Alpine, Gordini e R.S.: quem é quem na hierarquia esportiva da Renault

Rodrigo Mora

O blog Mora nos Clássicos contará as grandes histórias sobre as pessoas e os carros do universo antigomobilista. Nesse percurso, visitará museus, eventos e encontros de automóveis antigos – com um pouco de sorte, dirigirá alguns deles também.

Colunista do UOL

28/10/2020 08h00

(SÃO PAULO)Amedeo Gordini (1899 – 1979) e Jean Rédélé (1922 – 2007) são dois dos mais importantes nomes na história da Renault.

Gordini nasceu em Bazzano, na Itália, e deu os primeiros passos profissionais como mecânico em uma oficina Fiat de Bolonha. Nos anos seguintes passou para a Isotta-Fraschini, serviu na Primeira Guerra Mundial, se especializou em motores da Hispano-Suiza e, em 1925, foi parar em Paris – de onde nunca mais saiu. Ao se naturalizar francês, virou Amédée Gordini.

Na sua oficina instalada em Suresnes, reencontrou os carros da Fiat, o que em meados dos anos 1930 o levou à Simca, marca francesa que produzia os carros da italiana sob licença. Já um notável preparador de motores, Gordini imediatamente se tornou o mentor da divisão de competição da empresa. As primeiras vitórias vieram no final daquela década.

Em setembro de 1945, Gordini se tornou o primeiro vencedor de uma corrida pós-guerra, na Copa Robert Benoist, em Bois de Boulogne. Em 1950, a Simca-Gordini chegou à Fórmula 1, mas sem o sucesso conquistado nas categorias regionais. Em 1956, focada na produção de automóveis para atender a crescente demanda por modelos compactos, a Simca abandonou as pistas.

Foi então que a Renault recrutou “Le Sorcier” (o feiticeiro, em francês), como Gordini também era conhecido. O apelido surgiu da sua habilidade em extrair mais potência de motores modestos com intervenções baratas e simples. Uma das primeiras missões foi transformar o pacato Dauphine em carro de rali.

Em setembro de 1964, durante o Salão de Paris, a Renault apresentou o R8 Gordini, criação mais emblemática dessa parceria. Equipado com um motor traseiro de 1,1 litro de 95 cv e capaz de alcançar 170 km/h, tinha um objetivo: “permitir que toda uma clientela de entusiastas da direção esportiva satisfaça sua paixão sem ter que investir mais do que o preço de um carro produzido em massa”, segundo declaração do então CEO da fabricante, Pierre Dreyfus.

No mesmo ano, o R8 Gordini começou a enfileirar vitórias: foi primeiro, terceiro, quarto e quinto colocado no rali Tour de Corsica. Em 1966, a versão 1300 (de 110 cv) deu origem à Copa Gordini. Em 1967 papou o rali de San Remo.

Alpine A110, lenda dos ralis

Em Dieppe, não muito distante de Gordini aconteceu, teve destino similar Jean Rédélé, que em 25 de junho de 1955 fundou a Société des Automobiles Alpine.

Rédélé teve ligação ainda mais íntima com carros da Renault, pois seu pai, Émile, fora revendedor da marca e mecânico de Ferenc Szisz, o primeiro piloto contratado pela Renault, lá no início do século passado. Aos 24, se tornou o mais jovem dealer da França e, aos 28, venceu o rali de Dieppe com um 4CV.

Daí para encomendar ao designer Giovanni Michelotti uma carroceria mais aerodinâmica para encaixar sobre seu 4CV de corrida foi um pulo. E com o 4CV “Speciale” em mãos, foi desbravar competições como 24 Horas de Le Mans, Tour de France, Mille Miglia e Coupe des Alpes – de onde mais tarde tiraria o nome para seus próprios carros.

Primeiro foi o A106, que emprestou do 4CV motor (747 cm3, em versões de 21 e 38 cv), suspensão e chassi e somou 251 unidades até 1960 – as três primeiras exibiam as cores da bandeira da França.

Do A106 Rédélé evoluiu para o A108, que recorria ao Renault Dauphine para que o Ventoux de 845 cm3 assumisse o cofre, também na traseira. Entre 1958 e 1965, foram 236 exemplares fabricados, que chegaram a receber o bloco de 998 cm3 do Dauphine Gordini nas variantes mais potentes.

Assim como o 4CV foi a base para o A106 e o Dauphine para o A108, o sucessor A110, de 1962, tinha alma de… R8 Gordini. Com esse carro a Alpine passou a representar a Renault nas competições. O auge foi o título na estreia do World Rally Championship, em 1973.

Na sequência vieram os modelos A310 e GTA, este um rompimento com os conceitos anteriores e um flerte com os grand turismo, caracterizados por reunir potência, espaço e luxo. Dotado de um V6 turbo de 200 cv, tinha estilo e velocidade para peitar modelos da Porsche. Mas apenas cerca de 7.000 unidades foram vendidas. O A610, lançado em 1990, foi o último Alpine, que encerrou as atividades em 1995.

Em novembro de 2012 foi anunciado oficialmente o retorno da Alpine, consumado em 2017 com um novo A110.

R.S.

Da união entre Alpine e Gordini nasce a Renault Sport, que vira tanto o braço de competições da fabricante quanto sua divisão de carros esportivos – alguns lendários, como 5 Turbo, Clio V6 e Mégane R.S. Trophy.

Durante o Salão de Genebra de 1994, a Renault apresentou o Sport Spider, concebido tanto para as pistas quanto para ser usado em estradas. O motor 2.0 de 150 cv não tinha muito trabalho, pois até de para-brisa o esportivo de dois lugares abria mão em prol da redução de peso.

Raro é encontrar um, pois apenas 1.632 exemplares foram construídos.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Fonte: https://www.uol.com.br/carros/colunas/mora-nos-classicos/2020/10/28/alpine-gordini-e-rs-quem-e-quem-na-hierarquia-esportiva-da-renault.htm