Encontro da elite paulista tira da toca Ferraris e Lamborghinis raras

Rodrigo Mora

O blog Mora nos Clássicos contará as grandes histórias sobre as pessoas e os carros do universo antigomobilista. Nesse percurso, visitará museus, eventos e encontros de automóveis antigos – com um pouco de sorte, dirigirá alguns deles também.

Colunista do UOL

14/11/2020 08h00

(SÃO PAULO)Cena rara – se não inédita – até mesmo em eventos internacionais: uma 225S Vignale Spyder ladeada por uma F50 e uma F40. Peças únicas no Brasil, as três Ferraris estavam reunidas pela primeira vez.

Não poderia haver cartão de visitas mais poderoso para o Classic Car Celebration do que juntar carros raros que raramente saem da toca. A poucos metros do trio de Maranello, um Lamborghini Countach preto e com rodas douradas é vigiado de perto por um trator, o veículo que marca o início da fabricante italiana, em 1948.

A cada passo do, o prazer de encontrar ao vivo o que se conhecia apenas por fotos: Maserati 3500 GT, Maserati Ghibli, Lancia Fulvia Sport Zagato, Iso Grifo, Alfa Romeo Giulietta Sprint Speciale, Alfa Romeo SZ …

Italianos pareciam dominar, mas havia alemães às pencas, como Porsche 911, Audi RS 2, BMW 2002, BMW M3 (E30) e Mercedes-Benz SL – este parecia ter formado um clubinho à parte, com vários exemplares ao redor do “Asa de Gaivota”, o mais glorificado dos SL.

Entre os americanos, também em peso, destaque para dois Ford Thunderbird da cobiçada primeira geração…

…um Chevrolet Corvette também da primeira safra…

…e um Dodge Matador, pelo que se sabe único no Brasil.

Cord 812, aquele que o Metropolitan Museum of Art descreveu como “a maior contribuição dos Estados Unidos ao design de automóveis”? Havia dois, um sedã (Beverly) e um conversível (Phaeton).

Carros nacionais não ficaram de fora. Havia Opala, Maverick e SP2, além dos raros fora-de-série Santa Matilde e Puma GT DKW.

Até mesmo a Checoslováquia foi representada. No caso, com um Tatra T87 1947 e seu motor motor V8 traseiro.

Araxá x Classic Car Celebration

Logo na primeira edição – que reuniu mais de 200 exemplares no último final de semana – o Classic Car Celebration impressionou até mesmo a elite do antigomobilismo nacional. “Pela quantidade e qualidade dos carros, gostei mais do que de Araxá”, confessa um colecionador, ex-proprietário da F50 e que trouxera para o evento um Chevrolet Corvette Stingray.

“Acho que é um evento que já se apresenta, ao lado de Araxá, como referência em refinamento e nível de raridade dos carros”, filosofou outro participante.

O evento mineiro foi inclusive uma inspiração para o paulista, realizado no Hotel Fazenda Dona Carolina, em Itatiba. “Sonhávamos em reunir as grandes coleções num lugar só. Ouvimos os organizadores dos principais eventos para chegar a este formato. E o pessoal de Araxá nos deu total apoio”, explica Gustavo Tannuri, um dos idealizadores do Classic Car Celebration.

Na próxima edição, prevista para 2022, a intenção é abrir para público restrito – o que não aconteceu, também, por influência da pandemia do coronavírus. “Nosso evento é para quem entende de carro, está familiarizado com a cultura do antigomobilismo. Não importa a classe social, são bem-vindos os amantes dos clássicos”, defende Tannuri.

“Acho que tem que ser aberto na próxima edição. Deve haver alguma seleção, pois são carros raros e caros. Mas é importante mais gente conhecer esses carros e assim difundirmos a cultura do automóvel clássico”, acrescenta José Luiz Gandini, que emprestou ao evento seu Packard Eight Roadster 1931.

O colecionador acredita que o Classic Car Celebration deve seguir o exemplo de Araxá, sempre associado a uma marca de automóveis. No ano passado, chamou-se Brazil Classics Renault Show, mas já foi Fiat e Mercedes também.

“Tem que achar um jeito de cobrir as despesas. Até porque ali está um público formador de opinião, então é importante mostrar seus produtos. Se houver condições, a Kia Motors é candidata”, avalia Gandini, também presidente da marca sul-coreana no Brasil.

Best Of Show

Ao fim do evento, um Daimler Sedanca De Ville by Gurney Nutting 1939 foi eleito o mais notável. “O singular aqui é que, geralmente, os modelos Sedanca, caracterizados pelo motorista sentado na parte descoberta, enquanto os passageiros iam no conforto , fechados, geralmente têm quatro portas. Cupês, como este, são raríssimos”, explica Julio Penteado, um dos jurados e colaboradores do evento.

Único do Brasil, tem motor de oito cilindros em linha e, nas portas, acabamento em treliça. “Não se poupou esforços para deixá-lo igual ou melhor do que quando saiu do ateliê de montagem”, avalia Penteado.

Conquistar um “Best Of Show” não é apenas simbólico. “Equivalentes a um prêmio Nobel, essas coroações enriquecem o currículo do carro e abrem portas para concursos internacionais”, conclui.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Fonte: https://www.uol.com.br/carros/colunas/mora-nos-classicos/2020/11/14/como-evento-da-elite-paulista-tirou-da-toca-ferraris-e-lamborghinis-raras.htm