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Desemprego sobe e só não é maior porque muitos desistiram de buscar vaga
José Paulo Kupfer
Jornalista profissional desde 1967, foi repórter, redator e exerceu cargos de chefia, ao longo de uma carreira de mais de 50 anos, nas principais publicações de São Paulo e Rio de Janeiro. Eleito “Jornalista Econômico de 2015” pelo Conselho Regional de Economia de São Paulo/Ordem dos Economistas do Brasil, é graduado em economia pela FEA-USP e integra o Grupo de Conjuntura da Fipe-USP. É colunista de economia desde 1999, com passagens pelos jornais Gazeta Mercantil, Estado de S. Paulo e O Globo e sites NoMinimo, iG e Poder 360.
A situação da economia, pela lente sensível do mercado de trabalho, continua preocupante. A taxa de desemprego, medida pela PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, subiu mais um pouco no trimestre encerrado em fevereiro, em relação ao trimestre anterior.
Ao atingir 14,4% da força de trabalho, expressando a existência de 14,4 milhões de trabalhadores sem ocupação, a PNAD indicou a maior taxa de desemprego para o período, desde o início da série em 2012. Em relação ao trimestre encerrado em fevereiro de 2020, o último antes da pandemia de covid-19, a situação do mercado de trabalho ainda é de deterioração.
Há estagnação na população ocupada, ao mesmo tempo em que se observa redução da força de trabalho, com pessoas que ficaram desempregadas ainda sem ânimo para buscar ocupação. São agora 6 milhões de trabalhadores desalentados, recorde da série, um aumento de quase 30% em relação ao mesmo grupo na pré-pandemia. Esse quadro de mercado difícil, que se reflete na queda do rendimento médio, faz com que, num aparente paradoxo, o desemprego suba em ritmo mais lento.
Chamou a atenção do economista Bruno Ottoni, pesquisador da consultoria iDados, o fato de muitos trabalhadores continuarem fora da força de trabalho. “A esta altura, já era de se esperar que a força de trabalho estivesse se recuperando mais rapidamente”, diz ele. “Se o ritmo de recomposição da força de trabalho estivesse mais acelerado, a taxa de desocupação estaria mais alta.
O movimento de volta das pessoas ao mercado de trabalho segue tímido. A força de trabalho alcançou 100,3 milhões de trabalhadores, com alta de 0,7% sobre o trimestre anterior, de setembro a novembro, mas revelando ainda recuo de 5,4%, que corresponde a 5,7 milhões de pessoas a menos, na comparação com o mesmo trimestre de 2020.
Se este contingente estivesse procurando ocupação, o desemprego seria mais alto. Considerando a taxa de participação de fevereiro de 2020, ou seja, a relação entre pessoas na força de trabalho e em idade de trabalhar, naquele momento, a taxa de desemprego seria de 21,2%.
Outro indicador de que a economia não está andando em ritmo rápido o suficiente para absorver a população em idade ativa é a taxa de subutilização de mão de obra. Ela indica o percentual de trabalhadores que encontra ocupação, mas em jornadas menores do que poderiam e gostariam de trabalhar. No trimestre findo em fevereiro, quase 30% da força de trabalho se encontrava nesta situação.
O contingente de trabalhadores informais também permanece elevado, com quase 40% da força de trabalho ocupada sem vínculo de emprego. Só não aumentou, no período, porque a perda de empregos com carteira assinada foi compensada pelo aumento de trabalhadores por conta própria, mas cadastrados como pessoa jurídica.
A expectativa dos especialistas é de que a taxa de desemprego, assim como a fuga de trabalhadores da força de trabalho, aumente nos próximos meses. A previsão se apoia nas restrições de mobilidade adotadas em consequência da trajetória ainda ascendente dos casos de covid-19.
Fonte: https://economia.uol.com.br/colunas/jose-paulo-kupfer/2021/04/30/desemprego-sobe-e-so-nao-e-maior-porque-muitos-desistiram-de-buscar-vaga.htm
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