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8 a 2 do River Plate no agregado sobre Nacional não deve assustar Palmeiras
André Rocha
André Rocha é jornalista, carioca e colunista do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros “1981” e “É Tetra”. Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Contato: [email protected]
O River Plate tem o trabalho mais consolidado da América do Sul com Marcelo Galhardo. Campeão da Sul-Americana em 2014, da Libertadores no ano seguinte. Semifinalista em 2017, campeão em 2018 e vice no ano passado. Perdendo a final única nos últimos minutos. Também deixou escapar o inédito título argentino com Galhardo para o rival Boca Juniors na última rodada.
Oscilações que não afetam o prestígio do treinador ídolo, ex-craque do clube. Também porque o time se reinventa e mantém o nível alto de competição, principalmente em mata-mata. Nas quartas de final, impôs com autoridade um placar agregado histórico de 8 a 2 sobre o tradicional e tricampeão Nacional.
É preciso, porém, contextualizar o que aconteceu no Parque Central, em Montevidéu. A expulsão do goleiro Sergio Rochet com 18 minutos de jogo e a saída de Trezza, ala pela direita do 3-4-3 armado pelo treinador Jorge Giordano, deu ao River a vantagem numérica que um time entrosado e maduro sabe explorar bem e entregou o lado direito da defesa ao setor mais forte do time argentino.
Por ali, Angileri, De La Cruz e Carrascal, meia colombiano de 22 anos que substitui Ignácio Fernández, deitaram e rolaram. Belos gols dos dois últimos em chutes no ângulo esquerdo do goleiro Mejia. Construindo os 2 a 0 que, pelo gol “qualificado” depois de fazer o mesmo placar na ida em Buenos Aires, praticamente definiram a classificação e transformaram o resto da partida em um treinamento. Sem a costumeira violência uruguaia quando o jogo já está perdido. Talvez a falta de torcida tenha colaborado para que o Nacional jogasse o tempo todo sem apelar.
Pelo contrário, atacaram o tempo todo se arriscando inicialmente num 3-3-3 que diminuiu o prejuízo no final do primeiro tempo com o ala esquerdo Ayrton Cougo e, no segundo tempo, Santiago Rodríguez ainda marcaria um belo gol. Mas não havia como segurar a equipe de Galhardo tocando a bola com rapidez e qualidade, invertendo o jogo e bem organizado em campo, alternando o 4-1-3-2 habitual com um 4-2-3-1.
Com Bruno Zuculini ora segundo volante auxiliando o veterano Ponzio, ora se juntando ao quarteto ofensivo e marcando o terceiro gol. A prévia para Santiago Borré marcar mais três e chegar a seis na competição. Com absoluta naturalidade, aproveitando as circunstâncias favoráveis, o que também é mérito. Carrascal, colombiano de 22 anos, é mais um achado de Galhardo.
Mas não deve assustar o Palmeiras. Especialmente com a volta da semifinal na grama sintética do Allianz Parque. Angileri é bom no apoio, mas defensivamente frágil, especialmente no confronto direto com o atacante. Gabriel Verón pode se criar para cima dele. A zaga formada por Paulo Díaz e Robert Rojas não é alta e hesita no jogo aéreo. Rony não é um centroavante, mas nas bolas paradas o time brasileiro deve incomodar.
Além disso, a transição defensiva do time argentino, quando o perde-pressiona é superado pelo oponente, muitas vezes pega o time espaçado e exposto. É o “cobertor curto” de uma proposta ofensiva, por mais que o modelo de jogo esteja assimilado.
No ataque, Matías Suárez, que na maior parte do tempo ocupa o lado direito, como segundo atacante ou um típico ponta, deixa a desejar no acabamento das jogadas. A dupla com Borré, em jogos mais parelhos, muitas vezes peca pela falta de contundência. O prodígio Julián Álvarez, de 20 anos, tem mais chances de colaborar para tornar o ataque mais eficiente que Lucas Pratto, nitidamente fora de forma.
Os jogos no início de 2021 prometem. E o Palmeiras tem a boa notícia da parada do Brasileiro na virada do ano para se concentrar na Copa do Brasil e neste duelo gigante pelo torneio sul-americano. Tempo para recuperar lesionados e, principalmente, treinar, até porque depois serão jogos seguidos para caber no calendário e o elenco novamente será posto à prova.
Na Libertadores, o confronto entre um trabalho de seis anos e de Abel Ferreira que fará dois meses em janeiro. Mas é possível equilibrar forças no mata-mata. O Athletico provou isso nas oitavas, dificultando a vida dos “Millonarios”. Dá jogo na semifinal!
Fonte: https://www.uol.com.br/esporte/colunas/andre-rocha/2020/12/18/8-a-2-do-river-plate-no-agregado-sobre-nacional-nao-deve-assustar-palmeiras.htm