Carros econômicos: por que alguns ‘param toda hora’ no posto para abastecer

Rafaela Borges

Rafaela Borges é jornalista automotiva desde 2003, com passagens por Carsale e Estadão. Escreve sobre o mercado de veículos, supercarros, viagens sobre rodas e tecnologia.

Colunista do UOL

16/11/2020 04h00

Alguns amigos, conhecidos e seguidores em redes sociais, proprietários de um mesmo modelo, me procuram com a mesma pergunta: como esse carro pode ter a fama de ser um dos mais econômicos do segmento, se tenho de parar para reabastecer a todo momento? Ao levantar os dados desse veículo no Inmetro, vi que ele realmente se destaca no quesito consumo baixo.

Além disso, já fiz o teste de consumo com esse carro. Ele está longe de ser gastão. Qual é, então, a razão das frequentes paradas em postos? Tanque de combustível muito pequeno. Por causa disso, carros que não consomem muito podem dar a impressão de serem verdadeiras esponjas.

Esse problema ficou mais evidente após a proliferação dos carros flexíveis. O etanol, preferido por muitos consumidores por ser mais em conta – e menos poluente -, é capaz de rodar menos quilômetros que a gasolina a cada litro de combustível. Diante da realidade, as montadoras tiveram de rever a capacidade de seus tanques.

Nem todas acertaram. Por isso, carros que têm selo verde do Inmetro acabaram ganhando fama de gastões entre os proprietários que nunca fazem a conta do consumo real – nem mesmo olham no computador de bordo. E, para aqueles que fazem o cálculo, há um outro problema: ter de parar diversas vezes para reabastecer pode ser um inconveniente no dia a dia.

Isso faz da capacidade do tanque de combustível um item muito importante a se avaliar na hora da compra. Tão importante quanto o consumo. Imagine um consumidor que viaja frequentemente, a lazer ou a trabalho? Ou um morador de uma grande cidade, como São Paulo, que tem de percorrer 60 km por dia no percurso de ida e volta ao trabalho (isso existe, e era meu caso até 2019)?

Para casos como esses, carros com boa capacidade do tanque de combustível são fundamentais. Porém, em alguns casos, de nada adianta ser um destaque neste aspecto, se o consumo for alto demais.

Por isso, para a saúde das finanças e a comodidade no dia a dia, o ideal é pesquisar e encontrar um veículo que seja bom, ou ao menos razoável, nos dois fatores: consumo e capacidade do tanque. Especialmente para aqueles que rodam longas distâncias, e podem considerar as constantes paradas para reabastecimento tão inconvenientes quanto o valor gasto com etanol ou gasolina.

O que é um tanque com boa capacidade?

Para definir o que é uma boa capacidade do tanque de combustível, é preciso observar o segmento do veículo. Um compartimento acima de 45 litros pode dar ótima autonomia a um hatch compacto com consumo baixo ou mediano. Já para um SUV, o compartimento tem de ser maior.

Os SUVs são maiores e mais pesados que os hatches. Por isso, consomem mais combustível. O problema é que a maioria compartilha plataforma com os hatches. E também os tanques de combustível.

A razão? Componentes em comum simplificam o projeto e o processo de produção. Reduzem custos. Assim, é bem comum um ex-proprietário de hatch compacto que migra para um SUV se assustar não apenas com o aumento do consumo, mas também com a redução da autonomia.

Para um SUV compacto, ou mesmo um sedã pequeno, um tanque de combustível que garante boa autonomia é aquele que tem a partir de 50 litros.

Por que as montadoras não aumentam a capacidade?

Além da simplificação do projeto e redução de custos, há outros fatores que determinam baixa capacidade do tanque de combustível dos carros. Entre eles está o espaço interno.

Tanques maiores podem roubar espaço nas cabines. Além disso, influenciam no peso do carro. E o peso está diretamente ligado ao consumo de combustível. Um veículo que quer ser econômico pode abrir mão de uma boa autonomia, dependendo de seu público alvo.

Um bom exemplo é o Renault Kwid, um dos carros mais econômicos do Brasil. O modelo é também o mais leve, mas, entre os 30 mais vendidos, tem o menor tanque de combustível (leia mais abaixo).

Sua autonomia de 410 km com etanol, na estrada, é bem inferior aos 515 km do Hyundai HB20, que com os motores 1.6 e 1.0 turbo tem o maior tanque entre os hatches compactos.

Porém, nesse ciclo o HB20 1.0 turbo faz 10,3 km/l. O Kwid faz 10,8 km/l, de acordo com o Inmetro. Com gasolina, na estrada, a diferença fica mais ampla: são 14,7 km/l para o Hyundai e 15,6 km/l para o Renault.

A maior diferença, no entanto, é na cidade, deixando claro que o Kwid pode ser mais interessante para o cliente que faz questão de economizar dinheiro com combustível e não é viajante frequente. O Renault faz 10,3 km/l de etanol e o Hyundai, 8,6 km/l.

Os carros com os menores e maiores compartimentos

O Kwid tem 38 litros de capacidade no tanque de combustível. Entre os hatches compactos, aquele que tem o segundo pior compartimento é o Onix, com 44 litros. O melhor, Hyundai HB20 nas versões 1.6 e 1.0 turbo, tem 55 l.

Entre os sedãs compactos, o melhor também é o HB20S, com a mesma capacidade. Já o pior é o novo Nissan Versa, com 41 litros, seguido pelo Chevrolet Onix Plus, com 44 litros.

Dos SUVs compactos, a pior capacidade é a do Kicks, com 41 litros. O Tracker, com 44 litros, fica com o segundo lugar. O Nissan e o Chevrolet estão entre os SUVs compactos mais econômicos do Brasil.

Já o Renegade 1.8 é um dos que mais gastam combustível. Em compensação, seu tanque é o maior, com 60 litros. Os dados sobre os tanques foram divulgados pelos fabricantes.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Fonte: https://www.uol.com.br/carros/colunas/primeira-classe/2020/11/16/tanque-de-combustivel-pode-ser-um-problemao-no-dia-a-dia.htm