Jornada para ter meu negócio revelou o que é tecnologia na vida das pessoas

Akin Abaz

Akin Bakari D’Angelo dos Santos é fundador da InfoPreta e homem trans. Um curioso nato e um amante do desconhecido, sempre se interessou por montar, desmontar e entender o funcionamento dos eletrônicos. Fez cursos técnicos na adolescência e, aos 15 anos, já atuava na área da indústria com manutenção eletrônica de maquinário pesado. Em 2011, começou a consertar computadores em seu quarto e dois anos depois fundou a InfoPreta, empresa de serviços de manutenção que tem por objetivo inserir pessoas negras, LGBTQI+ e mulheres no mercado tech, aliando lucros a projetos sociais de grande impacto.

Colunista do UOL

06/12/2020 04h00

Fico impressionado de ver que a InfoPreta já tem sete anos de existência. Quem diria que uma empresa que começou por extrema necessidade de sobrevivência fosse dar oportunidades e possibilitar recomeços para as pessoas.

Nunca pensei que alguém me daria oportunidade de adentrar um local para abrigar a empresa, principalmente confiar em mim para disponibilizar um refúgio em meio a uma operação que havia feito na época.

Começamos no quarto que eu dormia, depois entramos no antigo Mirante Lab, laboratório maker localizado no centro de São Paulo, que tinha dois donos, Gui e Carlos, que me olharam como ser humano e me deram a oportunidade mais doida da vida, que era ocupar o laboratório deles.

No Mirante Lab, sonhamos alto e descobrimos inúmeros modos e meios de explorar a criatividade, além de aprender a dividir e somar uns com os outros.

Em certo momento, a InfoPreta cresceu e precisou tomar novos rumos, pois já não cabia mais na sala ocupada do Mirante Lab.

Lembro que na sala, fazíamos churrasco, eventos, palestras e um monte de coisa para promover inclusão e se divertir após o serviço.

Um dos dias mais engraçados foi quando colocamos na sala de 36 metros quadrados mais de 50 pessoas em um churrasco de fim de ano. Até os vizinhos participaram. A festa passou das 22 horas e tivemos que descer do 32º andar até o térreo de escada.

Após um período naquele prédio, viemos para o bairro de Pinheiros. Começamos a atender alguns clientes pela região e pelos bairros ao redor. Observava cada vez mais as pessoas e como as coisas funcionavam. Era imensamente difícil olhar nas ruas e localizar pessoas negras caminhando por aqui.

Em um déjà-vu quase igual da Beyoncé, me veio um pensamento: “hummm, acho que vou abrir a InfoPreta nesse bairro mesmo para causar e mostrar que podemos estar e ocupar qualquer lugar”. E assim surgiu a casinha rosa no meio do bairro.

Lembro quando pintei a casa de rosa: foi em um domingo de sol, revoltado com meus pensamentos e focado em fazer as pessoas localizarem essa casa, querendo ou não. Então juntei uns conhecidos e falei: “bora, meu povo”. E foi que foi, Mas como tenho medo de altura, a casa ficou metade pintada de rosa e metade de verde um período. Após tomar coragem, terminei a pintura.

Ao abrir a empresa neste local, demorou exatamente uma semana para um cliente entrar na empresa. Uma semana. Pensem no desespero do trabalhador durante essa semana. Quando entrou uma cliente, atendi tão, mas tão feliz que ela se assustou e foi embora. Atendimento mais feliz que esse ela nunca mais vai ter.

A primeira mesa e armário da empresa foram feitos e fabricados por mim, além da pintura toda trabalhada nas cores.

E em todo esse processo, descobri como realmente funciona a tecnologia na vida das pessoas. Praticamente é assim:

  • Tudo o que se inova é tecnologia
  • Tudo o que é tecnologia tem como ser acessível
  • Inovar o dia a dia com práticas simples também é inovação
  • Inovar também é tecnologia

Amei relembrar esses momentos e algumas das aventuras que tive com a InfoPreta.

Sinto muito orgulho de chegar em lugares que ninguém entra e poder inspirar pessoas a seguir seus sonhos.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Fonte: https://www.uol.com.br/tilt/colunas/akin-abaz/2020/12/06/criar-empresa-me-fez-descobrir-como-a-tecnologia-funciona-para-as-pessoas.htm