Jogar em casa é mau negócio no mata-mata da Libertadores sem público

Tales Torraga

Jornalista e escritor, Tales Torraga nasceu em Mogi das Cruzes (SP), mas é, segundo os colegas, “mais argentino que os próprios argentinos”. Morou em Buenos Aires e Montevidéu, girou pela imprensa brasileira e portenha e escreveu 15 livros – o último deles, Copa Loca, é sobre a…Argentina nos Mundiais.

Colunista do UOL

10/12/2020 04h01

A surpreendente derrota do Boca Juniors para o Internacional por 1 a 0 ontem na Bombonera reforçou a tendência desta Libertadores sem público: jogar em casa tem sido um mau negócio nos mata-matas.

Foram disputados 18 jogos até aqui: 16 pelas oitavas e dois pelas quartas de final. E desses 18 confrontos, só em quatro ocasiões o mandante saiu de campo com a vitória.

Nas oitavas, as partidas vencidas pelo time da casa foram Grêmio 2 a 0 Guaraní, Palmeiras 5 a 0 Delfín, Libertad 3 a 1 Jorge Wilstermann e River Plate 1 a 0 Athletico-PR. Nos dois confrontos das quartas ocorreram dois empates.

A taxa de vitória dos mandantes (22,2%) é a mais baixa da Libertadores nesta década ao se observar sempre os 18 primeiros jogos do mata-mata. A segunda menor quantidade de triunfos no período vem de 2011, com seis vitórias (33,3%).

Na Libertadores-2020, além das quatro vitórias mandantes, ocorreram sete empates e sete vitórias visitantes (38,8%), também o maior índice de triunfos forasteiros da década, superando as seis de 2018 e 2011.

Durante o confronto entre Boca e Inter, Diego Latorre, comentarista da ESPN argentina, analisou na Bombonera as razões que levam a este incomum aproveitamento. A primeira razão, segundo o ex-meia-atacante do Boca, era óbvia, com a falta do apoio da torcida. “Hoje os times jogam em casa, e não diante do seu público, como se dizia”, ponderou.

O segundo motivo está atrelado ao primeiro: não há pressão nenhuma sobre a arbitragem, que trabalha sem as amarras psicológicas de se atuar contrariando milhares de apaixonados.

A terceira razão seria o gol fora continuar valendo como critério de desempate, o que libera ainda mais o visitante a jogar no ataque. No 1 a 1 agregado entre Inter e Boca, os dois triunfos, afinal, ocorreram na condição de visitante, com o 1 a 0 do Boca no Beira-Rio e o 1 a 0 do Inter em Buenos Aires.

O aproveitamento de mandantes e visitantes em mata-matas desta década: *

2020 – 4 vitórias mandantes / 7 empates / 7 vitórias visitantes
2019 –
9 / 4 / 4
2018 – 9 / 3 / 6
2017 – 7 / 6 / 5
2016 – 10 / 6 / 2
2015 – 11 / 4 / 3
2014 – 9 / 6 / 3
2013 – 10 / 5 / 3
2012 – 10 / 7 / 1
2011 – 6 / 6 / 6

* Contando os 18 primeiros jogos depois da fase de grupos

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Fonte: https://www.uol.com.br/esporte/colunas/tales-torraga/2020/12/10/jogar-em-casa-e-mau-negocio-no-mata-mata-da-libertadores-sem-publico.htm