10 carros subestimados: eles eram bons e ninguém quis

Sabe quando você conhece aquela pessoa e teu santo não bate com o dela? Não importa se seja a reencarnação da Madre Teresa de Calcutá, tudo que ela fizer você vai criticar e ter um pé atrás. Confessa aí: tem um monte de carro pelo qual você nutre o mesmo sentimento.

São aqueles veículos contestados desde o nascimento, criticados à exaustão e, muitas vezes, odiados. Automóveis que podem (e têm) até ter suas virtudes, mas nos quais, dificilmente, eu, você e muitas outras pessoas investiriam as preciosas economias. Confira os 10 carros subestimados que dificilmente teríamos na garagem.

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Fiat Marea

fiat marea

Talvez o carro que mais sofreu bullying ao longo da história. O que tem de meme e piada sobre o Marea não caberia neste texto. Chamado de “bomba” invariavelmente, o sedã e sua station-wagon Weekend beberam da gasolina que o Diabo refinou. Curiosamente, foi o combustível brasileiro e a própria Fiat daqui que ajudaram o médio a ser um dos carros subestimados.

A má fama do Marea começou pela linha de motores Fivetech, aquela de cinco cilindros, 20 válvulas, 2,0 litros aspirado (142 cv) ou turbinado (182 cv). O motor era bem moderno, mas, para cá, padeceu em falhas de tropicalização.

Não foram feitos ajustes adequados para que o motor recebesse nossa gasolina com 22% de etanol (nos anos 1990/2000). Para piorar, a Fiat manteve os prazos para troca de lubrificante a cada 20 mil km, como na Europa.

Os casos de cabeçotes fundidos no motor começaram a pipocar, principalmente pela degradação do lubrificante e a formação de borra. Para muitos engenheiros, o Marea deveria ter intervalos de troca de óleo a cada 10 mil km.

Some-se a isso que o próprio motor e o sedã tinham um plano de revisões caro. O motor, como dito, era moderno e demandava mão de obra qualificada. A própria mecânica era complexa: era preciso ferramental específico para uma simples troca de correia dentada, por exemplo, sob o risco de danificar o sensor de fase.

Desta forma, muitos clientes deixaram de fazer as revisões regulares nas concessionárias da marca. Sem a manutenção correta e sem mão de obra especializada, aí que o Marea virava uma bomba mesmo.

Só que o Marea era um carro confortável e dinamicamente bastante interessante – ainda mais para os padrões da Fiat à época. O desempenho das variantes com motor turbo era muito divertido, e mesmo com as opções 2.4 e 1.8 o carro não deixava a desejar. Porém, a fama na oficina maculou a reputação da linha.

Peugeot 208

208 1

O compacto é um dos carros subestimados no nosso país, talvez culpa da própria marca e de seu posicionamento. A Peugeot não soube surfar na onda do sucesso do 206 e lançou um 207 à brasileira, com casca do novo hatch europeu e base da velha geração.

O carro ficou longe do sucesso do antecessor e ainda deu crias ruins de venda (SW, Escapade, Passion e Hoggar). Para completar, a rede tinha fama de serviços ruins e preços caros na manutenção, o que se refletiu na desvalorização e baixa liquidez da linha entre os seminovos.

Isso gerou um ranço no mercado brasileiro que grudou no 208, injustamente. A nova geração de compactos da Peugeot adotou uma arquitetura moderna e um comportamento dinâmico bem mais apurado que no 206 e no “206 e meio”. Fora o acabamento caprichado e a pegada boa de direção, com volante com base reta, painel i-Cockpit todo ousado e posição baixa de conduzir.

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De nada adiantou. Lançado em 2013, o 208 carregou todos os estigmas do passado, nunca empolgou nas vendas e, apesar do design bacana, jamais foi realmente desejado. Para piorar, a segunda geração do compacto sofre do mesmo mal. E olha que o modelo que estreou no ano passado tem um dos designs mais bonitos do mundo.

Nissan Sentra

É dura a vida de um japonês que tenta a sorte em um segmento onde a supremacia Toyota e Honda parece inabalável. Mesmo com um automóvel bom e confortável, a Nissan não conseguiu alavancar o Sentra à posição que merecia e o sedã médio se tornou um dos muitos carros subestimados do mercado.

Não que o Sentra fosse capaz de desbancar a liderança do Corolla ou incomodar o segundo lugar do Civic. Mas poderia ter vendido mais pela sua dirigibilidade apurada. Importado do México, se destacava pelo bom espaço interno, isolamento acústico eficiente e bancos extremamente confortáveis.

O problema é que o design sempre foi pacato demais, mesmo para os padrões da categoria de sedãs médios. Para completar, o câmbio automático CVT cadenciava o motor 2.0 16V, que já não era nenhuma referência de esportividade.

Torcem tanto o nariz para o modelo que a Nissan ainda estuda como (e se vai) trazer a terceira geração para cá – esta foi lançada no México em 2019.

Chevrolet Sonic

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Em 2012 a General Motors apostou no Sonic para ser uma opção do fabricante no tal segmento de compactos premium. Mas foi mais um dos carros subestimados, tanto por questões de posicionamento como pelo pós-venda.

O Sonic começou importado da Coreia do Sul nas versões hatch e sedã, e pretendia brigar naquela seara de Honda Fit, Volkswagen Polo e Ford New Fiesta. O problema começou pelo preço e a competição dentro da própria linha. Era mais apertado que modelos como o Cobalt e tinha acabamento ruim.

Logo as primeiras revisões do carro revelaram um modelo com peças caras e manutenção salgada – ainda mais se comparado a outros carros da própria GM. Em 2013, a gama começou a ser trazida do México com mais equipamentos, mas não foi o suficiente para acabar com as desconfianças do mercado em relação ao modelo.

Uma pena porque o Sonic foi um carro bem gostoso de dirigir. O motor 1.6 16V de 120/115 cv era mais moderno do que os que a GM oferecia na época, o câmbio automático chamava a atenção pela agilidade e a estabilidade era um dos destaques. Mesmo assim, foi bastante criticado e deixou de ser vendido em 2014.

Kia Picanto

kia picanto 2007

O carrinho da marca sul-coreana sempre foi detonado pelo design controverso e pelo nome pouco aconselhável para o nosso mercado – podia se chamar Morning, como em outros países sul-americanos. Por um bom tempo também foi questionado pelo preço para o tamanho que oferecia.

Até vendeu bem em alguns períodos, mas para muitos era um modelo que aparentava fragilidade em excesso. A legião de críticos ganhou força no pós-venda. O Picanto tinha peças caras e que demoravam a chegar, revisões longe de serem baratas para a média do segmento de compactos e ainda tinha um seguro bastante salgado.

Uma segunda geração apareceu aqui em 2011 sem aquela cara de coelhinho assustado que o antecessor tinha. E ainda trouxe o moderno 1.0 motor três-cilindros da Hyundai – que estreou logo depois no HB20 -, bem mais eficiente e esperto.

Nada disso foi capaz de convencer o público. O Picanto continuou caro (custava o mesmo que Gol e Onix, mais espaçosos, por exemplo) e seu posicionamento foi ainda mais comprometido com o Inovar Auto – que sobretaxava modelos de marcas que não tinham desenvolvimento local. Em 2018, a Kia parou de vender o carro aqui.

Renault Fluence

novo renault fluence privilege

A marca francesa já não tinha dado muita sorte no segmento de sedãs médios com o Mégane lançado em 2006. O carro era ótimo, contudo vendeu pouco e apesar do sucesso tardio (e para taxistas e vendas diretas) da variante perua Grand Tour, deixou uma má fama de automóvel desvalorizado e de mecânica complexa.

O Fluence tentou mudar essa percepção principalmente pelo custo-benefício. Projeto da Samsung Motors (divisão coreana da Renault), foi produzido em Córdoba (Argentina) e lançado no Brasil em 2010 com preços bem abaixo da dupla Corolla-Civic e com alguns equipamentos a mais.

Curiosamente, era um carro bem confortável de dirigir. Tinha rodar suave, boa ergonomia, acabamento interessante e bom isolamento acústico. Motorista e passageiro também desfrutavam de bom espaço.

O carro, contudo, esbarrou no desenho muito datado e pouco inspirado. O motor 2.0 de até 143 cv não atraiu quem queria um sedã mais esperto – ainda tinha o 1.6 voltado só para táxis e frotistas.

Queixas de estalos nas soldas a cada curva e a sensação de aperto no banco traseiro devido ao teto baixo afastou ainda mais potenciais clientes. Seu fim de linha foi em 2018.

Toyota Etios

toyota etios 2021

Esse carro nasceu criticado até o mais simples parafuso. Pelo desenho, o Etios já despertou a fúria de muitos, especialmente dos Toyoteiros. Harmonia nas linhas estava longe de ser uma das virtudes do modelo, tanto hatch como sedã, quando chegou, em 2013.

Mas houve mais problemas que o tornaram um dos carros subestimados. O acabamento era ruim demais, com peças mal encaixadas e que aparentavam qualidade bem inferior. Muitas partes metálicas vinham sem pintura e o revestimento do porta-malas era de causar vergonha até a quem um diz fez voto de pobreza.

As “soluções” da linha Etios despertavam mais ódio. O quadro de instrumentos central, além do design dotado, era ruim de visualizar – especialmente o marcador de combustível. Pior era o macaco guardado sob o banco traseiro, que fazia você xingar o engenheiro toda a vez que furava um pneu.

Boris comenta sobre o fim do Etios

De qualquer forma, foi a boa mecânica do carro e a reputação sempre positiva da Toyota que fizeram o carro vender bem no início. O modelo tinha desempenho interessante (os motores 1.3 e 1.5 davam conta do baixo peso), bom espaço e manutenção barata, Porém, continuava um automóvel pouco desejado.

A chegada do Yaris em 2018 só evidenciou o Etios como um carro ultrapassado e questionado.

As vendas despencaram e a linha perdeu as versões com motor 1.3 em 2020. Em abril último deixou de ser produzido em Sorocaba (SP).

Citroën C4 Lounge

novo citroen c4 lounge 08

A Citroën já foi vista como uma marca mais requintada dentro do país. Muito graças a modelos bem acabados como as linhas C3 e C4 do início do século. Só que a reputação destes modelos afetou diretamente este sedã médio nos anos 2010.

Antes de mais nada, é bom explicar que o C4 Lounge reuniu o que se espera de um sedã médio. Confortável ao extremo, acabamento caprichado, bom espaço a bordo e quase nenhum ruído na cabine. O desempenho era garantido pelo interessante 1.6 turbo THP, enquanto o 2,0 aspirado flex não comprometia.

Mas o antecessor do Lounge meio que fez a fama – também injustamente. O C4 Pallas da década de 2000 era muito espaçoso, porém tinha comportamento meio banheirão que suscitou críticas. Os preços caros das revisões também caíram no boca-a-boca e logo o carro desvalorizou entre os seminovos.

O C4 Lounge herdou todas essas desconfianças. Importado da Argentina, ainda era acusado de ser um projeto chinês. Mesmo com preço abaixo de Corolla, Civic e Cruze, jamais conseguiu convencer o mercado e ficou entre os carros subestimados. A importação foi interrompida em 2020.

Volkswagen Up!

vw speed up tsi branco de grente em movimento

O carrinho chegou ao Brasil em 2013 antenado. Era basicamente o mesmo subcompacto que rodava na Europa (com 8 cm a mais) e com base na cultuada plataforma modular da Volkswagen, a MQB. Além disso, o Up! tinha ótimo acerto dinâmico e nota máxima nos testes do Latin NCAP da época.

O conjunto mecânico também mereceu elogios. O carrinho chegou com os motores tricilíndricos da Volks, com direito a uma variante turbo TSI de até 105 cv, que ajudou o subcompacto a figurar como um dos carros mais econômicos do país, segundo os testes do Inmetro.

Nada disso, porém, segurou a saraivada de críticas, especialmente pelo preço. O Up! Sempre custou muito próximo ou a mais que outros compactos do mercado, como Chevrolet Onix, Ford Ka e até o próprio Gol. Isso sendo um subcompacto, ou seja com bem menos espaço e porta-malas que a categoria acima.

Para completar, sua manutenção não seguia os padrões mais em conta da Volkswagen. A revisão, especialmente das variantes TSI, sempre foram caras para a categoria na qual competia. No mesmo ritmo que as críticas cresceram, as vendas desidrataram ao longo dos anos e o carro deixou de ser produzido oficialmente em abril deste ano.

Ford Versailles

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O sedã podia ser considerado o melhor de dois mundos. Em tempos de Autolatina, tinha-se uma base e mecânica da Volkswagen com acabamento e equipamentos do nível da Ford – que, na época, era um dos destaques da marca, ao contrário de hoje. Mas o Versailles só foi mais um dos carros subestimados.

O automóvel já levantava suspeitas porque era um clone do Santana, o irmão gêmeo da Volkswagen que foi lançado antes e era muito mais popular. Além disso, demorou mais um ano após o lançamento, em 1991, para ganhar configuração quatro portas, já demandada dentro deste segmento e indispensável para quem queria fazer bonito nas vendas diretas.

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Se não tinha a fama do Santana, teve os mesmos problemas. Trincas na parede corta-fogo e entre a bateria e o para-brisa eram certos. Infiltrações no porta-malas também eram corriqueiras entre as reclamações de donos do sedã.

Tudo isso manchou a fama do Versailles. Apesar do bom desempenho dos motores AP 1.8 e 2.0, da cabine confortável e da versão mais sofisticada Ghia, o sedã nunca inspirou confiança. E sua versão station wagon Royale menos ainda.

Fonte: https://autopapo.uol.com.br/noticia/10-carros-subestimados-eles-eram-bons-e-ninguem-quis/