A única pesquisa eleitoral que nunca erra

João Branco

João Branco tem mais 20 anos de experiência em grandes marcas e trabalha desde 2014 no McDonald’s, onde é o Diretor de Marketing e lidera o talentoso time que está batendo todos os recordes de vendas da história do Big Mac. João estudou em algumas das melhores universidades do mundo mas aprendeu no “Méqui” o que nenhuma aula teórica foi capaz de ensinar: que o resultado sempre vem quando o consumidor ama muito tudo isso.

Colunista do UOL

02/12/2020 04h00

Em todas as eleições acontece a mesma coisa: alguma pesquisa de intenção de voto erra feio nas previsões e todo mundo detona os números. Está aí uma coisa que a pandemia não mudou. E você, acredita nessas pesquisas?

Sempre que esse assunto surge, escuto argumentos do tipo: “eu não conheço ninguém que foi entrevistado”, “eu fiz uma enquete com os meus seguidores e o resultado foi totalmente diferente”, “isso é tudo manipulação”, entre outras teorias de conspiração.

Entendo quem fica desconfiado, porque há muitos interesses econômicos envolvidos. Mas vamos fazer um paralelo e imaginar o “mercado” da previsão do tempo. O que aconteceria com um instituto especializado que vive de vender projeções do clima, se chovesse todo dia em que eles dissessem que o sol iria brilhar forte? Mesmo que a maior fabricante de protetores solares e a maior vendedora de sorvetes se unissem para manipular as previsões e te passar sempre uma expectativa de sol para venderem mais, será que essa estratégia funcionaria por muito tempo?

Já deu para perceber que estou trabalhando com a hipótese de que grandes empresas de pesquisa não devem colocar sua credibilidade em jogo. Mas então, como acontecem erros tão drásticos?

Em Marketing trabalhamos muito com isso e o que vejo é que esses estudos são apenas uma foto. De uma amostra. De um momento. Tirada de um ângulo que reflete as perguntas que foram feitas aos entrevistados.

Uma coisa é eu te perguntar quem você ama, outra coisa é perguntar quem você “odeia menos”, por exemplo. E se eu quiser descobrir quem é o melhor pai do mundo e fizer entrevistas apenas na minha casa, adivinha quem vai ganhar?

Nunca mais esqueci a minha primeira aula sobre esse assunto. O querido professor nos perguntou: por que com apenas uma gotinha já conseguimos saber como estão os 8 litros de sangue no seu corpo, mas é preciso consultar milhares de pessoas para ter uma pesquisa nas eleições? Simples: porque o sangue é todo muito parecido, enquanto os 200 milhões de brasileiros pensam diferente. E mudam de opinião a cada instante. E ainda faltam no dia da eleição. E respondem coisas diferentes, dependendo da forma como forem perguntados.

Essa polêmica passa por entender os modelos matemáticos e entrar em uma discussão que deixa a maioria das pessoas com a cara do meme da Nazaré. O fato é que as pesquisas também acertam muito, mas lembramos mais dos seus erros. E isso acontece justamente porque damos crédito a elas e nos surpreendemos negativamente quando falham.

Mas a pesquisa que eu mais acredito é aquela que a gente faz com a nossa própria consciência. Essa sim deveria ser a que usamos para escolher em quem votar, pois ela nunca erra. Nesse caso não há dúvidas sobre a amostra, modelo estatístico, desvio padrão ou técnicas utilizadas. Faça um questionário franco consigo mesmo e tome sua decisão, independente do que dizem por aí.

A eleição de 2022 promete ser disputada, ao menos é o que as pesquisas indicam. Será que a gente vai acreditar dessa vez?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Fonte: https://economia.uol.com.br/colunas/joao-branco/2020/12/02/eleicoes-eleicao-pesquisa-eleitoral-estudo-marketing-candidato.htm