-
Brasileiro usa robô como amigo de trabalho: ‘Tamagotchi com inteligência’ - 14/04/2024
-
Regras da CNH provisória: limite de pontos, como trocar e uso no app - 14/04/2024
-
Confira quais são os 10 carros que ainda serão lançados em 2024 - 14/04/2024
-
Diferentes verões e diferentes carros - 14/04/2024
-
Qual celular escolher: Galaxy S23 Ultra ou S24 Ultra? - 20/03/2024
-
Qual notebook escolher: básico, para estudar, gamer, 2 em 1 ou topo de linha? - 20/03/2024
-
Sem hélices e silenciosas: novas turbinas eólicas são ‘amigas’ das aves - 20/03/2024
-
Galaxy Fit3: por menos de R$ 500, pulseira da Samsung é quase um smartwatch - 20/03/2024
-
Otimismo marcou balanço da indústria automotiva em fevereiro - 20/03/2024
-
Montadoras chinesas com pé fincado no Brasil - 20/03/2024
Efeitos do aumento do nível do mar aparecem sob seus pés e longe das praias
Daniel Schultz, Monica Matsumoto e Shridhar Jayanthi
sobre os colunistas
Daniel Schultz é cientista, professor de microbiologia e membro do núcleo de ciências computacionais em Dartmouth (EUA). Estuda a dinâmica dos processos celulares, com foco na evolução de bactérias resistentes a antibióticos. É formado em engenharia pelo ITA, doutor em química pela Universidade da Califórnia San Diego e pós-doutorado em biologia sistêmica em Harvard. Possui trabalhos de alto impacto publicados em várias áreas, da física teórica à biologia experimental, e busca integrar essas várias áreas do conhecimento para desvendar os detalhes de como funciona a vida ao nível microscópico.
Monica Matsumoto é cientista e professora de Engenharia Biomédica no ITA. Curiosa, tem interesse em áreas multidisciplinares e procura conectar pesquisadores em diferentes campos do conhecimento. É formada em engenharia pelo ITA, doutora em ciências pela USP e trabalhou em diferentes instituições como InCor/HCFMUSP, UPenn e EyeNetra.
Shridhar Jayanthi é agente de patentes com registro no escritório de patentes norte-americano (USPTO). Tem doutorado em engenharia elétrica pela Universidade de Michigan (EUA) e diploma de engenheiro de computação pelo ITA. Atualmente, trabalha com empresas de alta tecnologia para facilitar obtenção de patentes e, nas (poucas) horas vagas, é estudante de problemas na intersecção entre direito, tecnologia e sociedade. Antes disso, teve uma vida acadêmica com passagens pela Rice, MIT, Michigan, Pennsylvania e no InCor/USP, e trabalhou com pesquisa em áreas diversas da matemática, computação e biologia sintética.
Uma das consequências mais discutidas do aquecimento global é o aumento do nível do mar. A imagem que nos vem à mente quando pensamos no assunto é de ondas gigantes engolindo praias e ameaçando prédios, e é fácil ter uma falsa noção de segurança quando vamos à praia e vemos que continua tudo lá como sempre esteve.
Isso porque a discussão gira em torno dos efeitos costeiros diretos, ou seja, erosão e enchentes marinhas. Esses efeitos de fato ocorrem (embora um fim de semana na praia não seja o suficiente para observá-los), mas o aumento do nível do mar traz também outros impactos menos óbvios, como a diminuição da profundidade dos aquíferos subterrâneos.
Os aquíferos subterrâneos são compostos por água doce que preenche os pequenos espaços entre os grãos de areia e solo.
Nas áreas costeiras, esses reservatórios são geralmente rasos, localizados a poucos metros dos nossos pés, e podem misturar água doce com a água salgada dos oceanos. Essa mistura ocorre pois há troca de água e de sal no solo que divide a área continental e o oceano.
Com o aumento do nível do mar, aumenta a pressão da água marinha em direção ao continente, e a tendência é que mais água salina seja “empurrada” para os reservatórios subterrâneos terrestres. Com mais água, o nível dos reservatórios sobe e se torna mais próximo da superfície.
Esse processo leva a diversos problemas. Por exemplo, contaminantes que estavam enterrados podem subir também com a água do reservatório.
Outra consequência é que infraestrutura subterrânea como canos de esgoto e água, linhas de energia e telecomunicação que estavam acima dos reservatórios podem encharcar e se corroer, requerendo operações complicadas e caras de reparo e prevenção de danos futuros.
No Havaí, por exemplo, água salgada nos aquíferos subterrâneos corroeu canos que levam água potável à capital Honolulu, e foi necessário bombear 330 mil litros de água contaminada do solo para consertá-los.
Um terceiro problema custoso de ter reservatórios de água mais rasos é que há menos solo disponível para absorver água da chuva entre a superfície e os aquíferos, aumentando a frequência de enchentes.
Em suma, o aumento do nível do mar não é necessariamente uma onda gigante nos perseguindo, pode ser o nível da água subindo lentamente sob nossos pés.
Recentemente, um outro fenômeno ligado ao aumento do nível do mar que chamou a atenção no sudeste dos EUA foi a expansão das chamadas florestas fantasmas, que são áreas que até recentemente eram ocupadas por florestas e hoje são repletas de árvores mortas cercadas por pântanos.
Apesar de algumas dessas áreas estarem localizadas a dezenas de quilômetros da costa, a morte da vegetação ocorre devido ao excesso de água e sal no solo. Além do dano à biodiversidade, parte das áreas afetadas são zonas rurais, o que leva também a um prejuízo econômico.
A principal causa do aumento do nível do mar é o derretimento de geleiras por conta do aumento da temperatura média do planeta, que leva água que antes estava armazenada sobre a terra para o mar.
Nas altas latitudes do hemisfério norte (Ártico) esse derretimento é mais acelerado, o que não quer dizer que não ocorra no hemisfério sul. Na península Antártica, por exemplo, mais de 80% das geleiras estão derretendo, e de forma cada vez mais acelerada.
Outra causa é o derretimento do gelo marinho. Apesar do gelo marinho não contribuir diretamente para o aumento do nível do mar, já que é formado por água que já estava no oceano, o gelo formado na interface entre o continente e o oceano funciona como uma tampa, que impede que o gelo terrestre acabe no mar.
Sem o gelo marinho para “segurar”, as geleiras fluem mais livremente para o oceano, como pode ser visto aqui:
Diferentes regiões do mundo vão ser afetadas de maneira diferente pelo aumento do nível do mar, já que a quantidade de gelo derretida é grande o suficiente para redistribuir a massa do planeta, alterando a atração gravitacional entre o oceano e a terra.
Mundialmente, no entanto, estima-se que até o fim do século entre 176 e 287 milhões de pessoas vão ser diretamente afetadas pelo aumento do nível do mar e enchentes costeiras, comprometendo entre 12 e 20% do PIB mundial.
Entender quando, onde e o quanto o nível do mar vai aumentar, portanto, é crucial para traçar planos eficientes para lidar com esse problema.
Fonte: https://www.uol.com.br/tilt/colunas/para-onde-o-mundo-vai/2021/01/24/os-efeitos-silenciosos-do-aumento-do-nivel-do-mar.htm