Como o espírito empreendedor pode levar melhorias para o setor público

Letícia Piccolotto

Letícia Piccolotto especialista em gestão pública pela Harvard Kennedy School, presidente da Fundação Brava e fundadora do BrazilLAB, primeiro hub de inovação que conecta startups com o poder público. Em 2020, foi a única brasileira na lista das 20 principais lideranças mundiais em GovTech da Creators, laboratório de inovação sediado em Tel Aviv (Israel).

27/02/2021 04h00

Há 20 anos atuo no ecossistema de empreendedorismo no Brasil. Minha história com esse universo começa antes mesmo do próprio termo ser conhecido e fazer parte do dicionário de língua portuguesa —o que só aconteceu em 2004.

Ela começou logo no início da minha carreira, quando, aos 18 anos, ajudei a construir a Endeavor no Brasil. Logo depois empreendi a Fundação Brava, diversas empresas de consultoria para a sociedade civil e, há quase 5 anos, construí o meu projeto de vida: o BrazilLAB, primeiro e único hub govtech do Brasil dedicado a acelerar startups que desejem trabalhar com o setor público.

Essa trajetória e conexão com o empreendedorismo fazem com que eu fique absolutamente feliz ao me deparar com o cenário atual para esse setor. Mesmo diante de todas as dificuldades trazidas pela pandemia, o Brasil tem recorde de novos empreendedores.

É bem verdade que ainda temos no país um empreendedorismo de subsistência, nem sempre inovador e tecnológico. Mas também é inegável que somos uma nação conectada com o desejo de empreender. É preciso potencializar essa vocação. Esse deve ser um trabalho prioritário para o setor público.

Os governos de todo o país precisam garantir as ferramentas necessárias para estimular ambientes de negócios, investir em infraestrutura e capacitação, além de promover um ambiente regulatório que estimule o surgimento de novas empresas.

No Brasil já há bons exemplos dessa receita, como mostram os resultados do Índice Cidades Empreendedoras (2020) realizado pela Endeavor e pela Escola Nacional de Administração Pública (ENAP).

São Paulo e Florianópolis lideram o ranking, mas há também boas surpresas: “cidades fora do eixo tradicional de negócios (Rio-SP-BH) que estão reunindo características que favorecem, cada vez mais, o fortalecimento de ecossistemas empreendedores locais, com destaque para capital humano, inovação e cultura empreendedora”, destaca o documento. Osasco (SP), São Bernardo do Campo (SP) e Jundiaí, por exemplo, estão entre os 10 primeiros colocados no índice de 100 cidades.

Govtechs também são empreendimentos

A tendência de crescimento do empreendedorismo no Brasil chegou também ao universo govtech. Estando à frente do BrazilLAB tenho acompanhado o surgimento e crescimento das startups que atuam com o setor público.

Se, há 5 anos, havia poucas organizações que se aventuravam nesse setor, hoje vemos um ecossistema bastante maduro e consolidado. Eventos bem recentes reforçam essa percepção.

A AprovaDigital, startup do Selo GovTech, recebeu em janeiro um investimento de R$ 4 milhões da Astella Investimentos.

E, na semana passada, a Psicologia Viva, startup acelerada pelo BrazilLAB, divulgou sua participação no programa “Psicólogos na Educação“, do governo do Estado de São Paulo, que levará atendimento psicológico a 5.100 escolas públicas do estado, representando um investimento de R$ 5 milhões.

O que o futuro reserva

O cenário é animador, mas é preciso investir hoje e colher o amanhã. Como sociedade, precisamos sempre estimular a formação de novos empreendedores, especialmente os pequenos e médios, pois eles são fundamentais para o desenvolvimento econômico e social do país.

O universo do empreendedorismo tem sido a tônica de toda a minha trajetória profissional, e ter a oportunidade de acompanhar como essa força transformou a trajetória de tantos indivíduos, famílias e comunidades reforça diariamente minha crença na importância de empreender para transformar a sociedade.

E por acreditar no empreendedorismo, tenho dedicado boa parte do meu tempo na produção de conteúdos relevantes sobre o tema, especialmente aqui na coluna, mas também em minhas redes sociais.

Por meio da disseminação do conhecimento e de experiências transformadoras podemos estimular cada vez mais a cultura empreendedora que já é tão natural em nosso país.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Fonte: https://www.uol.com.br/tilt/colunas/leticia-piccolotto/2021/02/27/govtechs-tambem-crescem-na-crise.htm