Como funciona o passaporte digital de vacinação que libera viagens na China

Felipe Zmoginski

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Fundou a Associação Brasileira de Online to Offline, foi secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial e head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia.doras e compreender a ascensão da nação pobre que se tornou potência mundial em menos de três décadas.

17/03/2021 04h00

O ministério das Relações Exteriores da China iniciou esta semana a distribuição de “passaportes de vacinação” que conferem a seus portadores o direito de viajar livremente pelo país bem como deixar o território chinês rumo ao exterior. Nesta fase inicial, apenas cidadãos chineses podem solicitar o documento.

O método de concessão do “passaporte de vacinação” é todo feito eletronicamente. O usuário instala um miniapp do serviço de imigração de relações exteriores do país em seu celular, por algoritmos de reconhecimento facial.

Se os dados do usuário constarem na base de informações de pessoas já vacinadas no país, ele obtém o passaporte digital e sinal verde para viajar livremente.

O passaporte eletrônico releva informações como a data de aplicação da primeira e segunda dose, a fabricante da vacina e outras condições clínicas, como o resultado mais recente do teste de anticorpos para o coronavírus. Este teste é capaz de revelar se a vacina foi efetiva e gerou algum grau de imunidade no organismo do usuário, afirma comunicado do governo chinês.

Embora, no momento, este documento não seja oferecido a estrangeiros, uma declaração do atual presidente do país, Xi Jinping, indica que este pode tornar-se uma exigência para visitas à China. Xi afirmou nesta semana que espera que tal tipo de controle (passaportes de vacinação) facilite a entrada de delegações estrangeiras na China em novembro, quando Pequim deve sediar uma cúpula do G20, reunião de chefes de Estado dos 20 países mais industrializados.

O “passaporte de vacinação” é uma evolução do “QR de saúde”, documento digital também armazenado no app WeChat que demonstrava o status de saúde de seu usuário, liberando-o para fazer viagens domésticas, entrar em shopping centers ou ir a eventos fechados.

O anúncio foi recebido com um misto de esperança e críticas. O lado positivo é que, efetivamente, uma iniciativa deste tipo permite a retomada de viagens internacionais com segurança, a volta do turismo e dos negócios internacionais. As críticas se dão pelo fato de a medida ser discriminatória, já que pessoas não vacinadas podem ficar impedidas de deslocar-se.

Em muitos casos, a não vacinação não é uma opção da pessoa, mas resultado da escassez do imunizante.

Na China, 52 milhões de pessoas já foram vacinadas contra a covid-19. Em números absolutos é um registro alto, mas percentualmente baixo, se levarmos em conta que o país tem 1,4 bilhão de habitantes. De acordo com Pequim, o plano nacional de vacinação seguirá até o final do ano que vem, quando 80% da população chinesa terá sido imunizada.

Apesar da controvérsia, países da União Europeia discutem adotar a mesma solução para permitir deslocamentos de cidadãos comunitários entre as fronteiras da Europa.

O principal temor dos críticos é que, uma vez estabelecido este tipo de critério, será difícil evitar que certificados do tipo não sejam implementados no futuro o que, por exemplo, pode expor a discriminação pessoas com doenças mentais ou outras doenças infeccionas, como HIV ou hepatite, por exemplo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Fonte: https://www.uol.com.br/tilt/colunas/felipe-zmoginski/2021/03/17/china-cria-passaporte-de-vacinacao-para-liberar-viagens.htm