Pelo WhatsApp, ele realiza sonho de criança falar com herói na quebrada

Quebrada Tech

O Desenrola E Não Me Enrola é um coletivo de produção jornalística que atua a partir das periferias de São Paulo, investigando fatos invisíveis que geram grandes impactos sociais na vida dos moradores e moradoras dos territórios periféricos.

Tamires Rodrigues

12/05/2021 04h00

Antes da pandemia, covid-19, ele ficou sem opções de trabalho e renda.

Ao ver os boletos chegarem, Fernandes começou a pensar algumas alternativas para usar seu talento como animador de festa para conseguir sobreviver durante a pandemia.

Ao perceber que muitas crianças estão em casa sem poderem ir à escola, tendo o WhatsApp.

“Já vi pessoas que fazem videochamadas, mas não são muitas, né? Aqui em São Paulo, só eu faço”, diz Fernandes.

Ele se caracteriza como um personagem que a criança deseja e conversa com ela durante 10 minutos. Os valores pelo trabalho variam de acordo com a complexidade para usar e adquirir a vestimenta dos super-heróis.

Os personagens mais pedidos pelas crianças são o Hulk, Batman, Capitão América e Mickey. O trabalho com essas fantasias custa R$ 20, já com o Homem-Aranha custa R$ 10.

“A diferença dos preços dos heróis é que o Homem-Aranha é mais fácil de fazer, agora o Hulk, Batman, Capitão América e o Mickey são mais difíceis, preciso de duas pessoas para me ajudar a vestir”, afirma.

Muitos pais chegam até ele em busca de um diálogo diferenciado com seus filhos com a intenção de ajudar as crianças nas tarefas diárias, que muitas vezes os pais não conseguem entrar em acordo com os filhos.

“Nas videochamadas eu já conversei com muita criança: criança especial, criança que não come, não obedece, criança que faz xixi na cama e a mãe pede minha ajuda para dar uns conselhos”, diz.

“A história mais legal é de um menino que não tomava remédio, ele estava com a garganta inflamada, estava ruim. Aí eu liguei para ele vestido de Homem-Aranha falando que tinha que tomar o remédio para ficar forte, para ele me ajudar a lutar com os vilões. Então ele foi lá e tomou o remédio na mesma hora”, acrescenta.

Atualmente o animador divulga seu trabalho e obtém seus contatos por meio de conteúdos que ele mesmo produz e internet de baixa qualidade, quando o tempo está chuvoso em Suzano.

Com o seu trabalho em alta, ele revela que já chegou a fazer dez videochamadas por dia.

“A videochamada não é minha única renda, eu também faço festa infantil, só que está meio devagar”, afirma Fernandes, fazendo uma referência ao impacto da pandemia na sua atividade profissional.

“Eu gosto é de trabalhar com festa infantil e com heróis. Gosto mais desse trabalho do que outros empregos que já tive”, conclui.

Fonte: https://www.uol.com.br/tilt/colunas/quebrada-tech/2021/05/12/morador-de-suzano-transforma-videochamadas-em-espaco-de-festas-infantis.htm