Número de mulheres motociclistas no Brasil quase dobra em 10 anos

Arthur Caldeira

Arthur Caldeira, jornalista e motociclista (necessariamente nessa ordem) fundador da Agência INFOMOTO. Mesmo cansado de ouvir que é “louco”, anda de moto todos os dias no caótico trânsito de São Paulo.

Colunista do UOL

07/03/2021 04h00

Embora ainda haja muitos obstáculos, as mulheres têm conquistado o espaço que lhes pertence na sociedade. Não é atrás de um tanque, nem de um fogão ou, em casa, cuidando dos filhos, mas onde elas desejarem. Pode ser até ao guidão de uma moto.

Prova disso é que o número de mulheres habilitadas a pilotar motocicletas cresceu 95,7% entre 2011 e 2020, segundo informações do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito). Analisados pela Abraciclo, associação dos fabricantes de motos, os dados revelam que até novembro do ano passado, já havia 7.833.121 mulheres motociclistas no país. No início da década passada, elas somavam 4.002.094 de carteiras de habilitação na categoria A.

Esse crescimento tem sido mais significativo nos últimos anos. De 2017 para cá, mais de 985 mil mulheres tiraram sua licença para pilotar motos. Caso da consultora de tecnologia Bruna Cássia Silva Pereira, 31 anos, que tirou carta em 2018, pois precisava chegar mais rapidamente ao trabalho e economizar combustível. Só nessa faixa de motociclistas entre 26 a 30 anos, segundo dados do Denatran, o aumento de mulheres habilitadas na categoria “A” foi de 50,4% nos últimos anos.

Mobilidade urbana

Moradora de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, Bruna trabalhava em São Paulo, na região do Morumbi e era inviável vir de carro, pelo custo elevado do combustível, ou de transporte público, em função do tempo perdido.

Já devidamente habilitada, Bruna comprou uma scooter Honda PCX 150 para ir e voltar do trabalho. Pego gosto pelo guidão e até fez viagens com sua scooter. Rodou mais de 6.000 km até o Uruguai em 2019. “A moto para mim foi libertadora”, diz Bruna. Com o tempo, a jovem também quis evoluir de cilindrada.

Trocou a PCX por um scooter Kymco Downtown de 300 cc, com o qual viajou pelo Brasil. Hoje, Bruna pilota uma Royal Enfield Interceptor 650 e só torce para a situação da pandemia melhorar, para poder viajar com sua moto clássica por aí.

Instrumento de trabalho

Mas as mulheres não estão pilotando apenas para se locomover com mais agilidade e economia. Mikhaele Macedo Vieira é um exemplo de quem também adotou esse veículo como instrumento de trabalho durante a pandemia. “Antes eu usava a motocicleta como meio de locomoção de casa para o trabalho. Com as medidas de isolamento social, o restaurante em que eu trabalhava fechou e tive que sair à procura de algo para garantir meu sustento”, conta ela.

Hoje, Mikhaele trabalha com aplicativos de entrega e afirma que não trocará mais de profissão. “Nosso trabalho foi reconhecido e valorizado. Isso é gratificante. As pessoas agradecem por eu levar comida ou documentos até elas e permitir que fiquem seguras em suas casas”, enfatiza.

Segundo o presidente da Abraciclo, Marcos Fermanian, as fabricantes de motos estão atentas ao número de mulheres que pilotam motocicletas, que aumenta a cada ano. “É um público exigente. Por isso, o mercado precisa estar atento às suas necessidades. Hoje vemos um número crescente de mulheres que têm nas motocicletas sua fonte de renda, especialmente no cenário atual, em que os serviços de delivery passaram a ter grande papel social o que, consequentemente, deu às motocicletas mais protagonismo nas ruas e avenidas”, diz.

A motogirl Karla Carvalho confirma essa afirmação. Atuando como entregadora desde 2015, Karla criou, no ano passado, junto com três amigas, o grupo de WhatsApp Mulheres no Asfalto. O objetivo é ajudar aquelas que começaram a trabalhar nos serviços de entrega durante a pandemia.

“Algumas perderam o emprego e compraram uma motocicleta para garantir o sustento da família”, diz a motogirl. “Trocamos informações, principalmente sobre segurança e a importância do uso de equipamentos de proteção para garantir a integridade física”, explica Karla.

CUBs e scooters são as preferidas

Dados da associação dos fabricantes de motocicletas revelam que, em 2019, 28% daqueles que compraram uma moto nova eram do sexo feminino. Porém, entre os compradores de scooters, elas representam 39,3%, revelou uma pesquisa feita pela Honda junto aos compradores de modelos como a Elite 125, a PCX 150 e as scooters da linha SH, de 150 e 300cc.

Só como comparação, no caso de motocicletas urbanas, como a Honda CG 160, por exemplo, o público feminino responde por apenas 18% das vendas.

A advogada Eliane Ribeiro, 41 anos, é apaixonada por scooters. Habilitada na categoria A há 16 anos, desde sua primeira moto, sempre optou pelas scooters. “Ela é automática, fácil de pilotar e muito econômica”, justifica. Atualmente, já está em sua oitava scooter, uma Yamaha NMax 160 e até vendeu seu carro e só anda em duas rodas. A paixão pelas scooters é tão grande que ela até criou um grupo no Facebook para os proprietários de NMax.

Já entre as motonetas, também chamadas de CUB, como a Honda Biz, as mulheres são a grande maioria e até superam os homens. De acordo com a Abraciclo, 65% dos consumidores desse tipo de moto em 2019 eram mulheres.

Além da facilidade de pilotagem, por ter embreagem semiautomática, o peso reduzido e a reduzida altura do assento atraem as mulheres que começam a pilotar. O espaço sob o banco, tanto em motonetas como nas scooters, também é apontado como um dos fatores do sucesso desses modelos entre elas.

A participação feminina no mercado de duas rodas também tem se refletido na audiência desta coluna. Em 2020, 24,2% dos usuários eram mulheres. Vou procurar sempre trazer dicas, assuntos e histórias relevantes para vocês. Sugiram pautas, enviem dúvidas e façam críticas, por favor. Sejam bem-vindas e pilotem sempre equipadas e com segurança.

Fonte: https://www.uol.com.br/carros/colunas/infomoto/2021/03/07/numero-de-mulheres-motociclistas-no-brasil-quase-dobra-em-10-anos.htm