Fim do auxílio emergencial ampliará fome no país, diz filho de Betinho

Carla Araújo

Jornalista formada em 2003 pela FIAM, com pós-graduação na Fundação Cásper Líbero e MBA em finanças, começou a carreira repórter de agronegócio e colaborou com revistas segmentadas. Na Agência Estado/Broadcast foi repórter de tempo real por dez anos em São Paulo e também em Brasília, desde 2015. Foi pelo grupo Estado que cobriu o impeachment da presidente Dilma Rousseff. No Valor Econômico, acompanhou como setorista do Palácio do Planalto o fim do governo Michel Temer e a chegada de Jair Bolsonaro à Presidência.

Do UOL, em Brasília

16/11/2020 15h43

Filho do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, que em 1993 montou a Ação da Cidadania para ajudar brasileiros abaixo da linha da pobreza, Daniel Souza vê com preocupação a situação atual do Brasil e aponta para um cenário ainda mais grave com o fim do auxílio emergencial.

“Se agora a gente já tem mais de 50 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, que já são números assustadores, o fim do auxílio emergencial vai levar o país para um nível de miséria e pobreza que a gente nunca viu”, afirmou à coluna Souza, que é presidente do Conselho da ONG Ação da Cidadania.

Na semana passada, o ministro da Economia, segunda onda de covid é “certeza” de que o auxílio será prorrogado. Na equipe econômica, porém, há resistência com a medida, já que o país está extremamente endividado

O governo estuda formas de aprimorar o Bolsa Família para minimizar o impacto do fim do auxílio. O presidente Renda Brasil, que poderia ser esse bolsa família “turbinado”, segue sem definição.

“Nós só saberemos os reais números de 2020 daqui a dois ou três, mas hoje nós já ultrapassamos a marca de 100 milhões de brasileiros com algum nível de insegurança alimentar”, diz Souza. “Independente de termos ou não a segunda onda o benefício deveria continuar”, completou.

Natal Sem fome

Depois de passar mais de dez anos sem a campanha de mobilização para a doação de alimentos para pessoas mais carentes, A Ação da Cidadania retomou em 2017 a campanha Natal sem Fome.

Neste ano, a meta é arrecadar R$ 10 milhões para adquirir e distribuir duas mil toneladas de alimentos em todo o país. Por conta da pandemia, não haverá recolhimentos de alimentos e as doações serão feitas apenas pelo site.

Souza diz que a necessidade de retomar a campanha em 2017 foi sentida após retrocessos nas políticas do governo, que trouxeram um horizonte ruim para o país.

“O Brasil já voltou ao Mapa da Fome, ainda não se pode atestar isso oficialmente, pois os números demandam tempo para serem apurados, mas esse dado infelizmente virá daqui a pouco tempo”, diz.

Em 2014, o Brasil deixou o Mapa da Fome da ONU, que inclui países em que mais de 5% da população se encontra em pobreza extrema, ganhando menos que US$ 1,90 por dia.

Ele diz ainda que o atual governo do presidente Jair Bolsonaro deve ser o responsável por número alarmantes no combate à pobreza e a fome.

“Um dos primeiros atos do presidente Bolsonaro foi excluir os conselhos de segurança alimentar“, recorda o filho de Betinho.

Souza lembra ainda que o presidente chegou a falar que fome no Brasil é uma grande mentira. “Bolsonaro age como um governante negacionista, ou seja, não admite a realidade que ele não concorda ou não quer concordar. Foi assim agora ao chamar o povo de maricas e em relação à fome ele não é diferente”.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Fonte: https://economia.uol.com.br/colunas/carla-araujo/2020/11/16/fome-betinho-cidadania-fim-auxilio-emergencial-natal-sem-fome.htm