Dauphine, 65: 1º hit global da Renault também apresentou marca ao Brasil

Rodrigo Mora

O blog Mora nos Clássicos contará as grandes histórias sobre as pessoas e os carros do universo antigomobilista. Nesse percurso, visitará museus, eventos e encontros de automóveis antigos – com um pouco de sorte, dirigirá alguns deles também.

Colunista do UOL

27/02/2021 07h00

(SÃO PAULO)Muito antes de a Renault desafiar a hegemonia de Chevrolet, Fiat, Ford e Volkswagen no campo dos carros populares com Twingo e Clio, no início dos anos 1990, o DNA francês já estava no mercado brasileiro.

Revelado em março de 1956 no Palais de Chaillot, em Paris, e na sequência no Salão de Genebra, o Dauphine – feminino de Dauphin, título francês que significa “herdeiro do trono” – chegava para substituir o 4CV, modelo barato, robusto e compatível com a austeridade pós-guerra reinante na Europa.

Herdara um trono, pois, o Dauphine. Desenvolvido durante a Segunda Guerra Mundial às escondidas dos nazistas e apresentado no Salão de Paris de 1946, o 4CV rompeu logo a marca de um milhão de unidades. Seu sucessor foi além, com 2 milhões de unidades comercializadas ao redor do mundo – somente nos EUA, mercado inóspito para um Renault, vendeu 102 mil unidades em 1960.

As fronteiras do Dauphine eram longínquas. Além da França, o modelo foi produzido em outros territórios europeus e também em países como México, Argentina, Nova Zelândia e, claro, Brasil.

Willys-Overland do Brasil

Só que não era a Renault quem produzia e vendia o Dauphine e sim a Willys-Overland, instalada aqui desde abril de 1952 e que montara e fabricara até ali a família Jeep. Neste acordo, a empresa francesa teria 10% da brasileira, o que lhe permitia produzir seus carros por meio de transferência de tecnologia.

Aqui o Dauphine fora apresentado no final de 1959, indo de fato para o mercado em janeiro de 1960 carregando as mesmas qualidades que o fizeram conquistar clientes mundo afora: desenho elegante, espaço interno razoável e embrulhado em bom acabamento, estrutura monobloco, suspensões independentes nos dois eixos e baixo consumo, garantido pelo modesto motor Ventoux de 845 cm3, 26 cv e 6,7 kgfm de torque, acoplado a um câmbio manual de três velocidades.

Em julho de 1962 a gama cresceu com o Gordini, na prática um Dauphine com motor mais potente (32 cv) e câmbio de quatro marchas. Que recebia atualizações – de novas cores à oferta de freios dianteiros a disco – através das fases II (1966), III (1967) e IV (1968).

Peculiar foi o Teimoso, uma versão despojada que mirava no Fusca Pé-de-Boi e que abria mão de iluminação interna, tampa do porta-luvas, marcador de combustível, retrovisor externo e, acredite, até de limpador direito do para-brisa. A rudeza chegava ao ponto de suprimir as luzes de direção e resumir as lanternas a uma peça central, acoplada à iluminação da placa.

O 1093, de 1964, apimentava o desempenho com 42 cv, suspensão traseira rebaixada e pneus especiais. No interior, destaque para o conta-giros.

Nos encontros de antigos, mais comum é o Gordini, pois dele foram fabricadas cerca de 40 mil, ante quase 24 mil do Dauphine, pouco menos de 9 mil do Teimoso e 721 do 1093. Ao todo, cerca de 75 mil exemplares da família foram construídos até o fim da linha, em 1968.

Quando a Ford comprou a Willys, em 1967, caiu em seu colo o projeto M, um médio que Renault e Willys desenvolviam na França como substituto do Gordini. Ao redor do mundo conhecido como Renault R12, aqui no Brasil virou Ford Corcel – mantendo o DNA Renault por mais algumas décadas.

Fonte: https://www.uol.com.br/carros/colunas/mora-nos-classicos/2021/02/27/dauphine-65-1-hit-global-da-renault-tambem-apresentou-marca-ao-brasil.htm