Jovens planejam casa de acesso à informação em região carente de internet

Quebrada Tech

O Desenrola E Não Me Enrola é um coletivo de produção jornalística que atua a partir das periferias de São Paulo, investigando fatos invisíveis que geram grandes impactos sociais na vida dos moradores e moradoras dos territórios periféricos.

Tamires Rodrigues

25/11/2020 04h00

Como acessar informação sem ter internet? Como construir e contar sua própria história sem uma infraestrutura de equipamentos para isso? Estes e outros questionamentos deram origem à proposta de criar um laboratório de acesso à informação na quebrada. Conheça essa história.

Segundo dados da Fundação Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), 7,5 milhões de pessoas no Estado de São Paulo com mais de 10 anos nunca acessaram a internet, o equivalente a 23% da população. Então que tipo de informação é produzido no ambiente virtual onde uma generosa parcela da população está ausente das discussões?

Essa foi a pergunta que mexeu com as integrantes do coletivo primeiro laboratório de informação de Parelheiros.

A ideia do projeto surgiu durante uma formação pedagógica, quando as integrantes do Arqueperifa perceberam um problema em seu território: a precarização do acesso à informação. Como solução, as jovens começaram a elaborar o “Laboratório de (In)formação e Inovação”, um espaço físico para produção e difusão de conhecimento nos territórios de Parelheiros e Marsilac.

As jovens comunicadoras descobriram que os distritos de Parelheiros e Marsilac somam ¼ da extensão territorial da cidade de São Paulo. IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do município, medida comparativa de riqueza, alfabetização, educação, esperança de vida, natalidade e outros fatores.

Segundo Julia Biaggioli, 21, uma das integrantes do Arqueperifa, a internet de fibra óptica só chegou no meio da crise gerada pela pandemia. Esse foi um dos motivos que estimulou a ideia de um laboratório de informação no território.

“A nossa realidade é de gente que tem sempre que estar correndo atrás do pão, não tem tempo para parar, para pensar, para articular. O pão é para ontem, a comida é para ontem, a água é para ontem”, diz.

Com esses dados e as suas vivências no território, Biaggioli se questiona sobre a informação que o público tem acesso. “Os moradores têm televisão, coisas assim, mas qual é a informação que está sendo passada?”

Após elaborar o projeto de construção do laboratório de informação, as jovens se depararam com as primeiras dificuldades no caminho. “Na prática, o maior desafio é o dinheiro”, afirma Biaggioli.

“É por isso que a gente quer esse financiamento coletivo. Temos muita coisa para oferecer, projetos que já estão no papel e já estão prontos para serem feitos”, acrescenta.

Como será o laboratório?

O espaço do laboratório de informação da periferia será localizado na região central de Parelheiros. O coletivo Arqueperifa entende esse ponto do bairro como estratégico para acessar o maior número de moradores possíveis.

“Ali é onde ficam a igreja central e o comércio, e a gente quer que fique na zona central, que é por onde todas as pessoas das pontas do distrito acessam, do Marsilac à Barragem até quem vêm do outro lado”, diz Laura da Silva, 19, integrante do coletivo que mora no Jardim Embura, um dos bairros que fazem parte do distrito.

“O centro de Parelheiros é uma região que conta com mais internet, por ser um local que tem bastante comércio, então a gente pretende ter um pacote de dados maior para que as pessoas possam utilizar a internet para trabalho e estudo”, diz Silva, que é comunicadora, produtora cultural e estudante de geografia.

Segundo o grupo, a partir da infraestrutura do laboratório de informação será possível criar produtos comunicativos —como exposição fotográfica, podcast, documentário, fanzines, grafite— a partir das vivências dos moradores da região.

O coletivo também pretende que os usuários tenham acesso a computadores, espaço de coworking, estúdio de foto e vídeo, ilhas de edição, além de um espaço dedicado ao desenvolvimento de novas tecnologias.

Mesmo com essa aderência ao universo digital, Silva aponta uma característica importante do laboratório. Segundo ela, é preciso produzir informações offline antes do digital, incentivando a literatura periférica e estimulando a formação dos jovens. “Neste espaço vai ter uma biblioteca com materiais, livros e textos de autores de Parelheiros, Marsilac ou conteúdos que falam sobre esse lugar e trazem conhecimentos sobre esses territórios”, afirma.

Uma das integrantes do Arqueperifa, Luara Angélica, 20, que integra outro coletivo da região, o Juventude Politizada de Parelheiros, prevê o impacto do projeto na juventude local. “Eu acho imensurável o impacto que vai ter na vida dos jovens. Essa juventude que já está voando, vai voar ainda mais”.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Fonte: https://www.uol.com.br/tilt/colunas/quebrada-tech/2020/11/25/jovens-querem-construir-primeiro-laboratorio-de-informacao-de-parelheiros.htm