Mamilos sem polêmica: nova rede social vai falar de sexualidade sem censura

Felipe Germano

Felipe Germano é jornalista que escreve sobre comportamento humano, saúde, tecnologia e cultura pop. Para encontrar as boas histórias, atravessa o planeta: visitou de clubes de swing e banheiros do sexo paulistanos à sets de cinema hollywoodianos. Já trabalhou nas redações da Jovem Pan, do site Elástica, na revista Época e na revista Superinteressante.

26/02/2021 04h00

Vou poupar vocês de uma piadinha sobre mamilos serem polêmicos. Mas a verdade é que, de fato, há muita discussão —e censura— quando o papo são corpos. Se estivermos falando de mulheres, então, vixe… Na Lips.

A história da censura aos mamilos começou bem antes do primeiro www. O seio feminino só começou a gerar alguma controvérsia no século 16, quando a Igreja Católica ao peitar o protestantismo (outra vertente religiosa, que vinha tomando força) decidiu que o melhor jeito de se popularizar era sendo mais conservadora. Padres não puderam mais casar, a imagem de um Jesus Cristo loirinho foi oficializada e os peitinhos foram proibidos.

Séculos depois, é inegável que ainda vivemos no centro dessa discussão. Zuckerberg que o diga. Desde 2012 o cara ouve de movimentos como o Free The Nipple que não faz o menor sentido censurar os mamilos da mulherada. Ainda assim, nada feito. É nesse contexto que nasce o Lips.

A ideia é simples: uma rede onde a sexualidade pode ser explorada. Não, não estamos falando de putaria —ou só dela. A ideia não é concorrer com o nude bonito demais que você tirou outro dia, quanto uma dica de um livro que fala sobre saúde da vagina.

Você pode seguir pessoas, tags ou até gerar páginas com conteúdos aleatórios. Os posts, então, são sempre compostos por uma imagem e uma legenda. Comentários não são permitidos. Mas você pode compartilhar e curtir a publicação de outras pessoas.

Na hora de entrar na plataforma, já é definido para quem seu conteúdo será exibido. Ele pode ser tanto público quanto exclusivo para seus seguidores.

“O principal objetivo do Lips é fazer da internet um lugar melhor para comunidades marginalizadas, como mulheres, pessoas não binárias, negras, indígenas e LGBTQIA+”, diz ao Sexting Annie Brown, pesquisadora sobre gênero e fundadora da plataforma.

“Isso porque a maioria das redes sociais que já estão estabelecidas não foram pensadas para ajudar esse público a alcançar mais liberdade, justiça ou sucesso. Na verdade, elas acabam reforçando práticas que fazem mal para essas pessoas”, completa.

O Lips é extremamente fácil de usar. Para ver as postagens, nem de um cadastro você precisa. O site só pede uma sinalização de que o usuário já tem mais de 18 anos.

Para postar, no entanto, algumas etapas extras são exigidas. É preciso de um email, a definição de um login e, o mais particular: um parágrafo onde você explique por qual motivo quer postar no Lips.

“A gente chegou na definição dessa etapa depois de um extenso processo de pesquisas sobre como crescer uma comunidade, afastando trolls e discursos de ódio”, diz Brown.

Tem dado certo. Nos testes realizados por este jornalista que vos escreve, nenhuma postagem infeliz foi encontrada. E, em pouco mais de dois meses de criação, o Lips já possui mais de 10 mil usuários.

“Vários deles são brasileiros”, diz Brown, sem precisar quantos e adiantando que traduzir a plataforma para o português (ela segue totalmente em inglês) está nos planos.

“Nós acreditamos que membros de diferentes culturas nos ajudam a entender desafios, desejos e perspectivas ao redor do mundo”, acrescenta.

A maior sacada, no entanto, pode estar no bolso. Brown adianta que o plano é ter, num futuro próximo, a possibilidade de usuários criarem lojas dentro do Lips. Parece básico, mas vai na contramão das grandes redes atuais. Apesar dos Facebook tem sido uma tarefa hercúlea. É alta a chance de você não conseguir.

O pulo do gato é que essa função só estará válida para usuários premium, que pagarão uma mensalidade para usufruir da ferramenta. É pagar para saber que não será censurado.

Vale, não vale? Aí é outra discussão. Essa sim, com certeza mais polêmica do que qualquer corpo.

Fonte: https://www.uol.com.br/tilt/colunas/sexting/2021/02/26/lips-e-a-rede-social-que-nao-censura-mamilos---enquanto-discute-sexualidade.htm