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Briga do Ocidente com a China pode atrapalhar futura rede de blockchain
Felipe Zmoginski
Felipe Zmoginski foi editor de tecnologia na revista INFO Exame, da Editora Abril, e passou pelos portais Terra e America Online. Fundou a Associação Brasileira de Online to Offline, foi secretário-executivo da Associação Brasileira de Inteligência Artificial e head de marketing e comunicações do Baidu no Brasil, companhia líder em buscas na web na China e soluções de inteligência artificial em todo o mundo. Há seis anos escreve sobre China e organiza missões de negócios para a Ásia.doras e compreender a ascensão da nação pobre que se tornou potência mundial em menos de três décadas.
O criptografia avançada e computação tem potencial para transformar setores como os de saúde, administração pública, validação de contratos, logística e, claro, o mercado financeiro.
Embora não seja exatamente algo novo, a implementação de blockchain para permitir, por exemplo, que documentos sejam validados de forma mais rápida, segura e menos burocrática só será possível quando diferentes instituições reconhecerem os mesmos protocolos e padrões para efetuar estas transações.
País com avançado uso do blockchain, a China já usa o método digital para, por exemplo, validar escrituras de imóveis, aprovar contratos públicos e realizar compensações financeiras. Este ano, o Banco do Povo, equivalente nacional ao Banco Central, estreou o uso de uma moeda soberana digital baseada em blockchain, o e-renminbi. Os ganhos em termos de produtividade e segurança são brutais.
Criada este ano, a rede “Blockchain Service Network” é uma aliança que prevê a definição comum, por múltiplas empresas, governos e entidades, de padrões para o uso e troca de documentos baseados na tecnologia. A rede tem evidente liderança chinesa embora, claro, agregue representantes de várias partes do mundo. E justamente aí está o obstáculo.
O fato de muitos países, notadamente os Estados Unidos, mas também o Brasil, imporem restrições a iniciativas chinesas ameaçam implodir a formação de uma rede que, na prática, aceleraria a adoção destes protocolos em todo o mundo.
Atrasar a implementação de blockchain, na prática, é tornar o comércio internacional, os serviços financeiros e a burocracia dos cartórios mais caros e ineficientes.
O drama é maior se notarmos que, à exceção da China, há poucos países com grande projeção internacional dispostos a exercer este papel e puxar o uso de um recurso que melhorará o ambiente de negócios.
A guerra tecnológica que busca, em última análise, retardar a ascensão chinesa apresenta não só no caso do blockchain um prejuízo ao usuário final. O mesmo problema se repete com as tecnologias 5G, que ficarão mais caras e avançarão com menos velocidade por conta do esforço em bloquear a China.
No país asiático, no entanto, o sentimento é de que é preciso perseverar e tais oposições já estão “precificadas”. Não há caso na história de uma potência hegemônica, como tem sido os Estados Unidos desde o pós-guerra, perder sua liderança sem reagir contra o desafiante.
No caso do blockchain, como em tantos outros, nada indica que a China desistirá de seus objetivos, fiel à fama de planejar-se a longo prazo. É famosa e icônica a frase de Zhou Enlai, primeiro-ministro chinês nos anos 70, ao ser questionado, pelo secretário de Estado americano Henry Kissinger, sobre os efeitos que a revolução francesa teve sobre o mundo: “ainda é cedo para dizermos”, respondeu.
Fonte: https://www.uol.com.br/tilt/colunas/felipe-zmoginski/2020/12/02/oposicao-a-china-limita-avanco-do-blockchain-no-mundo.htm