Dados, 5G, IA: o que startups que lidam com governos estão de olho em 2021

Letícia Piccolotto

Letícia Piccolotto especialista em gestão pública pela Harvard Kennedy School, presidente da Fundação Brava e fundadora do BrazilLAB, primeiro hub de inovação que conecta startups com o poder público. Em 2020, foi a única brasileira na lista das 20 principais lideranças mundiais em GovTech da Creators, laboratório de inovação sediado em Tel Aviv (Israel).

16/01/2021 04h00

No startups que trabalham com governos de todo o país.

O texto de hoje complementa a reflexão anterior. Nele, gostaria de compartilhar o que acredito que serão as principais quatro tendências govtech em 2021.

Muitas mudanças (positivas) podem ser esperadas!

1. Conectividade: o 5G deve sair do papel?

Com mais pessoas acessando a internet e utilizando-a diariamente para as mais diferentes funções, ficou cada vez mais evidente a importância dos investimentos em conectividade.

Para alcançar esse novo patamar e, mais importante, avançar em cobertura e novas possibilidades de utilização da internet, a tecnologia precisará evoluir. E nesse ponto entra em cena o chamado celulares ou tablets.

O 5G promete aumentar a velocidade para downloads e uploads, assim como ampliar a cobertura e possibilitar que novos equipamentos estejam conectados à rede —desde relógios até a geladeira de casa e também semáforos de trânsito. Com ele, conceitos antes quase abstratos, como internet das coisas (Iot) e smart cities, passam a se tornar cada vez mais possíveis.

Essa tecnologia não é novidade, há muito tempo discutimos a sua incorporação. O grande diferencial é que há uma perspectiva muito concreta de que ela possa, finalmente, ser implementada.

Isso porque a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) prevê a realização de um leilão no primeiro semestre de 2021 para conceder às operadoras de telefonia o direito de implementar a tecnologia no país.

Ainda há muito o que fazer, disputas políticas a superar e, certamente, não será possível ter à disposição a tecnologia 5G ainda em 2021. Mas o primeiro e importante passo já terá sido dado para essa caminhada.

2. Digitalização de serviços públicos: facilidade no celular

Ainda seguindo o legado do ano de 2020, devemos experimentar uma intensa digitalização de serviços públicos ao longo de 2021. Já não há mais volta.

Com mais ou menos dificuldades, a pandemia e o isolamento social nos trouxeram a oportunidade de experimentar a oferta de diversos serviços em um modelo digital.

Segundo dados da plataforma Gov.br, há mais de 4 mil serviços públicos digitalizados, 64% de toda oferta do governo federal.

Por isso, experiências como o aplicativo e-título, atendimento via telemedicina e tantas outras devem se tornar cada vez mais comuns, aprimoradas e fundamentais em nosso dia a dia.

Mas fica um importante alerta. Embora seja uma grande entusiasta de que os governos digitalizem os serviços públicos, também defendo que esse processo deva ter como base um diagnóstico fundamentado e um planejamento consistente.

A digitalização dos serviços públicos deve ter intencionalidade, já que seu propósito é melhorar o atendimento ao cidadão. Caso essa visão não esteja presente, corre-se o risco de alcançar o efeito contrário, criando a e-burocracia, ou seja, a manutenção de todas as disfunções que existem no ambiente analógico, no ambiente digital —já discuti sobre esse tema aqui.

Govtechs da rede do Programa Força-Tarefa Covid-19, têm muito a contribuir para esse esforço tão fundamental.

3. Dados e inteligência artificial: gestão pública com evidência

Um outro legado de 2020: a utilização estratégica de dados pela gestão pública. Sem eles, seria impossível fazer a gestão dos insumos hospitalares, das estratégias de isolamento social e também de reabertura dos municípios, assim como, no momento atual, o planejamento da imunização contra a covid-19 que, esperamos, aconteça em 2021.

Já não há dúvidas de que os governos precisam de dados para que possam ser efetivos. E essa necessidade deve ser, cada vez mais, colocada em prática. Será preciso investir em consolidar uma cultura de uso de dados, o que deve incluir a capacitação de gestores públicos, o investimento em procedimentos de coleta e também sistemas para armazenamento das informações.

E principalmente: os dados precisam se transformar em conhecimento útil. Para isso, entra em cena a chamada inteligência artificial. Diversas startups que fazem parte da rede do BrazilLAB utilizam essa tecnologia.

Por exemplo, o Colab, uma das organizações aceleradas que, juntamente com a Epitrack, desenvolveu o celular.

As possibilidades são infinitas e só estão começando a serem aplicadas.

4. Privacidade, proteção e cibersegurança

Os ataques cibernéticos foram destaque nos últimos meses de 2020 – como discuti aqui. Instituições públicas como o STJ, TSE e Ministério da Saúde tiveram seus sistemas invadidos e os dados de milhões de brasileiros expostos na internet.

A cibersegurança sempre foi um tema estratégico, quase uma precondição para o uso das redes. Mas com o uso cada vez mais intensivo da internet e a consequente produção de dados, ela deverá ser cada vez mais fundamental.

Em 2020, há ainda um destaque maior: a Lei Geral de Proteção de Dados, aprovada em 2018, e que traz uma série de disposições sobre o tratamento de dados pessoais na internet, deve ter suas medidas implementadas até agosto.

Isso significa que todas as instituições —públicas, privadas, terceiro setor— deverão adequar suas estruturas para incorporar os dispositivos, requisitos e práticas definidos pela legislação.

Há organizações saindo na frente, como é o caso da Dados Legais, govtech que participou do Força-Tarefa Covid-19 do BrazilLAB, e que tem uma solução dedicada a automatizar os requisitos da LGPD em qualquer organização.

Não podemos subestimar esse esforço. Especialistas, inclusive, afirmam que a LGPD representará uma profunda mudança de mentalidade, algo similar ao que ocorreu, nos anos 1990, com a aprovação do Código de Defesa do Consumidor.

Em ambos os casos, passamos a entender o consumo e a produção de dados como um direito individual. Em 2021, temos o desafio de transformar isso em realidade.

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Como todo o exercício de prospecção —que é diferente de previsão—, há sempre o risco do erro e do imponderado. Mas também é seguro dizer que as tendências para 2021 não surgem de agora e que temos evidências muito fortes sobre esses avanços.

Acompanharemos com atenção e traremos, aqui na coluna, todas as novidades sobre esses quatro temas —e tantos outros que possam surgir. O ano de 2021 promete muito!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Fonte: https://www.uol.com.br/tilt/colunas/leticia-piccolotto/2021/01/16/4-tendencias-para-o-universo-govtech-em-2021.htm