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Governo diz que IOF é para conta de luz do AP, mas vai “sobrar” R$ 1,9 bi
Carla Araújo
Jornalista formada em 2003 pela FIAM, com pós-graduação na Fundação Cásper Líbero e MBA em finanças, começou a carreira repórter de agronegócio e colaborou com revistas segmentadas. Na Agência Estado/Broadcast foi repórter de tempo real por dez anos em São Paulo e também em Brasília, desde 2015. Foi pelo grupo Estado que cobriu o impeachment da presidente Dilma Rousseff. No Valor Econômico, acompanhou como setorista do Palácio do Planalto o fim do governo Michel Temer e a chegada de Jair Bolsonaro à Presidência.
O governo calculou que precisaria arrumar Paulo Guedes (Economia), porém, foi além.
Pelos cálculos do governo, com a antecipação da volta da cobrança do IOF (imposto que é pago por todos os brasileiros que realizam operações de crédito) haverá um acréscimo estimado da arrecadação de R$ 1,9 bilhão para o ano de 2020 e de R$ 783,44 milhões para 2021.
Ou seja, neste ano, apenas 4% do que deve ser arrecadado vai compensar o custo da medida. O restante vai para o cofre do governo.
O IOF possui alíquota de 3% sobre o valor total da operação de crédito, mais 0,38% ao ano. A alíquota foi zerada para minimizar os impactos da pandemia do coronavírus. Mas, infelizmente, a doença não acabou, e há divergências entre especialistas sobre a chegada de uma nova onda.
Fontes do Ministério da Economia negam que Guedes esteja aumentando imposto, apesar de a medida, no fim das contas, engordar os cofres públicos. Minimizam o impacto da medida, dizendo que foi a única forma encontrada para “compensar” o custo gerado pela isenção no Amapá, e afirmam que o retorno da alíquota foi “apenas antecipado em um mês”.
Governo foi à Justiça para não pagar mais auxílio no AP
Que nem todos os brasileiros queiram arcar com os custos do apagão no Amapá é bastante compreensível, mas não dá para negar que apenas isentar a conta de luz daqueles que não tiveram energia é pouco, perto do sofrimento da população do estado do Norte de país.
No último dia 19, esse mesmo governo foi à Justiça pedir a suspensão da liminar que previa o pagamento de mais duas parcelas de R$ 600 do auxílio emergencial para a população vulnerável do estado. Alegou que a medida custaria R$ 418 milhões, e que não havia recursos.
De fato, não há dinheiro sobrando na conta do país. A dívida bruta deve fechar o ano em 94,4% do PIB (Produto Interno Bruto), um salto ante os 75,8% do PIB registrados em 2019.
Ontem, em relatório, o Tesouro Nacional afirmou que a situação fiscal do país é “frágil, inclusive para realizar políticas sociais necessárias”.
E o Renda Brasil?
Enquanto encontra soluções pontuais para problemas como o do Amapá, o governo ainda não consegue responder o que fazer com os 67,8 milhões de brasileiros que estão recebendo o Jair Bolsonaro não tem aceitado soluções impopulares, mas não há mágica.
Guedes já falou que “com certeza” o auxílio será prorrogado se houver uma segunda onda da doença. Dias depois disse que a economia está voltando e, “do ponto de vista do governo, não existe a prorrogação do auxílio emergencial”. A estratégia então vai ser negar a continuidade da doença e de seus impactos na vida dos brasileiros?
Qual é o plano?
O ministro tem demonstrado irritação com quem o acusa de não ter planos. Nesta semana, ao rechaçar a crítica de que estaria “desacreditado”, Os dois tentaram colocar panos quentes no mal-estar.
Se há plano, é preciso que haja transparência. Se a carga tributária brasileira vai aumentar, é preciso ter coragem para dizer isso à população. Se a solução encontrada for outra, o povo também precisa saber.
Fonte: https://economia.uol.com.br/colunas/carla-araujo/2020/11/27/iof-amapa-guedes-arrecadacao-impostos-falta-plano.htm