Inter exagera ao falar em roubo e aumenta chances de erros em rodada final


Perrone

Ricardo Perrone é formado em jornalismo pela PUC-SP, em 1991, cobriu como enviado quatro Copas do Mundo, entre 2006 e 2018. Iniciou a carreira nas redações dos jornais Gazeta de Pinheiros e A Gazeta Esportiva, além de atuar como repórter esportivo da Rádio ABC, de Santo André. De 1993 a 1997, foi repórter da Folha Ribeirão, de onde saiu para trabalhar na editoria de esporte do jornal Notícias Populares. Em 2000, transferiu-se para a Folha de S.Paulo. Foi repórter da editoria de esporte e editor da coluna Painel FC. Entre maio de 2009 e agosto de 2010 foi um dos editores da Revista Placar.

22/02/2021 09h20

“Quem estava no estádio viu uma das maiores vergonhas recentes do futebol brasileiro. O Inter foi surrupiado”.

A afirmação feita por João Patrício Herrmann, vice-presidente de futebol do Internacional foi exagerada, na opinião deste blogueiro. E só contribui para pressionar a arbitragem na última rodada do Brasileirão, o que é ruim para o Colorado e para todos os participantes do campeonato. Isso porque juiz que sucumbe à pressão fica mais suscetível a erros, seja para que lado for. Inclusive contra quem reclamou.

A expulsão de Rodinei na vitória do Flamengo por 2 a 1 sobre o Inter, no último domingo (21) é discutível. Lance difícil na minha opinião, além de interpretativo. Seja qual fosse a cor do cartão escolhido por Raphael Claus haveria discordância. Logo, nenhuma das escolhas pode ser considerada absurda.

Elevar a decisão do árbitro e o auxílio do VAR ao patamar de roubo é maquiar a realidade e já começar a tentar entrar na mente dos árbitros da próxima rodada.

As palavras do dirigente colorado soam para mim assim: “torcedor, nosso trabalho é excelente. Só não saímos do Rio com a mão na taça porque fomos roubados. Árbitros, fomos prejudicados nessa rodada. Na próxima, na dúvida, a decisão tem que ser a nosso favor”.

Em seu discurso inflamado, o vice do Inter chegou a dizer que sua vontade é liberar o Beira-Rio para a torcida no jogo contra o Corinthians, na próxima quinta (25). Disse isso depois de reclamar da pressão feita pelo estafe do Flamengo, com vários dirigentes, sobre a arbitragem no Maracanã.

Não consigo interpretar tal declaração de outra forma que não seja pressão nos juízes e negação às medidas sanitárias de combate à covid-19.

Herrmann tem razão ao reclamar da postura dos flamenguistas presentes no Maracanã. Os jogos do Flamengo estão entre os que mais têm tentativas de influenciar o juiz no grito. Só que os colorados fizeram a mesma coisa.

A pressão sobre os árbitros antes, durante e depois dos jogos é prática comum e burra no futebol brasileiro. Todos agem como o Inter agora sem perceber que fazem mal a seus próprios clubes.

Se você quer justiça no apito deve se esforçar para dar tranquilidade a quem apita. Porém, dirigentes, técnicos, jogadores e torcedores só querem saber de pressionar o árbitro para marcar os lances duvidosos a seu favor. Depois, como anjinhos, reclamam dos erros de quem não teve paz para trabalhar. Se não houver um esforço coletivo de quem faz futebol no país por melhores condições de trabalho para os árbitros, continuaremos lamentando o empobrecimento da modalidade no Brasil.

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Fonte: https://www.uol.com.br/esporte/futebol/colunas/perrone/2021/02/22/inter-exagera-ao-falar-em-roubo-e-aumenta-chances-de-erros-em-rodada-final.htm