já conhecida da Peugeot formada por um volante pequeno, posicionada abaixo do painel de instrumentos.

No caso do painel em terceira dimensão, o que a marca fez foi aplicar a tecnologia holográfica e que projeta imagens com informações sobre o computador de bordo, por exemplo, sobre o conta-giros e velocímetro. Sim, é um belo efeito 3D e dá ainda pra você escolher o que quer ver.

No mais, o novo 208 tem aquilo de bom que já conhecemos dos modelos Peugeot, como o acabamento bem cuidado e, neste caso, também um desenho bonito e equilibrado. Igual ainda é o espaço reduzido para quem senta no banco de trás, mesmo com as novas e maiores dimensões externas.

Motor 1.6 aspirado é um problema?

É, falar do novo 208 sem tocar na questão do motor é praticamente impossível. Afinal, mesmo com tantos atrativos como comentei aqui, esse foi o ponto que mais chamou a atenção nele desde que a Peugeot confirmou que o modelo não contaria com um motor turbinado.

Mas usando o carro na rotina padrão – cidade e estrada, a verdade é que o motor 1.6 16V flex de 118 cavalos de potência e 15,4 Kgfm de torque vai bem sim. Ajuda nessa tarefa o câmbio automático de 06 velocidades, inclusive pelos bons números de consumo. O motor tem força suficiente para o tamanho do carro e, é preciso lembrar, se trata de um propulsor já bem adaptado à nossa realidade.

Mas na média, o 208 tem comportamento discreto, o que acaba desalinhando com o visual provocativo. Aí fica difícil não lembrar dos concorrentes diretos que utilizam motores de três cilindros turbinados e, para quem valoriza essa característica, garantem mais emoção ao volante.

Versão para vendas diretas é a saída para virar o jogo

O novo Peugeot 208 elevou seu nível e a Peugeot acabou reconhecendo – ainda que não oficialmente – que o preço estava atrapalhando. O sinal veio com o lançamento de duas novas versões, a Like e Like Pack. Ambas têm preços reduzidos, abaixo dos R$ 70 mil, um pacote de equipamentos mais enxuto e o câmbio é sempre manual.

E a Like, versão destinada exclusivamente para as vendas diretas, foi a responsável por garantir um novo cenário para o 208 em novembro. Foram 1.099 unidades emplacadas, um número ainda pequeno, mas que representa um crescimento importante em relação aos dois primeiros meses. Vamos ver se agora esse bom carro consegue iniciar sua virada no jogo.

Preço Peugeot 208 Griffe: R$ 95.990

Fonte: https://www.uol.com.br/carros/colunas/bene-gomes/2020/12/12/peugeot-208-por-que-um-dos-principais-carros-de-2020-ainda-sofre-em-vendas.htm