Câmera que reconhece cara de dúvida de aluno? China aposta em IA na escola

Felipe Zmoginski

Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Fundou a Associação Brasileira de Online to Offline, foi secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial e head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia.doras e compreender a ascensão da nação pobre que se tornou potência mundial em menos de três décadas.

23/12/2020 04h00

A China é reconhecida por entidades internacionais, como a Unesco e o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos, na tradução do inglês), o teste internacional de estudantes do ensino médio, como um dos países que mais investe em soluções de inteligência artificial (IA) nas salas de aula.

De acordo com Kai-Fu Lee, que foi CEO do Google na China, o país asiático deve liderar o uso de ferramentas de IA entre as edtechs em todo o mundo na década de 2020 a 2030.

O uso destas tecnologias permite, por exemplo, que câmeras de reconhecimento facial instaladas em sala de aula façam o controle de frequência dos alunos, mas também avaliem, a partir de suas expressões, o grau de compreensão das matérias ministradas. Em tempo real, o professor pode receber orientação sobre quais alunos precisam de mais atenção e reforço.

O método deve permitir ainda que algoritmos identifiquem “talentos especiais” em turmas espalhadas pelo país.

O uso de automação e AI é particularmente interessante na China, um país que, a exemplo do Brasil, tem dimensões continentais, por permitir que estudantes em vilarejos distantes como no Tibete e Xinjiang, tenham acesso a professores, aulas e testes com a mesma qualidade que adolescentes matriculados em colégios de Xangai ou Pequim.

Especialistas em várias partes da China concordam, porém, que o uso de IA em sala de aulas vive ainda “sua infância”.

Das 500 mil escolas públicas do país (para efeito de comparação, o Brasil tem 184 mil escolas públicas de ensino básico) menos de 5% usam estes recursos, em parte porque seus gestores têm dificuldades de justificar à sua comunidade que vale a pena colocar dinheiro em ferramentas do tipo.

Nas escolas particulares chinesas, porém, o uso ocorre de forma mais intensa, movimento que deve acelerar após a pandemia de covid-19, fenômeno que estimulou a adoção de novos serviços digitais em toda a economia, não só em educação.

Entre os casos mais bem-sucedidos de uso de IA na educação estão as plataformas de ensino de idiomas, Liuliusho, que ensina língua chinesa, e K12, que ensina língua inglesa.

Além das aulas (presenciais ou virtuais) com professores de verdade (entenda-se “seres humanos”) é possível conversar com avatares de IA e executar testes de conhecimento, que permitem aferir seu nível de pronúncia, compreensão de textos, vocabulário e gramática.

Para muitos especialistas, o contato entre professor e aluno sempre foi mais eficaz para medir conhecimento, porém seria humanamente impossível a um mestre acompanhar os exercícios, leituras e comentários de todos seus alunos, detidamente.

Além disso, o contato entre duas pessoas é sempre suscetível a predileções pessoais. Por isso, frequentemente, para dar impessoalidade a exames como o vestibular, usa-se o método de “questões de múltipla escolha”.

Para especialistas como Ka-Fu Lee, o avanço da inteligência artificial, porém, permitirá eliminar este tipo de avaliação, para provas no ensino médio, nas faculdades e até no disputado Gao Kao, o ultracompetitivo vestibular chinês.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Fonte: https://www.uol.com.br/tilt/colunas/felipe-zmoginski/2020/12/23/uso-de-ia-deve-acabar-com-testes-de-multipla-escolha-na-china.htm