Google, Apple e cia amam Biden, mas ele pode engrossar mais do que Trump

Helton Simões Gomes

Jornalista com mais de 10 anos de experiencia na cobertura de ciência e tecnologia, com passagens por Folha, Band e TV Globo. Vencedor do prêmio CNI de Jornalismo de 2013.

Colunista do UOL

07/11/2020 04h00

Em uma das raras oportunidades de contar vantagem este ano, os brasileiros Memes à parte, duas coisas não mudarão por lá.

Primeiro: ainda haverá eleição pelos correios (isso enquanto nós, acostumados à Google e companhia.

Durante a gestão Trump, o bafo quente do Estado deixou de ser mera ameaça e virou algo palpável. Exemplo disso são situações como:

  • O Departamento de Justiça ao lado de promotorias estaduais abriu contra o Google o maior processo antitruste em 20 anos. É o começo, já que…
  • … A mesma coisa está para acontecer com a Apple. A diferença é a razão, afinal…
  • … Enquanto a primeira está na mira por suas práticas para dominar buscas e anúncios online, a segunda é questionada devido ao jeitão com que opera a loja de aplicativos. Fora isso…
  • … A Amazon também deve ter sua loja online cravejada de acusações, mas pela Comissão Federal de Comércio. O órgão, por sua vez…
  • … Também trabalha em um caso para averiguar ações anticompetitivas do Facebook. Não acabou, afinal…
  • … Todas elas serão atingidas caso vá adiante a mudança na Seção 230, iniciada por Trump. Essa regra de 1996 cria uma espécie de imunidade para plataformas de internet, de modo que elas não respondam por aquilo que seus usuários fizerem.

Muito desse escrutínio só aconteceu após iniciativas da União Europeia, que aplicou multas bilionárias ao Google e acena com novas investigações às Big Tech. Conta também o ranço de Trump. Além de dizer sem provas que elas censuram a posts conservadores, ele já teve eram falsas mesmo).

Com Biden, porém, isso não vai mudar. Investigações e processos devem aumentar. A razão, no entanto, é outra. Sai a birra, entra a ideia de que as empresas de tecnologia possuem poder demais e minam a concorrência.

De cara, ele pretende revisar alguns atos de Trump, como a tentativa de alterar a Seção 230. Não por desaprová-la, mas, sim, por achá-la tímida. O plano é reforma completa e isso não exclui responsabilizar plataformas por aquilo que elas veiculam.

Não é assim, mas está quase lá

Ações antitruste atingem em cheio o poder dessas empresas, porque coloca em xeque os mecanismos que as permitem controlar mercados inteiros. Ainda que Biden seja um entusiasta da ideia, ele é o queridinhos das Big Tech. Google (Alphabet), Microsoft, Amazon, Apple e Facebook estão entre os dez maiores doadores de seu comitê de campanha. Já não figuraram sequer entre os 25 maiores apoiadores de Trump.

O lance é que Biden é o melhor dos piores cenários. De cara, superou Elizabeth Warren e Bernie Sanders, colegas democratas mais radicais por propor, por exemplo, dividir as grandes empresas em unidades menores (já pensou Instagram, Facebook e WhatsApp separados? É isso!). Ele também acena com uma política de imigração mais amena e menos sobressaltos na relação com a China. Ou seja: a treta vai continuar, mas com maior previsibilidade.

Fora isso, as Big Tech enfrentarão em 2021 um Congresso bem ativo. Republicanos articulam projeto para combater a suposta censura das redes, enquanto democratas trabalham em legislação que trate de moderação de conteúdo, transparência dos algoritmos e desinformação. Melhor aproveitar para dormir agora as horas de sono que certamente serão perdidas a partir de janeiro.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Fonte: https://www.uol.com.br/tilt/colunas/helton-simoes-gomes/2020/11/07/donald-trump-e-joe-biden-disputam-presidencia-nas-eleicoes-americanas.htm