Estreante que vem das alturas: conheça o Ayacucho, rival de um dos brasileiros na Copa Libertadores

15/02/2021 08h10

Altitude, armadilhas e um caminho pelo desconhecido farão parte do itinerário do futebol brasileiro logo nas fases iniciais da próxima Copa Libertadores. Sorteado como adversário do “Brasil 7”, o Ayacucho, que tem apenas 12 anos de fundação, desembarca para sua primeira participação na competição em busca de uma identidade e de comprovar que não foi “sensação” do Campeonato Peruano por acaso.

Seu futuro adversário inicialmente é o quinto colocado do Brasileirão (posição na qual Fluminense, Grêmio e Corinthians estão na briga, mas o São Paulo ainda pode terminar a competição). Contudo, a final da Copa do Brasil pode mudar o panorama: como os campeão da Libertadores de 2020, Palmeiras, está no G6, e o finalista Grêmio em sétimo, a competição nacional pode ganhar um G8, o que abriria o leque de cotados a rivais da equipe peruana para Athletico-PR, Santos, Corinthians e RB Bragantino.

Venha quem vier, a certeza é de que o Ayacucho terá de se desdobrar até entrar em campo para sua primeira empreitada na competição continental.

‘SEGUNDA ONDA’ DA PANDEMIA DE COVID-19 COMPLICA PREPARAÇÃO

Passado o 2020 no qual se sagraram campeões do Torneo Clausura e, posteriormente, ficaram com a vaga nas fases iniciais da Copa Libertadores em virtude da eliminação para o Sporting Cristal nas semifinais do Campeonato Peruano, os “gasíferos” agora se deparam com alguns percalços. Um deles é a sucessão de saídas, que causou uma farta reformulação.

– Foram incorporados 12 jogadores. Uma contratação que chamou atenção foi o Maximiliano Cavallotti. É um goleiro argentino de 36 anos que disputou o acesso em seu país (pelo Central Córdoba) e, a princípio, vem como titular. O dono da posição no Ayacucho durante o Campeonato Peruano recebeu uma boa proposta e os demais goleiros que ficaram são inexperientes – afirmou ao LANCE! o jornalista Sharles Hernández, setorista do Ayacucho no diário “El Comercio”.

A equipe também tem uma novidade para seu comando nesta temporada.

– Gerardo Ameli deixou o Ayacucho. A cúpula do clube decidiu efetivar Walter Fiori, que era seu assistente – detalhou Hernández.

O contexto do futebol peruano também traz preocupações quanto ao ritmo de jogo do elenco para a Copa Libertadores. A “segunda onda” da pandemia do novo coronavírus deixou as autoridades peruanas em alerta e diversas regiões ficaram em quarentena. Em meio a isto, atividades esportivas ficaram paralisadas.

Após intensas negociações entre integrantes da liga e o Ministério da Educação, apenas os clubes que terão compromissos internacionais tiveram permissão para voltar a treinar inicialmente. Presidente do Ayacucho desde 2012 (quando ainda se chamava Inti Gas), Rolando Bellido conta como o contexto do país tem afetado no campo.

– As restrições sociais e sanitárias têm sido muito difíceis aqui em território peruano e temos de ser solidários. Temos de esperar que tudo se resolva da melhor forma nestes aspectos – afirmou.

Em seguida, o mandatário constatou que a rotina da equipe está comprometida em relação à Copa Libertadores.

– Diante desta situação complicada aqui, não conseguimos realizar sequer amistosos. Só temos uma rotina dentro do nosso alojamento. Ainda não temos uma definição clara sobre quando começa o campeonato local. Já no Brasil, os clubes estão com sequência de jogos, disputando intensamente. Nossa expectativa é que tenhamos ao menos um bom trabalho de preparação em fevereiro. Afinal, sabíamos que na Libertadores não teríamos como fugir de adversários fortes, como são os do Brasil – destacou.

OLHO VIVO NO SETOR OFENSIVO DA EQUIPE

Outra expectativa dos “gasíferos” recai sobre o setor ofensivo. Uruguaio com vasta passagem pelo futebol chileno e que atuou também no tradicional clube peruano Universitario, Pablo Lavandeira desembarca no clube ayacuchano com a missão de ser o articulador das jogadas durante a trajetória na Copa Libertadores.

O jogador de 30 anos detalha como é encarar a competição continental defendendo uma “sensação” e encarando um adversário brasileiro.

– É uma linda responsabilidade. Claramente, é um momento histórico para o clube. Sabemos que é um momento difícil, sobretudo por ser um rival que nos causa motivação e estamos trabalhando para estas partidas – disse.

Lavandeira terá de municiar o ataque formado por Carlos Olascuaga, que joga pelas pontas, e Othoniel Arce, centroavante nato.

– Temos um bom grupo profissional, que fomos ajustando em meio às situações adversas da economia. É uma equipe bastante profissional, que dá prioridade ao trabalho. Estamos confiantes – afirmou Rolando Bellido.

ALTITUDE PARA SE IMPOR ‘EM CASA’

Os jogadores brasileiros terão de driblar uma grande arma do Ayacucho: a altitude. Contudo, a “estratégia” do clube para compensar o fato de não poder jogar no Estádio Ciudad de Cumaná, localizado em Huamaga, exigirá muito fôlego dos jogadores adversários.

– O estádio do Ayacucho não tem refletores e, por isto, não poderá receber jogos da Copa Libertadores. Como a cidade é localizada 2.746 metros acima do nível do mar, a diretoria optou por mandar as partidas em outra cidade também com altitude. Seus jogos serão em Cusco, que está a 3.399 metros do nível do mar – detalhou o repórter Sharles Hernández.

TIME DE COMPANHIA DE GÁS, TROCA DE UNIFORME, DE NOME E BUSCA POR IDENTIDADE EM CAMPO: OS ‘CAUSOS’ DO AYACUCHO

Não faltam histórias inusitadas em torno do novato na Copa Libertadores. A começar por seu nome. Em seus primórdios, a equipe se chamava Olímpico San Luis, em referência ao local no qual teve origem. Após obter o acesso na Copa Peru (terceira divisão do futebol peruano) e ceder seus jogadores ao Aurora Miraflores, disputou a Segundona adotando o nome Olímpico Aurora Miraflores. Em seguida, se tornou Loreto F.C.

O divisor de águas para seu “ressurgimento” foi 2008: o empresário e político Rofilio Neyra adquiriu o clube e o rebatizou de Inti Gas, em referência à empresa que distribui gás para boa parte do país. Embora fosse localizado em Huamaga (na região ayacuchana), a equipe “gasífera” teve de jogar suas primeiras partidas em Lima e Ica, para, a princípio, tentar não concorrer com o La Peña Sporting, que já jogava em Ayacucho.

Apenas no fim de 2014, houve mudança definitiva. E o mandatário Rolando Bellido fez mudanças radicais. Além da escolha do nome Ayacucho (com o intuito de aproximar o clube da região), houve a realização de um concurso para escolher o novo uniforme e o mascote, promovidos pela Escola de Belas Artes.

O estudante de Arquitetura Ángeles Oré Batistuta, ganhou o prêmio de melhor uniforme, com cores têxteis (branco, laranja ou preto) e detalhes da iconografia Wari, com formatos de quadrados e ondas, em referência à cultura andina.

Já Edgar Sabastizagal Orellana teve seu desenho de mascote escolhido: uma raposa-colorada, típica da Cordilheira dos Andes, e que foi batizada de Atoq, significado do animal em quíchua, dialeto falado em território peruano.

A busca do Ayacucho na Copa Libertadores será por driblar percalços e comprovar sua “identidade” competitiva nos gramados. Mas, desta vez, em nível continental.

Fonte: https://www.uol.com.br/esporte/futebol/ultimas-noticias/lancepress/2021/02/15/estreante-que-vem-das-alturas-conheca-o-ayacucho-rival-de-um-dos-brasileiros-na-copa-libertadores.htm