Dança espacial: sistema reúne planetas que realizam órbitas no mesmo ritmo

Thiago Signorini Gonçalves

Thiago Signorini Gonçalves é doutor em astrofísica pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia, professor do Observatório do Valongo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e coordenador de comunicação da Sociedade Astronômica Brasileira. Utilizando os maiores telescópios da Terra e do espaço, estuda a formação e evolução de galáxias, desde o Big Bang até os dias atuais. Apaixonado por ciência, tenta levar os encantos do Universo ao público como divulgador científico.

28/01/2021 04h00

Um trabalho liderado por astrônomos suíços e divulgado na última segunda-feira (25) revelou um sistema planetário inusitado: planetas giram ao redor de uma estrela num ritmo bem estabelecido, como se estivessem dançando ao som de uma música espacial.

A estrela TOI-178 está a cerca de 200 anos-luz de nós, na direção da constelação do Escultor. Analisando dados do telescópio espacial TESS, da Nasa, os autores já haviam notado em 2019 que havia sinais de que as órbitas dos planetas ao redor dessa estrela apresentavam características peculiares.

Para confirmar a hipótese, utilizaram uma série de outros telescópios terrestres e espaciais, incluindo o CHEOPS, da Agência Espacial Europeia, e o Telescópio Muito Grande (VLT) do consórcio europeu ESO. No final, conseguiram ver que realmente havia uma série de planetas que se movia de forma única ao redor da estrela.

Mas o que queremos dizer com essa dança? O termo técnico é ressonância orbital, ou seja, os planetas parecem girar em um ritmo bem determinado.

No caso do sistema TOI-178, apenas o planeta mais próximo não participa da dança. Os outros estão girando ao redor da estrela de forma bem ritmada, em uma ressonância 2:4:6:9:12; ou seja, quando um planeta completa duas voltas ao redor da estrela, o outro completa 4, o seguinte 6, e assim por diante.

Essa configuração é surpreendente porque, em muitos casos, esse tipo de movimento não é estável. Ao entrar em ressonância, corpos sofrem pequenos puxões gravitacionais que podem alterar a sua órbita e eventualmente expulsá-los do sistema.

Tomemos como exemplo os asteroides no sistema solar, situados entre Marte e Júpiter. Existem regiões do cinturão de asteroides vazias, justamente por causa da interação gravitacional com o gigante gasoso Júpiter. Se um asteroide entra nessa órbita, ele é rapidamente cuspido do sistema.

Isso não quer dizer que todas as ressonâncias são impossíveis. As luas de Júpiter, por exemplo, estão em uma bela ressonância: quando Io completa quatro voltas ao redor do planeta, Europa completa duas e Ganimede, uma.

Para que isso ocorra, um delicado balanço gravitacional é necessário, então as propriedades dos planetas deveriam ser bem ordenadas. No entanto, não é o que os cientistas observam.

Os planetas não parecem ter tamanhos e densidades bem definidas, como seria de se esperar, mas apresentam propriedades que variam entre algo comparável à Terra com objetos mais semelhantes a Netuno, sem uma ordem clara.

Um desafio para explicar como o sistema pode ter se formado e evoluído para chegar a esse estágio, já que qualquer pequena perturbação poderia por tudo a perder, como um malabarista equilibrando diversos pratos ao mesmo tempo.

A equipe agora aguarda o lançamento do telescópio espacial James Webb, da Nasa. O futuro observatório carregará consigo instrumentos capazes de revelar detalhes sobre as propriedades físicas dos corpos ao redor de TOI-178, e talvez ajudar a esclarecer o mistério do baile dos planetas.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Fonte: https://www.uol.com.br/tilt/colunas/thiago-goncalves/2021/01/28/a-danca-dos-exoplanetas.htm