Cientistas descobrem que covid-19 pode reduzir prazer sexual

Felipe Germano

Felipe Germano é jornalista que escreve sobre comportamento humano, saúde, tecnologia e cultura pop. Para encontrar as boas histórias, atravessa o planeta: visitou de clubes de swing e banheiros do sexo paulistanos à sets de cinema hollywoodianos. Já trabalhou nas redações da Jovem Pan, do site Elástica, na revista Época e na revista Superinteressante.

12/03/2021 04h00

Com dois mil óbitos de brasileiros por dia, e mais de 200 mil compatriotas vítimas de covid-19, tenho noção do meu ridículo em vir dar motivos para pessoas ficarem em casa. Eu sei que é óbvio, e beira o desrespeitoso. Ainda assim, é fácil encontrar quem prefere dar um rolezinho no fim de semana.

Eles estão em toda parte: naquela rua badalada da cidade, dentro do bar cujas portas fechadas mal abafam o som alto, nos seus melhores amigos do a capacidade dos pacientes quando o assunto é aromas. Sentiu o cheirinho da lambança?

A pesquisa mais recente sobre o assunto (e que vem levantando esse debate entre cientistas) saiu nesta semana, publicada pela respeitadíssima Universidade de Chicago.

O estudo destrinchou a vida sexual e olfativa de 2 mil idosos americanos (a idade média era de 72 anos), e chegou a algumas conclusões. Quanto menor a capacidade de sentir cheiros dos idosos, menos “motivação sexual” e “satisfação emocional com o sexo” eles relatavam. A quantidade de transas não diminuiu, indicando que o sexo continuava presente; o prazer, não.

Mas aí você pode me dizer: “forçou a barra, vai? 72 anos não é mais idade para medir a libido de alguém”. OK, entendo, mas discordo. Principalmente por dois motivos.

O primeiro é que, para os pesquisadores, a causa dessa diminuição no prazer não se deve a algo que é exclusivo à idade: sexo é mais prazeroso quando envolve todos os sentidos, ponto.

“O olfato está intimamente ligado a partes do cérebro que desempenham um grande papel na sexualidade, especialmente nas áreas envolvidas na emoção e no prazer do prazer”, contou para mim o Dr. Jayant M. Pinto, autor do estudo.

O perfume dela, o suor dele, os fluídos todos trocados, tudo tem cheiro. E eles ativam sensações que intensificam nossa transa. Ou você não se arrepiou só de lembrar daquele aroma?

O segundo, e mais valioso, é que essa não é a única pesquisa sobre o assunto. Essa relação já vem sendo tratada há anos —e não só com idosos.

Em 2018, um estudo da Escola Politécnica de Berlim cravou que 30% dos entrevistados relataram ter perdido prazer durante o sexo, depois de um comprometimento com o olfato. E nesse caso, a idade média era de 40 anos, com respondentes de 21 primaveras.

Outro caso: uma pesquisa publicada em dezembro de 2019, com pacientes que variavam entre 31 e 80 anos, apontou na mesma direção. Os pesquisadores do estudo inglês apoiado pela NHS (o SUS do Reino Unido) conclui que “muitos participantes descreveram um efeito profundo em seus relacionamentos com outras pessoas como resultado de seu distúrbio olfativo. Isso vai desde não gostar de comer juntos até mais relacionamentos íntimos, principalmente sexo.”

Precisa falar mais?

Então o Dr. Pinto complementa. “Embora ainda não tenhamos dados sobre isso, sabemos que a perda de cheiro em pessoas mais jovens também causa um grande fardo em suas vidas. Está associado à depressão, provavelmente devido aos principais efeitos que têm sobre como as pessoas com olfato prejudicado interagem com o mundo”, diz.

“Reduzir a entrada sensorial também pode impactar a sexualidade nessa faixa etária. Ao estudarmos a perda de cheiro pós-covid, teremos que trabalhar duro para entender as consequências e trabalhar para mitigá-las e revertê-las”, complementa.

Sair durante a pandemia acaba de ficar ainda mais broxante.

Fonte: https://www.uol.com.br/tilt/colunas/sexting/2021/03/12/perda-de-olfato-reduz-prazer-sexual---mais-um-motivo-para-ficar-em-casa.htm